1322. A sagrada Eucaristia completa a iniciação cristã. Aqueles que foram
elevados à dignidade do sacerdócio real pelo Baptismo e configurados mais
profundamente com Cristo pela Confirmação, esses, por meio da Eucaristia,
participam, com toda a comunidade, no próprio sacrifício do Senhor.
1323. «O nosso Salvador instituiu na última ceia, na noite em que foi entregue, o
sacrifício eucarístico do seu corpo e sangue, para perpetuar pelo decorrer dos
séculos, até voltar, o sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o
memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade,
vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de
graça e nos é dado o penhor da glória futura» (145).
I. A Eucaristia – fonte e cume da vida eclesial
1324. A Eucaristia é «fonte e cume de toda a vida cristã» (146). «Os restantes
sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado,
estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na
santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o
próprio Cristo, nossa Páscoa» (147).
1325. «A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a
Igreja é o que é, são significados e realizados pela Eucaristia. Nela se encontra o
cume, ao mesmo tempo, da acção pela qual Deus, em Cristo, santifica o mundo, e
do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por Ele, ao Pai»
(148).
1326. Enfim, pela celebração eucarística, unimo-nos desde já à Liturgia do céu e
antecipamos a vida eterna, quando «Deus for tudo em todos» (1 Cor 15, 18 ).
1327. Em síntese, a Eucaristia é o resumo e a súmula da nossa fé: «A nossa
maneira de pensar está de acordo com a Eucaristia: e, por sua vez, a Eucaristia
confirma a nossa maneira de pensar» (149).
II. Como se chama este sacramento?
1328. A riqueza inesgotável deste sacramento exprime-se nos diferentes nomes
que lhe são dados. Cada um destes nomes evoca alguns dos seus aspectos. Chamase:
Eucaristia, porque é acção de graças a Deus. As palavras« eucharistein» (Lc 22,
19; 1 Cor 11, 24) e «eulogein» (Mt 26, 26; Mc 14, 22) lembram as bênçãos judaicas
que proclamam – sobretudo durante a refeição – as obras de Deus: a criação, a
redenção e a santificação.
1329. Ceia do Senhor (150), porque se trata da ceia que o Senhor comeu com os
discípulos na véspera da sua paixão e da antecipação do banquete nupcial do
Cordeiro (151) na Jerusalém celeste.
Fracção do Pão, porque este rito, próprio da refeição dos judeus, foi utilizado por
Jesus quando abençoava e distribuía o pão como chefe de família (152), sobretudo
aquando da última ceia (153) . É por este gesto que os discípulos O reconhecerão
depois da sua ressurreição (154) e é com esta expressão que os primeiros cristãos
designarão as suas assembleias eucarísticas (155). Querem com isso significar que
todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em comunhão com Ele e
formam um só corpo n'Ele (156).
Assembleia eucarística («sýnaxis»), porque a Eucaristia é celebrada em assembleia
de fiéis, expressão visível da Igreja (157).
1330. Memorial da paixão e ressurreição do Senhor.
Santo Sacrifício, porque actualiza o único sacrifício de Cristo Salvador e inclui a
oferenda da Igreja; ou ainda santo Sacrifício da Missa, «Sacrifício de louvor»
(Heb 13, 15) (158),Sacrifício espiritual (159) Sacrifício puro (160) e santo, pois
completa e ultrapassa todos os sacrifícios da Antiga Aliança.
Santa e divina Liturgia, porque toda a liturgia da Igreja encontra o seu centro e a
sua expressão mais densa na celebração deste sacramento; no mesmo sentido se
lhe chama também celebração dos Santos Mistérios. Fala-se igualmente
do Santíssimo Sacramento, porque é o sacramento dos sacramentos. E, com este
nome, se designam as espécies eucarísticas guardadas no sacrário.
1331. Comunhão, pois é por este sacramento que nos unimos a Cristo, o qual nos
torna participantes do seu corpo e do seu sangue, para formarmos um só corpo
(161); chama-se aindaas coisas santas («tà hágia»; «sancta») (162) – é o sentido
primário da «comunhão dos santos» de que fala o Símbolo dos Apóstolos – , pão
dos anjos, pão do céu, remédio da imortalidade(163), viático...
1332. Santa Missa, porque a liturgia em que se realiza o mistério da salvação
termina com o envio dos fiéis («missio»), para que vão cumprir a vontade de Deus
na sua vida quotidiana.
III. A Eucaristia na economia da salvação
OS SINAIS DO PÃO E DO VINHO
1333. No centro da celebração da Eucaristia temos o pão e o vinho que, pelas
palavras de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o corpo e o
sangue do mesmo Cristo. Fiel à ordem do Senhor, a Igreja continua a fazer, em
memória d'Ele e até à sua vinda gloriosa, o que Ele fez na véspera da sua paixão:
«Tomou o pão...», «Tomou o cálice com vinho...». Tornando-se misteriosamente o
corpo e o sangue de Cristo, os sinais do pão e do vinho continuam a significar
também a bondade da criação. Por isso, no ofertório [apresentação das oferendas],
nós damos graças ao Criador pelo pão e pelo vinho (164), fruto «do trabalho do
homem», mas primeiramente «fruto da terra» e «da videira», dons do Criador. A
Igreja vê no gesto de Melquisedec, rei e sacerdote, que «ofereceu pão e
vinho» (Gn 14, 18), uma prefiguração da sua própria oferenda (165).
