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A IGREJA É CATÓLICA

QUE QUER DIZER «CATÓLICA»?
830. A palavra «católico» significa «universal» no sentido de «segundo a
totalidade» ou «segundo a integridade». A Igreja é católica num duplo sentido:
É católica porque Cristo está presente nela: «onde está Jesus Cristo, aí está a
Igreja Católica» (312). Nela subsiste a plenitude do Corpo de Cristo unido à sua
Cabeça (313), o que implica que ela receba d'Ele a «plenitude dos meios de
salvação» (314) que Ele quis: confissão de fé recta e completa, vida sacramental
integral e ministério ordenado na sucessão apostólica. Neste sentido fundamental,
a Igreja era católica no dia de Pentecostes (315) e sê-lo-á sempre até ao dia da
Parusia.
831. É católica, porque Cristo a enviou em missão à universalidade do género
humano (316):
«Todos os homens são chamados a fazer parte do povo de Deus. Por isso,
permanecendo uno e único, este povo está destinado a estender-se a todo o
mundo e por todos os séculos, para se cumprir o desígnio da vontade de Deus que,
no princípio, criou a natureza humana na unidade e decidiu enfim reunir na
unidade os seus filhos dispersos [...]. Este carácter de universalidade que adorna o
povo de Deus é dom do próprio Senhor. Graças a tal dom, a Igreja Católica tende a
recapitular, eficaz e perpetuamente, a humanidade inteira, com todos os bens que
ela contém, sob Cristo Cabeça, na unidade do Seu Espírito (317).
CADA UMA DAS IGREJAS PARTICULARES É «CATÓLICA»
832. «A Igreja de Cristo está verdadeiramente presente em todas as legítimas
comunidades locais de fiéis que, unidas aos seus pastores, recebem, também elas,
no Novo Testamento, o nome de Igrejas [...]. Nelas, os fiéis são reunidos pela
pregação do Evangelho de Cristo e é celebrado o mistério da Ceia do Senhor [...].
Nestas comunidades, ainda que muitas vezes pequenas e pobres ou dispersas, está
presente Cristo, por cujo poder se constitui a Igreja una, santa, católica e
apostólica» (318).
833. Entende-se por Igreja particular, que é em primeiro lugar a diocese (ou
«eparquia»), uma comunidade de fiéis cristãos em comunhão de fé e de
sacramentos com o seu bispo, ordenado na sucessão apostólica (319). Estas Igrejas
particulares «são formadas à imagem da Igreja universal; é nelas e a partir delas
que existe a Igreja Católica una e única» (320).
834. As Igrejas particulares são plenamente católicas pela comunhão com uma de
entre elas: a Igreja Romana, «que preside à caridade» (321). «Com esta Igreja,
mais excelente por causa da sua origem, deve necessariamente estar de acordo
toda a Igreja, isto é, os fiéis de toda a parte» (322). «Desde que o Verbo
Encarnado desceu até nós, todas as Igrejas cristãs de todo o mundo tiveram e têm
a grande Igreja que vive aqui (em Roma)como única base e fundamento, porque,
segundo as próprias promessas do Salvador, as portas do inferno nunca
prevalecerão sobre ela» (323).
835. «A Igreja universal não deve ser entendida como simples somatório ou, por
assim dizer, federação de Igrejas particulares [...]. Mas é antes a Igreja, universal
por vocação e missão, que lançando raiz numa variedade de terrenos culturais,
sociais e humanos, toma em cada parte do mundo aspectos e formas de expressão
diversos» (324). A rica variedade de normas disciplinares, ritos litúrgicos,
patrimónios teológicos e espirituais, próprios das Igrejas locais, «mostra da forma
mais evidente, pela sua convergência na unidade, a catolicidade da Igreja
indivisa» (325).
QUEM PERTENCE À IGREJA CATÓLICA?
836. «Todos os homens são chamados [...] à unidade católica do povo de Deus; de
vários modos a ela pertencem, ou para ela estão ordenados, tanto os fiéis
católicos como os outros que também acreditam em Cristo e, finalmente, todos os
homens sem excepção, que a graça de Deus chama à salvação» (326):
837. «Estão plenamente incorporados na sociedade que é a Igreja aqueles que,
tendo o Espírito de Cristo, aceitam toda a sua organização e todos os meios de
salvação nela instituídos, e que, além disso, pelos laços da profissão de fé, dos
sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão, estão unidos no todo visível
da Igreja, com Cristo que a dirige por meio do Sumo Pontífice e dos bispos. Mas a
incorporação não garante a salvação àquele que, por não perseverar na caridade,
está no seio da Igreja «de corpo» mas não «de coração» (327).
838. «Com aqueles que, tendo sido baptizados, têm o belo nome de cristãos,
embora não professem integralmente a fé ou não guardem a unidade de
comunhão com o sucessor de Pedro, a Igreja sabe-se unida por múltiplas razões»
(328). «Aqueles que crêem em Cristo e receberam validamente o Baptismo
encontram-se numa certa comunhão, embora imperfeita, com a Igreja Católica»
(329). Quanto às Igrejas Ortodoxas, esta comunhão é tão profunda «que bem pouco
lhes falta para atingir a plenitude, que permita uma celebração comum da
Eucaristia do Senhor» (330).
