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MORRER EM CRISTO JESUS

1005. Para ressuscitar com Cristo, temos de morrer com Cristo, temos «de nos
exilar do corpo para habitarmos junto do Senhor» (2 Cor 5, 8). Nesta «partida»
(580) que é a morte, a alma é separada do corpo. Voltará a juntar-se-lhe no dia da
ressurreição dos mortos (581).
A MORTE
1006. «É em face da morte que o enigma da condição humana mais se adensa»
(582). Num certo sentido, a morte do corpo é natural: mas sabemos pela fé que a
morte é, de facto, «salário do pecado» (Rm 6, 23) (583). E para aqueles que
morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte do Senhor, a fim de
poder participar na sua ressurreição (584).
1007. A morte é o termo da vida terrena. As nossas vidas são medidas pelo tempo
no decurso do qual nós mudamos e envelhecemos. E como acontece com todos os
seres vivos da terra, a morte surge como o fim normal da vida. Este aspecto da
morte confere uma urgência às nossas vidas: a lembrança da nossa condição de
mortais também serve para nos lembrar de que temos um tempo limitado para
realizar a nossa vida:
«Lembra-te do teu Criador nos dias da mocidade [...], antes que o pó regresse à
terra, donde veio, e o espírito volte para Deus que o concedeu» (Ecl 12, 1.7).
1008. A morte é consequência do pecado. Intérprete autêntico das afirmações da
Sagrada Escritura (585) e da Tradição, o Magistério da Igreja ensina que a morte
entrou no mundo por causa do pecado do homem (586). Embora o homem
possuísse uma natureza mortal. Deus destinava-o a não morrer. A morte foi,
portanto, contrária aos desígnios de Deus Criador e entrou no mundo como
consequência do pecado (587). «A morte corporal, de que o homem estaria isento
se não tivesse pecado» (588), é, pois, «o último inimigo» (1 Cor 15, 26) do homem a
ter de ser vencido.
1009. A morte é transformada por Cristo. Jesus, Filho de Deus, também sofreu a
morte, própria da condição humana. Mas apesar da repugnância que sentiu
perante ela (589), assumiu-a num acto de submissão total e livre à vontade do Pai.
A obediência de Jesus transformou em bênção a maldição da morte (590).
O SENTIDO DA MORTE CRISTÃ
1010. Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. «Para mim, viver é
Cristo e morrer é lucro» (Fl 1, 21). «É digna de fé esta palavra: se tivermos
morrido com Cristo, também com Ele viveremos» (2 Tm 2, 11). A novidade
essencial da morte cristã está nisto: pelo Baptismo, o cristão já «morreu com
Cristo» sacramentalmente para viver uma vida nova; se morremos na graça de
Cristo, a morte física consuma este «morrer com Cristo» e completa assim a nossa
incorporação n'Ele, no seu acto redentor:
«É bom para mim morrer em (eis) Cristo Jesus, mais do que reinar dum extremo ao
outro da terra. É a Ele que eu procuro, Ele que morreu por nós: é a Ele que eu
quero, Ele que ressuscitou para nós. Estou prestes a nascer [...]. Deixai-me receber
a luz pura: quando lá tiver chegado, serei um homem» (591).
1011. Na morte, Deus chama o homem a Si. É por isso que o cristão pode
experimentar, em relação à morte, um desejo semelhante ao de S. Paulo:
«Desejaria partir e estar com Cristo»(Fl 1, 23). E pode transformar a sua própria
morte num acto de obediência e amor para com o Pai, a exemplo de Cristo (592):
«O meu desejo terreno foi crucificado: [...] há em mim uma água viva que dentro
de mim murmura e diz: "Vem para o Pai"» (593).
«Ansiosa por ver-te, desejo morrer» (594).
«Eu não morro, entro na vida» (595).
1012. A visão cristã da morte (596) é expressa de modo privilegiado na liturgia da
Igreja:
«Para os que crêem em Vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma: e,
desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação
eterna» (597).
1013. A morte é o fim da peregrinação terrena do homem, do tempo de graça e
misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrena segundo o
plano divino e para decidir o seu destino último. Quando acabar «a nossa vida
sobre a terra, que é só uma» (598), não voltaremos a outras vidas terrenas. «Os
homens morrem uma só vez» (Heb 9, 27). Não existe «reencarnação» depois da
morte.
1014. A Igreja exorta-nos a prepararmo-nos para a hora da nossa morte («Duma
morte repentina e imprevista, livrai-nos, Senhor»: antiga Ladainha dos Santos), a
pedirmos à Mãe de Deus que rogue por nós «na hora da nossa morte» (Oração da
Ave-Maria) e a confiarmo-nos a S. José, padroeiro da boa morte:
«Em todos os teus actos em todos os teus pensamentos, havias de te comportar
como se devesses morrer hoje. Se tivesses boa consciência, não terias grande
receio da morte. Mais vale acautelares-te do pecado do que fugir da morte. Se
hoje não estás preparado, como o estarás amanhã?» (599).
«Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã a morte corporal, à qual nenhum
homem vivo pode escapar. Ai daqueles que morrem em pecado mortal: Bemaventurados
os que ela encontrar a cumprir as tuas santíssimas vontades, porque
a segunda morte não lhes fará mal» (600).
Resumindo:
1015. «Caro salutis est cardo – A carne é o fulcro da salvação» (601). Nós cremos
em Deus, que é o Criador da carne; cremos no Verbo que Se fez carne para remir a
carne; cremos na ressurreição da carne, acabamento da criação e da redenção da
carne.
1016. Pela morte, a alma é separada do corpo; mas, na ressurreição, Deus
restituirá a vida incorruptível ao nosso corpo transformado, reunindo-o à nossa
alma. Tal como Cristo ressuscitou e vive para sempre, todos nós ressuscitaremos
no último dia.
1017. «Nós cremos na verdadeira ressurreição desta carne que possuímos
agora» (602). No entanto, semeia-se no túmulo um corpo corruptível e ressuscita
um corpo incorruptível (603)um «corpo espiritual» (1 Cor 15, 44).
1018. Em consequência do pecado original, o homem deve sofrer a morte corporal,
«de que estaria isento, se não tivesse pecado» (604).
1019. Jesus, Filho de Deus, sofreu livremente a morte por nós, numa submissão
total e livre à vontade de Deus seu Pai. Pela sua morte, Ele venceu a morte,
abrindo assim a todos os homens a possibilidade da salvação.

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