1334. Na Antiga Aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as
primícias da terra, em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas também recebem
uma nova significação no contexto do Êxodo: os pães ázimos que Israel come todos
os anos na Páscoa, comemoram a pressa da partida libertadora do Egipto; a
lembrança do maná do deserto recordará sempre a Israel que é do pão da Palavra
de Deus que ele vive (166). Finalmente, o pão de cada dia é o fruto da terra
prometida, penhor da fidelidade de Deus às suas promessas. O «cálice de
bênção» (1 Cor 10, 16), no fim da ceia pascal dos judeus, acrescenta à alegria
festiva do vinho uma dimensão escatológica – a da expectativa messiânica do
restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu a sua Eucaristia dando um sentido
novo e definitivo à bênção do pão e do cálice.
1335. Os milagres da multiplicação dos pães, quando o Senhor disse a bênção,
partiu e distribuiu os pães pelos seus discípulos para alimentar a multidão,
prefiguram a superabundância deste pão único da sua Eucaristia (167). O sinal da
água transformada em vinho em Caná (168) já anuncia a «Hora» da glorificação de
Jesus. E manifesta o cumprimento do banquete das núpcias no Reino do Pai, onde
os fiéis beberão do vinho novo (169) tornado sangue de Cristo.
1336. O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, tal como o anúncio da
paixão os escandalizou: «Estas palavras são insuportáveis! Quem as pode
escutar?» (Jo 6, 60). A Eucaristia e a cruz são pedras de tropeço. É o mesmo
mistério e não cessa de ser ocasião de divisão. «Também vos quereis ir
embora?» (Jo 6, 67): esta pergunta do Senhor ecoa através dos tempos, como
convite do seu amor a descobrir que só Ele tem «palavras de vida eterna» (Jo 6,
68) e que acolher na fé o dom da sua Eucaristia é acolhê-1'O a Ele próprio.
A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA
1337. Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até ao fim. Sabendo que era
chegada a hora de partir deste mundo para regressar ao Pai, no decorrer duma
refeição, lavou-lhes os pés e deu-lhes o mandamento do amor (170). Para lhes
deixar uma garantia deste amor, para jamais se afastar dos seus e para os tornar
participantes da sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memorial da sua morte e
da sua ressurreição, e ordenou aos seus Apóstolos que a celebrassem até ao seu
regresso, «constituindo-os, então, sacerdotes do Novo Testamento» (171).
1338. Os três evangelhos sinópticos e São Paulo transmitiram-nos a narração da
instituição da Eucaristia. Por seu lado, São João refere as palavras de Jesus na
sinagoga de Cafarnaum, palavras que preparam a instituição da Eucaristia: Cristo
designa-se a si próprio como o pão da vida, descido do céu (172).
1339. Jesus escolheu a altura da Páscoa para cumprir o que tinha anunciado em
Cafarnaum: dar aos seus discípulos o seu corpo e o seu sangue:
«Veio o dia dos Ázimos, em que devia imolar-se a Páscoa. [Jesus] enviou então a
Pedro e a João, dizendo: "Ide preparar-nos a Páscoa, para que a possamos comer"
[...]. Partiram pois, [...] e prepararam a Páscoa. Ao chegar a hora, Jesus tomou
lugar à mesa, e os Apóstolos com Ele. Disse-lhes então: "Tenho desejado
ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de padecer. Pois vos digo que
não voltarei a comê-la, até que ela se realize plenamente no Reino de Deus". [...]
Depois, tomou o pão e, dando graças, partiu-o, deu-lho e disse-lhes: "Isto é o Meu
corpo, que vai ser entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim". No fim da
ceia, fez o mesmo com o cálice e disse: "Este cálice é a Nova Aliança no meu
sangue, que vai ser derramado por vós"» (Lc 22, 7-20) (173).
1340. Celebrando a última ceia com os seus Apóstolos, no decorrer do banquete
pascal, Jesus deu o seu sentido definitivo à Páscoa judaica. Com efeito, a passagem
de Jesus para o seu Pai, pela sua morte e ressurreição – a Páscoa nova – é
antecipada na ceia e celebrada na Eucaristia, que dá cumprimento a Páscoa
judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja na glória do Reino.
«FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM»
1341. Ao ordenar que repetissem os seus gestos e palavras, «até que Ele venha»
(1 Cor 11, 26), Jesus não pede somente que se lembrem d'Ele e do que Ele fez. Tem
em vista a celebração litúrgica, pelos apóstolos e seus sucessores, do memorial de
Cristo, da sua vida, morte, ressurreição e da sua intercessão junto do Pai.
1342. Desde o princípio, a Igreja foi fiel à ordem do Senhor. Da Igreja de Jerusalém
está escrito:
«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às
orações. [...] Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma,
e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de
coração» (Act 2, 42.46).
1343. Era sobretudo «no primeiro dia da semana», isto é, no dia de domingo, dia
da ressurreição de Jesus, que os cristãos se reuniam «para partir o pão» (Act 20,
7). Desde esses tempos até aos nossos dias, a celebração da Eucaristia perpetuouse,
de maneira que hoje a encontramos em toda a parte na Igreja com a mesma
estrutura fundamental. Ela continua a ser o centro da vida da Igreja.