A IGREJA E OS NÃO-CRISTÃOS
839. «Aqueles que ainda não receberam o Evangelho estão também, de uma de ou
outra forma, ordenados ao povo de Deus» (331):
A relação da Igreja com o Povo Judaico. A Igreja, povo de Deus na nova Aliança,
ao perscrutar o seu próprio mistério, descobre o laço que a une ao povo judaico
(332), «a quem Deus falou primeiro» (333). Ao invés das outras religiões não
cristãs, a fé judaica é já uma resposta à revelação de Deus na antiga Aliança. É ao
povo judaico que «pertencem a adopção filial, a glória, as alianças, a legislação, o
culto, as promessas [...] e os patriarcas; desse povo Cristo nasceu segundo a carne»
(Rm 9, 4-5); porque «os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis» (Rm 11,
29).
840. Aliás, quando se considera o futuro, o povo de Deus da Antiga Aliança e o
novo povo de Deus tendem para fins análogos: a esperança da vinda (ou do
regresso) do Messias. Mas a esperança é, dum lado, a do regresso do Messias,
morto e ressuscitado, reconhecido como Senhor e Filho de Deus: do outro, a da
vinda no fim dos tempos do Messias, cujos traços permanecem velados –
expectativa acompanhada pelo drama da ignorância ou do falso conhecimento de
Cristo Jesus.
841. Relações da Igreja com os muçulmanos. «O desígnio de salvação envolve
igualmente os que reconhecem o Criador, entre os quais, em primeiro lugar, os
muçulmanos que declarando guardar a fé de Abraão, connosco adoram o Deus
único e misericordioso que há-de julgar os homens no último dia» (334).
842. A ligação da Igreja com as religiões não cristãs é, antes de mais, a da origem
e do fim comuns do género humano:
«De facto, todos os povos formam uma única comunidade; têm uma origem única,
pois Deus fez que toda a raça humana habitasse à superfície da terra; têm também
um único fim último, Deus, cuja providência, testemunhos de bondade e desígnio
de salvação se estendem a todos, até que os eleitos sejam reunidos na cidade
santa» (335).
843. A Igreja reconhece nas outras religiões a busca, «ainda nas sombras e sob
imagens», do Deus desconhecido mas próximo, pois é Ele quem a todos dá vida,
respiração e todas as coisas e quer que todos os homens se salvem. Assim, a Igreja
considera tudo quanto nas outras religiões pode encontrar-se de bom e
verdadeiro, «como uma preparação evangélica e um dom d'Aquele que ilumina
todo o homem, para que, finalmente, tenha a vida» (336).
844. Mas no seu comportamento religioso, os homens revelam também limites e
erros que desfiguram neles a imagem de Deus:
«Muitas vezes, enganados pelo Maligno, transviaram-se nos seus raciocínios,
trocando a verdade de Deus pela mentira. Preferindo o serviço da criatura ao do
Criador, ou vivendo e morrendo sem Deus neste mundo, expuseram-se ao
desespero final» (337).
845. Foi para reunir de novo todos os seus filhos, desorientados e dispersos pelo
pecado, que o Pai quis reunir toda a humanidade na Igreja do seu Filho. A Igreja é
o lugar onde a humanidade deve reencontrar a sua unidade e a salvação. Ela é «o
mundo reconciliado» (338); é a nau que «navega segura neste mundo, ao sopro do
Espírito Santo, sob a vela panda da Cruz do Senhor» (339). Segundo uma outra
imagem, querida aos Padres da Igreja, ela é figurada pela arca de Noé, a única que
salva do dilúvio (340).
«FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO»
846. Como deve entender-se esta afirmação, tantas vezes repetida pelos Padres
da Igreja? Formulada de modo positivo, significa que toda a salvação vem de
Cristo-Cabeça pela Igreja que é o seu Corpo:
O santo Concílio «ensina, apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, que esta
Igreja, peregrina na terra, é necessária à salvação. De facto, só Cristo é mediador
e caminho de salvação. Ora, Ele torna-Se-nos presente no seu Corpo, que é a
Igreja. Ao afirmar-nos expressamente a necessidade da fé e do Baptismo, Cristo
confirma-nos, ao mesmo tempo, a necessidade da própria Igreja, na qual os
homens entram pela porta do Baptismo. É por isso que não se podem salvar
aqueles que, não ignorando que Deus, por Jesus Cristo, fundou a Igreja Católica
como necessária, se recusam a entrar nela ou a nela perseverar» (341).
847. Esta afirmação não visa aqueles que, sem culpa da sua parte, ignoram Cristo
e a sua igreja:
«Com efeito, também podem conseguir a salvação eterna aqueles que, ignorando
sem culpa o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, no entanto procuram Deus com um
coração sincero e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a sua vontade
conhecida através do que a consciência lhes dita» (342).
848. «Muito embora Deus possa, por caminhos só d'Ele conhecidos, trazer à fé,
«sem a qual é impossível agradar a Deus» (343), homens que, sem culpa sua,
ignoram o Evangelho, a Igreja tem o dever e, ao mesmo tempo, o direito sagrado,
de evangelizar» (344) todos os homens.