1344. Assim, de celebração em celebração, anunciando o mistério pascal de Jesus
«até que Ele venha» (1Cor 11, 26), o Povo de Deus em peregrinação «avança pela
porta estreita da cruz» (174) para o banquete celeste, em que todos os eleitos se
sentarão à mesa do Reino.
IV. A celebração litúrgica da Eucaristia
A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS
1345. Desde o século II, temos o testemunho de São Justino, mártir, sobre as
grandes linhas do desenrolar da celebração eucarística. Permaneceram as mesmas
até aos nossos dias, em todas as grandes famílias litúrgicas. Eis o que ele escreve,
cerca do ano 155, para explicar ao imperador pagão Antonino Pio (138-161) o que
fazem os cristãos:
«No dia que chamam Dia do Sol, realiza-se a reunião num mesmo lugar de todos os
que habitam a cidade ou o campo.
Lêem-se as memórias dos Apóstolos e os escritos dos Profetas, tanto quanto o
tempo o permite.
Quando o leitor acabou, aquele que preside toma a palavra para incitar e exortar
à imitação dessas belas coisas.
Em seguida, levantamo-nos todos juntamente e fazemos orações» (175) «por nós
mesmos [...] e por todos os outros, [...] onde quer que estejam, para que sejamos
encontrados justos por nossa vida e acções, e fiéis aos mandamentos, e assim
obtenhamos a salvação eterna.
Terminadas as orações, damo-nos um ósculo uns aos outros.
Depois, apresenta-se àquele que preside aos irmãos pão e uma taça de água e
vinho misturados.
Ele toma-os e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, pelo nome do Filho e do
Espírito Santo, e dá graças (em grego: eucharistian) longamente, por termos sido
julgados dignos destes dons.
Quando ele termina as orações e acções de graças, todo o povo presente aclama:
Ámen.
[...] Depois de aquele que preside ter feito a acção de graças e de o povo ter
respondido, aqueles a que entre nós chamamos diáconos distribuem a todos os que
estão presentes pão, vinho e água "eucaristizados" e também os levam aos
ausentes» (176).
1346. A liturgia eucarística processa-se em conformidade com uma estrutura
fundamental, que se tem conservado através dos séculos até aos nossos dias.
Desdobra-se em dois grandes momentos, que formam basicamente uma unidade:
– a reunião, a liturgia da Palavra, com as leituras, a homilia e a oração universal;
– a liturgia eucarística, com a apresentação do pão e do vinho, a acção de graças
consecratória e a comunhão.
Liturgia da Palavra e liturgia eucarística constituem juntas "um só e mesmo acto
de culto" (177). Com efeito, a mesa posta para nós na Eucaristia é, ao mesmo
tempo, a da Palavra de Deus e a do corpo do Senhor (178).
1347. Não é esse também o dinamismo da refeição pascal de Jesus Ressuscitado
com os seus discípulos? Enquanto caminhavam, Ele explicava-lhes as Escrituras;
depois, pondo-Se à mesa com eles, «tomou o pão, proferiu a bênção, partiu-o e
deu-lho» (179).
O DESENROLAR DA CELEBRAÇÃO
1348. Todos se reúnem. Os cristãos acorrem a um mesmo lugar para a assembleia
eucarística. A sua cabeça está o próprio Cristo, que é o actor principal da
Eucaristia. Ele é o Sumo-Sacerdote da Nova Aliança. É Ele próprio que preside
invisivelmente a toda a celebração eucarística. E é em representação d'Ele (agindo
«in persona Christi capitis – na pessoa de Cristo-Cabeça»), que o bispo ou o
presbítero preside à assembleia, toma a palavra depois das leituras, recebe as
oferendas e diz a oração eucarística. Todos têm a sua parte activa na celebração,
cada qual a seu modo: os leitores, os que trazem as oferendas, os que distribuem a
comunhão e todo o povo cujo Ámenmanifesta a participação.
1349. A liturgia da Palavra comporta «os escritos dos Profetas», quer dizer, o
Antigo Testamento, e «as Memórias dos Apóstolos» ou seja, as suas epístolas e os
evangelhos. Depois da homilia, que é uma exortação a acolher esta Palavra como
o que ela é na realidade, Palavra de Deus(180), e a pô-la em prática, vêm as
intercessões por todos os homens, segundo a palavra do Apóstolo: «Recomendo,
antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças, por todos
os homens, pelos reis e por todos os que exercem autoridade» (1 Tm 2, 1-2).
1350. A apresentação das oferendas (ofertório): traz-se então para o altar, por
vezes processionalmente, o pão e o vinho que vão ser oferecidos pelo sacerdote
em nome de Cristo no sacrifício eucarístico, no qual se tornarão o seu corpo e o seu
sangue. É precisamente o mesmo gesto que Cristo fez na última ceia, «tomando o
pão e o cálice». «Só a Igreja oferece esta oblação pura ao Criador, oferecendo-Lhe
em acção de graças o que provém da sua criação» (181). A apresentação das
oferendas no altar assume o gesto de Melquisedec e põe os dons do Criador nas
mãos de Cristo. É Ele que, no seu sacrifício, leva à perfeição todas as tentativas
humanas de oferecer sacrifícios.
1351. Desde o princípio, com o pão e o vinho para a Eucaristia, os cristãos trazem
as suas ofertas para a partilha com os necessitados. Este costume, sempre actual,
da colecta (182) inspira-se no exemplo de Cristo, que Se fez pobre para nos
enriquecer (183):
«Os que são ricos e querem, dão, cada um conforme o que a si mesmo se impôs; o
que se recolhe é entregue àquele que preside e ele, por seu turno, presta
assistência aos órfãos, às viúvas, àqueles que a doença ou qualquer outra causa
priva de recursos, aos prisioneiros, aos imigrantes, numa palavra, a todos os que
sofrem necessidade» (184).
1352. A anáfora: Com a oração eucarística, oração de acção de graças e de
consagração, chegamos ao coração e cume da celebração:
no prefácio, a Igreja dá graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas as
suas obras: pela criação, redenção e santificação. Toda a comunidade une, então,
as suas vozes àquele louvor incessante que a Igreja celeste – os anjos e todos os
santos – cantam ao Deus três vezes Santo:
1353. na epiclese, pede ao Pai que envie o seu Espírito Santo (ou o poder da sua
bênção)(185)sobre o pão e o vinho, para que se tornem, pelo seu poder, o corpo e
o sangue de Jesus Cristo, e para que os que participam na Eucaristia sejam um só
corpo e um só espírito. (Algumas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da
anamnese);
na narração da instituição, a força das palavras e da acção de Cristo e o poder do
Espírito Santo tomam sacramentalmente presentes, sob as espécies do pão e do
vinho, o corpo e o sangue do mesmo Cristo, o seu sacrifício oferecido na cruz de
uma vez por todas;
1354. na anamnese que se segue, a Igreja faz memória da paixão, ressurreição e
regresso glorioso de Cristo Jesus: e apresenta ao Pai a oferenda do seu Filho, que
nos reconcilia com Ele:
nas intercessões, a Igreja manifesta que a Eucaristia é celebrada em comunhão
com toda a Igreja do céu e da terra, dos vivos e dos defuntos, e na comunhão com
os pastores da Igreja: o Papa, o bispo da diocese, o seu presbitério e os seus
diáconos, e todos os bispos do mundo inteiro com as suas Igrejas.
1355. Na comunhão, precedida da Oração do Senhor e da fracção do pão, os fiéis
recebem «o pão do céu» e «o cálice da salvação», o corpo e o sangue de Cristo,
que Se entregou «para a vida do mundo» (Jo 6, 51):
Porque este pão e este vinho foram, segundo a expressão antiga, «eucaristizados»
(186), «chamamos a este alimento Eucaristia; e ninguém pode tomar parte nela se
não acreditar na verdade do que entre nós se ensina, se não recebeu o banho para
a remissão dos pecados e o novo nascimento e se não viver segundo os preceitos
de Cristo» (187).
V. O sacrifício sacramental: acção de graças, memorial, presença
1356. Se os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens e sob uma forma que,
na sua substância não mudou através da grande diversidade dos tempos e das
liturgias, é porque sabem que estão ligados pela ordem do Senhor, dada na
véspera da sua paixão: «Fazei isto em memória de Mim» (1 Cor 11, 24-25).
1357. Esta ordem do Senhor, cumprimo-la celebrando o memorial do seu
sacrifício. E fazendo-o, oferecemos ao Pai o que Ele próprio nos deu: os dons da sua
criação, o pão e o vinho, transformados, pelo poder do Espírito Santo e pelas
palavras de Cristo, no corpo e no sangue do mesmo Cristo: assim Cristo torna-se
real e misteriosamente presente.
1358. Temos, pois, de considerar a Eucaristia
– como acção de graças e louvor ao Pai,
– como memorial sacrificial de Cristo e do Seu corpo,
– como presença de Cristo pelo poder da sua Palavra e do seu Espírito.
A ACÇÃO DE GRAÇAS E O LOUVOR AO PAI
1359. A Eucaristia, sacramento da nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é
também um sacrifício de louvor em acção de graças pela obra da criação. No
sacrifício eucarístico, toda a criação, amada por Deus, é apresentada ao Pai,
através da morte e ressurreição de Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o
sacrifício de louvor em acção de graças por tudo o que Deus fez de bom, belo e
justo, na criação e na humanidade.
1360. A Eucaristia é um sacrifício de acção de graças ao Pai, uma bênção pela qual
a Igreja exprime o seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por
tudo o que Ele fez mediante a criação, a redenção e a santificação. Eucaristia
significa, antes de mais, «acção de graças».
1361. A Eucaristia é também o sacrifício de louvor, pelo qual a Igreja canta a
glória de Deus em nome de toda a criação. Este sacrifício de louvor só é possível
através de Cristo: Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão,
de maneira que o sacrifício de louvor ao Pai ë oferecido por Cristo e com Cristo,
para ser aceite em Cristo.
O MEMORIAL SACRIFICIAL DE CRISTO E DO SEU CORPO, A IGREJA
1362. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a actualização e a oferenda
sacramental do seu único sacrifício, na liturgia da Igreja que é o seu corpo. Em
todas as orações eucarísticas encontramos, depois das palavras da instituição, uma
oração chamada anamnese ou memorial.