A MISSÃO – UMA EXIGÊNCIA DA CATOLICIDADE DA IGREJA
849. O mandato missionário. «Enviada por Deus às nações, para ser o sacramento
universal da salvação, a Igreja, em virtude das exigências íntimas da sua própria
catolicidade e em obediência ao mandamento do seu fundador, procura
incansavelmente anunciar o Evangelho a todos os homens» (345). «Ide, pois, fazei
discípulos de todas as nações, baptizando-os em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei. E eis que Eu
estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28, 19-20).
850. A origem e o fim da missão. O mandato missionário do Senhor tem a sua
fonte primeira no amor eterno da Santíssima Trindade: «Por sua natureza, a Igreja
peregrina é missionária, visto ter a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai,
na missão do Filho e do Espírito Santo» (346). E o fim último da missão consiste em
fazer todos os homens participantes na comunhão existente entre o Pai e o Filho,
no Espírito de amor (347).
851. O motivo da missão. É ao amor de Deus por todos os homens que, desde
sempre, a Igreja vai buscar a obrigação e o vigor do seu ardor missionário:
«Porque o amor de Cristo nos impele...» (2 Cor 5, 14) (348). Com efeito, «Deus quer
que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (1
Tm 2, 4). Deus quer a salvação de todos, mediante o conhecimento da verdade. A
salvação está na verdade. Os que obedecem à moção do Espírito da verdade estão
já no caminho da salvação. Mas a Igreja, à qual a mesma verdade foi confiada,
deve ir ao encontro dos que a procuram para lha levar. É por acreditar no desígnio
universal da salvação que a Igreja deve ser missionária.
852. Os caminhos da missão. «O protagonista de toda a missão eclesial é o Espírito
Santo» (349). É Ele que conduz a Igreja pelos caminhos da missão. E esta «continua
e prolonga, no decorrer da história, a missão do próprio Cristo, que foi enviado
para anunciar a Boa-Nova aos pobres. É, portanto, pelo mesmo caminho seguido
por Cristo que, sob o impulso do Espírito Santo, a Igreja deve seguir, ou seja, pelo
caminho da pobreza, da obediência, do serviço e da imolação de si mesma até à
morte – morte da qual Ele saiu vitorioso pela ressurreição» (350). É assim que «o
sangue dos mártires se torna semente de cristãos» (351).
853. Porém, no seu peregrinar, a Igreja também faz a experiência da «distância
que separa a mensagem de que é portadora, da fraqueza humana daqueles a
quem este Evangelho é confiado» (352). Só avançando pelo caminho «da
penitência e da renovação» (353) e entrando «pela porta estreita da Cruz» (354) é
que o povo de Deus pode expandir o Reino de Cristo (355). Com efeito, «assim
como foi na pobreza e na perseguição que Cristo realizou a redenção, assim
também a Igreja é chamada a seguir pelo mesmo caminho, para comunicar aos
homens os frutos da salvação» (356).
854. Pela sua própria missão, «a Igreja faz a caminhada de toda a humanidade e
partilha a sorte terrena do mundo. Ela é como que o fermento e, por assim dizer, a
alma da sociedade humana, chamada a ser renovada em Cristo e transformada em
família de Deus» (357). O esforço missionário exige, portanto, paciência. Começa
pelo anúncio do Evangelho aos povos e grupos que ainda não acreditam em Cristo
(358); prossegue no estabelecimento de comunidades cristãs, que sejam «sinais da
presença de Deus no mundo» (359) e na fundação de Igrejas locais
(360); compromete-se num processo de inculturação, para incarnar o Evangelho
nas culturas dos povos (361); e também não deixará de conhecer alguns fracassos.
«Pelo que diz respeito aos homens, aos grupos humanos e aos povos, a Igreja só a
pouco e pouco os atinge e penetra, assim os assumindo na plenitude católica»
(362).
855. A missão da Igreja requer um esforço em ordem à unidade dos
cristãos (363). «De facto, as divisões entre cristãos impedem a Igreja de realizar a
plenitude da catolicidade que lhe é própria, naqueles seus filhos que, sem dúvida,
lhe pertencem pelo Baptismo, mas que se encontram separados da plenitude da
comunhão com ela. Mais ainda: para a própria Igreja, torna-se mais difícil exprimir,
sob todos os seus aspectos, a plenitude da catolicidade na própria realidade da sua
vida» (364).
856. A tarefa missionária implica um diálogo respeitoso com aqueles que ainda
não aceitam o Evangelho (365). Os crentes podem tirar proveito para si mesmos
deste diálogo, aprendendo a conhecer melhor «tudo quanto de verdade e graça se
encontrava já entre os povos, como que por uma secreta presença de Deus» (366).
Se anunciam a Boa-Nova aos que a ignoram, é para consolidar, completar e elevar
a verdade e o bem que Deus espalhou entre os homens e os povos, e para os
purificar do erro e do mal, «para glória de Deus, confusão do demónio e felicidade
do homem» (367).

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