1363. No sentido que lhe dá a Sagrada Escritura, o memorial não é somente a
lembrança dos acontecimentos do passado, mas a proclamação das maravilhas que
Deus fez pelos homens (188). Na celebração litúrgica destes acontecimentos, eles
tomam-se de certo modo presentes e actuais. É assim que Israel entende a sua
libertação do Egipto: sempre que se celebrar a Páscoa, os acontecimentos do
Êxodo tornam-se presentes à memória dos crentes, para que conformem com eles
a sua vida.
1364. O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja
celebra a Eucaristia, faz memória da Páscoa de Cristo, e esta torna-se presente: o
sacrifício que Cristo ofereceu na cruz uma vez por todas, continua sempre actual
(189): «Todas as vezes que no altar se celebra o sacrifício da cruz, no qual "Cristo,
nossa Páscoa, foi imolado", realiza-se a obra da nossa redenção» (190).
1365. Porque é o memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um
sacrifício. O carácter sacrificial da Eucaristia manifesta-se nas próprias palavras da
instituição: «Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós» e «este cálice é a
Nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós» (Lc 22, 19-20). Na
Eucaristia, Cristo dá aquele mesmo corpo que entregou por nós na cruz, aquele
mesmo sangue que «derramou por muitos em remissão dos pecados» (Mt26, 28).
1366. A Eucaristia é, pois, um sacrifício, porque representa (torna presente) o
sacrifício da cruz, porque é dele o memorial e porque aplica o seu fruto:
Cristo «nosso Deus e Senhor [...], ofereceu-Se a Si mesmo a Deus Pai uma vez por
todas, morrendo como intercessor sobre o altar da cruz, para realizar em favor
deles [homens] uma redenção eterna. No entanto, porque após a sua morte não se
devia extinguir o seu sacerdócio (Heb 7, 24-27), na última ceia, "na noite em que
foi entregue" (1 Cor 11, 13). [...] Ele [quis deixar] à Igreja, sua esposa bem-amada,
um sacrifício visível (como o exige a natureza humana), em que fosse representado
o sacrifício cruento que ia realizar uma vez por todas na cruz, perpetuando a sua
memória até ao fim dos séculos e aplicando a sua eficácia salvífica à remissão dos
pecados que nós cometemos cada dia» (191).
1367. O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: «É
uma só e mesma vítima e Aquele que agora Se oferece pelo ministério dos
sacerdotes é o mesmo que outrora Se ofereceu a Si mesmo na cruz; só a maneira
de oferecer é que é diferente» (192). E porque «neste divino sacrifício, que se
realiza na missa, aquele mesmo Cristo, que a Si mesmo Se ofereceu outrora de
modo cruento sobre o altar da cruz, agora está contido e é imolado de modo
incruento [...], este sacrifício é verdadeiramente propiciatório» (193).
1368. A Eucaristia é igualmente o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de
Cristo, participa na oblação da sua Cabeça. Com Ele, ela própria é oferecida
integralmente. Ela une-se à sua intercessão junto do Pai em favor de todos os
homens. Na Eucaristia, o sacrifício de Cristo torna-se também o sacrifício dos
membros do seu corpo. A vida dos fiéis, o seu louvor, o seu sofrimento, a sua
oração, o seu trabalho unem-se aos de Cristo e à sua oblação total, adquirindo
assim um novo valor. O sacrifício de Cristo presente sobre o altar proporciona a
todas as gerações de cristãos a possibilidade de se unirem à sua oblação.
Nas catacumbas, a Igreja é frequentemente representada como uma mulher em
oração, de braços estendidos em atitude orante. Como Cristo, que estendeu os
braços na cruz, assim, por Ele, com Ele e n'Ele, a Igreja oferece-se e intercede por
todos os homens.
1369. Toda a Igreja está unida à oblação e intercessão de Cristo. Encarregado do
ministério de Pedro na Igreja, o Papa está associado a toda e qualquer celebração
da Eucaristia, na qual é nomeado como sinal e servidor da unidade da Igreja
universal. O bispo do lugar é sempre responsável pela Eucaristia, mesmo quando
presidida por um presbítero; o seu nome é citado nela para significar a sua
presidência da Igreja particular, no meio do presbitério e com a assistência
dosdiáconos. A comunidade intercede também por todos os ministros que, por ela
e com ela, oferecem o sacrifício eucarístico:
«Seja tida como legítima somente aquela Eucaristia que é presidida pelo bispo ou
por quem ele encarregou» (194).
«É pelo ministério dos presbíteros que o sacrifício espiritual dos fiéis se consuma
em união com o sacrifício de Cristo. Mediador único, que é oferecido na Eucaristia
de modo incruento e sacramental, pelas mãos deles, em nome de toda a Igreja,
até quando o mesmo Senhor voltar» (195).
1370. À oblação de Cristo unem-se não só os membros que estão ainda neste
mundo, mas também os que já estão na glória do céu: é em comunhão com a
santíssima Virgem Maria e fazendo memória d'Ela, assim como de todos os santos
e de todas as santas, que a Igreja oferece o sacrifício eucarístico. Na Eucaristia, a
Igreja, com Maria, está como que ao pé da cruz, unida à oblação e à intercessão de
Cristo.
1371. O sacrifício eucarístico é também oferecido pelos fiéis defuntos, «que
morreram em Cristo e não estão ainda de todo purificados» (196), para que
possam entrar na luz e na paz de Cristo:
«Enterrai este corpo não importa onde! Não vos dê isso qualquer cuidado! Tudo o
que vos peço é que vos lembreis de mim diante do altar do Senhor, onde quer que
estejais» (197).
«Depois [na anáfora], nós rezamos pelos santos padres e bispos falecidos, e em
geral por todos aqueles que morreram antes de nós, certos de que isso será de
grande proveito para as almas em favor das quais tal súplica se faz, enquanto está
presente a vítima santa e temível [...]. Apresentando a Deus as nossas súplicas
pelos que morreram, tenham embora sido pecadores, nós [...] apresentamos Cristo
imolado pelos nossos pecados, tornando assim propício, para eles e para nós, o
Deus que é amigo dos homens» (198).
1372. Santo Agostinho resumiu admiravelmente esta doutrina que nos incita a
uma participação cada vez mais perfeita no sacrifício do nosso Redentor que
celebramos na Eucaristia:
«Toda esta cidade resgatada, ou seja, a assembleia e sociedade dos santos, é
oferecida a Deus como um sacrifício universal pelo Sumo-Sacerdote que, sob a
forma de servo, foi ao ponto de Se oferecer por nós na sua paixão, para fazer de
nós corpo duma tal Cabeça [...] Tal é o sacrifício dos cristãos: "Nós que somos
muitos, formamos em Cristo um só corpo" (Rm 12, 5). E este sacrifício, a Igreja não
cessa de o renovar no sacramento do altar bem conhecido dos fiéis, em que lhe é
mostrado que ela própria é oferecida naquilo que oferece» (199).
A PRESENÇA DE CRISTO PELO PODER DA SUA PALAVRA E DO ESPÍRITO SANTO
1373. «Jesus Cristo, que morreu, que ressuscitou, que está à direita de Deus, que
intercede por nós» (Rm 8, 34), está presente na sua Igreja de múltiplos modos
(200): na sua Palavra, na oração da sua Igreja, «onde dois ou três estão reunidos
em Meu nome» (Mt 18, 20), nos pobres, nos doentes, nos prisioneiros (201), nos
seus sacramentos, dos quais é o autor, no sacrifício da missa e na pessoa do
ministro. Mas está presente «sobretudo sob as espécies eucarísticas» (202).
1374. O modo da presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva
a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz dela «como que a perfeição da
vida espiritual e o fim para que tendem todos os sacramentos» (203). No
santíssimo sacramento da Eucaristia estão «contidos,verdadeira, real e
substancialmente, o corpo e o sangue, conjuntamente com a alma e a divindade de
nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, Cristo completo» (204). «Esta
presença chama-se "real", não a título exclusivo como se as outras presenças não
fossem "reais", mas por excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna
presente Cristo completo, Deus e homem» (205).
1375. É pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo que Ele
Se torna presente neste sacramento. Os Padres da Igreja proclamaram com
firmeza a fé da mesma Igreja na eficácia da Palavra de Cristo e da acção do
Espírito Santo, para operar esta conversão. Assim, São João Crisóstomo declara:
«Não é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tomem corpo e sangue de
Cristo, mas o próprio Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura de
Cristo, pronuncia estas palavras, mas a sua eficácia e a graça são de Deus. Isto é o
Meu corpo, diz ele. Esta palavra transforma as coisas oferecidas» (206).
E Santo Ambrósio diz a respeito da mesma conversão:
Estejamos bem convencidos de que «isto não é o que a natureza formou, ruas o
que a bênção consagrou, e de que a força da bênção ultrapassa a da natureza,
porque pela bênção a própria natureza é mudada» (207). «A Palavra de Cristo, que
pôde fazer do nada o que não existia, não havia de poder mudar coisas existentes
no que elas ainda não eram? Porque não é menos dar às coisas a sua natureza
original do que mudá-la» (208).
1376. O Concílio de Trento resume a fé católica declarando: «Porque Cristo, nosso
Redentor, disse que o que Ele oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente
o seu corpo, sempre na Igreja se teve esta convicção que o sagrado Concílio de
novo declara: pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a
substância do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a
substância do vinho na substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica
chama, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação» (209).
1377. A presença eucarística de Cristo começa no momento da consagração e dura
enquanto as espécies eucarísticas subsistirem. Cristo está presente todo em cada
uma das espécies e todo em cada uma das suas partes, de maneira que a fracção
do pão não divide Cristo (210).
1378. O culto da Eucaristia. Na liturgia da Missa, nós exprimimos a nossa fé na
presença real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, entre outras maneiras,
ajoelhando ou inclinando-nos profundamente em sinal de adoração do Senhor. «A
Igreja Católica sempre prestou e continua a prestar este culto de adoração que é
devido ao sacramento da Eucaristia, não só durante a missa, mas também fora da
sua celebração: conservando com o maior cuidado as hóstias consagradas,
apresentando-as aos fiéis para que solenemente as venerem, e levando-as em
procissão» (211).
1379. A sagrada Reserva (sacrário) era, ao princípio, destinada a guardar, de
maneira digna, a Eucaristia, para poder ser levada aos doentes e ausentes, fora da
missa. Pelo aprofundamento da fé na presença real de Cristo na sua Eucaristia, a
Igreja tomou consciência do sentido da adoração silenciosa do Senhor, presente
sob as espécies eucarísticas, por isso que o sacrário deve ser colocado num lugar
particularmente digno da igreja; deve ser construído de tal modo que sublinhe e
manifeste a verdade da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento.
1380. É de suma conveniência que Cristo tenha querido ficar presente à sua Igreja
deste modo único. Uma vez que estava para deixar os seus sob forma visível,
Cristo quis dar-nos a sua presença sacramental; e visto que ia sofrer na cruz para
nos salvar, quis que tivéssemos o memorial do amor com que nos amou «até ao
fim» (Jo 13, 1), até ao dom da própria vida. Com efeito, na sua presença
eucarística, Ele fica misteriosamente no meio de nós, como Aquele que nos amou e
Se entregou por nós (212), e permanece sob os sinais que exprimem e comunicam
este amor:
«A Igreja e o mundo têm grande necessidade do culto eucarístico. Jesus espera-nos
neste sacramento do amor. Não regateemos o tempo para estar com Ele na
adoração, na contemplação cheia de fé e disposta a reparar as faltas graves e os
pecados do mundo. Que a nossa adoração não cesse jamais» (213).
1381. «A presença do verdadeiro corpo e do verdadeiro sangue de Cristo neste
sacramento, "não a apreendemos pelos sentidos, diz São Tomás, mas só pela
fé, que se apoia na autoridade de Deus". É por isso que, comentando o texto de
São Lucas 22, 19 "Isto é o Meu corpo que será entregue por vós", São Cirilo de
Alexandria declara: "Não vás agora perguntar-te se isso é verdade; mas acolhe
com fé as palavras do Senhor, porque Ele, que é a verdade, não mente"» (214):
«Adoro te devote,
latens Deitas,
Quae sub his figuris
Adoro-te com escondes,
Que sob estas
vere latitas:
Tibi se cor meum totem
subjicit,
Quica, Te contemplans,
totem deficit.
A ti meu coração Porque, ao contemplar-completo.
Visus, tactus, gustus in
Te fallitur
Sed auditu solo tutu
creditur:
Credo quidquid dixit Dei
Filius:
Nil hoc Veritatis verbo
verius»(215).
Visão, tacto Apenas ouvindo Creio em tudo Nada mais verdadeiro Verdade.
VI. O banquete pascal
1382. A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrificial em
que se perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do corpo e
sangue do Senhor. Mas a celebração do sacrifício eucarístico está toda orientada
para a união íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o
próprio Cristo, que Se ofereceu por nós.
1383. O altar, à volta do qual a Igreja se reúne na celebração da Eucaristia,
representa os dois aspectos dum mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa do
Senhor, e isto tanto mais que o altar cristão é o símbolo do próprio Cristo,
presente no meio da assembleia dos seus fiéis, ao mesmo tempo como vítima
oferecida para a nossa reconciliação e como alimento celeste que se nos dá. «Com
efeito, o que é o altar de Cristo senão a imagem do corpo de Cristo?» – pergunta
Santo Ambrósio (216); e noutro passo: «O altar representa o corpo [de Cristo], e o
corpo de Cristo está sobre o altar» (217). A liturgia exprime esta unidade do
sacrifício e da comunhão em numerosas orações. Assim, a Igreja de Roma reza na
sua anáfora:
«Humildemente Vos suplicamos, Deus todo-poderoso, que esta nossa oferenda seja
apresentada pelo vosso santo Anjo no altar celeste, diante da vossa divina
majestade, para que todos nós, participando deste altar pela comunhão do
santíssimo corpo e sangue do vosso Filho, alcancemos a plenitude das bênçãos e
graças do céu»» (218)
«TOMAI TODOS E COMEI»: A COMUNHÃO
1384. O Senhor dirige-nos um convite insistente a que O recebamos no sacramento
da Eucaristia: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do
Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós» (Jo 6, 53).
1385. Para responder a este convite, devemos preparar-nos para este momento
tão grande e santo. São Paulo exorta a um exame de consciência: «Quem comer o
pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do
Senhor. Examine-se, pois, cada qual a si mesmo e então coma desse pão e beba
deste cálice; pois quem come e bebe, sem discernir o corpo do Senhor, come e
bebe a própria condenação» (1Cor 11, 27-29). Aquele que tiver consciência dum
pecado grave deve receber o sacramento da Reconciliação antes de se aproximar
da Comunhão.
1386. Perante a grandeza deste sacramento, o fiel só pode retomar humildemente
e com ardente fé a palavra do centurião (219) : «Domine, non sum dignus, ut intres
sub tectum meum, sed tantum dic verbum, et sanabitur anima mea – Senhor, eu
não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma [só] palavra e serei
salvo» (220). E na divina liturgia de São João Crisóstomo, os fiéis oram no mesmo
Espírito:
«Faz-me comungar hoje, ó Filho de Deus, na tua ceia mística. Porque eu não
revelarei o segredo aos teus inimigos, nem te darei o beijo de Judas. Mas, como o
ladrão, eu te suplico: Lembra-Te de mim, Senhor, no teu Reino» (221).
1387. Para se prepararem convenientemente para receber este sacramento, os
fiéis devem observar o jejum prescrito na sua Igreja (222). A atitude corporal
(gestos, traje) deve traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em
que Cristo Se torna nosso hóspede.
1388. É conforme ao próprio sentido da Eucaristia que os fiéis, se tiverem as
disposições requeridas (223), recebam a Comunhão quando participam na missa
(224): «Recomenda-se vivamente aquela mais perfeita participação na missa em
que os fiéis, depois da comunhão do sacerdote, recebem, do mesmo sacrifício, o
corpo do Senhor» (225).
1389. A Igreja impõe aos fiéis a obrigação de «participar na divina liturgia nos
domingos e dias de festa» (226) e de receber a Eucaristia ao menos uma vez em
cada ano, se possível no tempo pascal (227) preparados pelo sacramento da
Reconciliação. Mas recomenda-lhes vivamente que recebam a santa Eucaristia aos
domingos e dias de festa, ou ainda mais vezes, mesmo todos os dias.
1390. Graças à presença sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a
comunhão apenas sob a espécie de pão permite receber todo o fruto de graça da
Eucaristia. Por razões pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se
legitimamente como a mais habitual no rito latino. «A sagrada Comunhão tem
uma forma mais plena, enquanto sinal, quando é feita sob as duas espécies. Com
efeito, nesta forma manifesta-se mais perfeitamente o sinal do banquete
eucarístico» (228). É a forma habitual de comungar, nos ritos orientais.
OS FRUTOS DA COMUNHÃO
1391. A Comunhão aumenta a nossa união com Cristo. Receber a Eucaristia na
comunhão traz consigo, como fruto principal, a união íntima com Cristo Jesus. De
facto, o Senhor diz: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece
em Mim e Eu nele» (Jo 6, 56). A vida em Cristo tem o seu fundamento no banquete
eucarístico: «Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também o
que Me come viverá por Mim» (Jo 6, 57):
«Quando, nas festas do Senhor, os fiéis recebem o corpo do Filho, proclamam uns
aos outros a boa-nova de que lhes foram dadas as arras da vida, como quando o
anjo disse a Maria de Magdala: "Cristo ressuscitou!". Eis que também agora a vida
e a ressurreição são conferidas àquele que recebe Cristo» (229).
1392. O que o alimento material produz na nossa vida corporal, realiza-o a
Comunhão, de modo admirável, na nossa vida espiritual. A comunhão da carne de
Cristo Ressuscitado, «vivificada pelo Espírito Santo e vivificante» (230), conserva,
aumenta e renova a vida da graça recebida no Baptismo. Este crescimento da vida
cristã precisa de ser alimentado pela Comunhão eucarística, pão da nossa
peregrinação, até à hora da morte, em que nos será dado como viático.
1393. A Comunhão afasta-nos do pecado. O corpo de Cristo que recebemos na
Comunhão é «entregue por nós» e o sangue que nós bebemos é «derramado pela
multidão, para remissão dos pecados». É por isso que a Eucaristia não pode unirnos
a Cristo sem nos purificar, ao mesmo tempo, dos pecados cometidos, e nos
preservar dos pecados futuros:
«Sempre que O recebemos, anunciamos a morte do Senhor (231). Se nós
anunciamos a morte do Senhor, anunciamos a remissão dos pecados. Se, de cada
vez que o seu sangue é derramado, é derramado para remissão dos pecados, eu
devo recebê-lo sempre, para que sempre Ele perdoe os meus pecados. Eu que peco
sempre, devo ter sempre um remédio» (232).
1394. Tal como o alimento corporal serve para restaurar as forças perdidas, assim
também a Eucaristia fortifica a caridade que, na vida quotidiana, tende a
enfraquecer-se; e esta caridade vivificada apaga os pecados veniais (233). Dando-
Se a nós, Cristo reaviva o nosso amor e torna-nos capazes de quebrar as ligações
desordenadas às criaturas e de nos radicarmos n'Ele.
«Uma vez que Cristo morreu por nós por amor, quando nós fazemos memória da
sua morte no momento do sacrifício, pedimos que esse amor nos seja dado pela
vinda do Espírito Santo; suplicamos humildemente que, em virtude desse amor
pelo qual Cristo quis morrer por nós, também nós, recebendo a graça do Espírito
Santo, possamos considerar o mundo como crucificado para nós e sermos nós
próprios crucificados para o mundo; [...] tendo recebido o dom do amor, morramos
para o pecado e vivamos para Deus» (234).
1395. Pela mesma caridade que acende em nós, a Eucaristia preserva-nos dos
pecados mortaisfuturos. Quanto mais participarmos na vida de Cristo e
progredirmos na sua amizade, mais difícil nos será romper com Ele pelo pecado
mortal. A Eucaristia não está ordenada ao perdão dos pecados mortais. Isso é
próprio do sacramento da Reconciliação. O que é próprio da Eucaristia é ser o
sacramento daqueles que estão na plena comunhão da Igreja.
1396. A unidade do corpo Místico: a Eucaristia faz a Igreja. Os que recebem a
Eucaristia ficam mais estreitamente unidos a Cristo. Por isso mesmo, Cristo une
todos os fiéis num só corpo: a Igreja. A Comunhão renova, fortalece e aprofunda
esta incorporação na Igreja já realizada pelo Baptismo. No Baptismo fomos
chamados a formar um só corpo (235). A Eucaristia realiza esta vocação: «O cálice
da bênção que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que
partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão,
nós, embora muitos, somos um só corpo, porque participamos desse único pão» (1
Cor 10, 16-17):
«Se sois o corpo de Cristo e seus membros, é o vosso sacramento que está
colocado sobre a mesa do Senhor, é o vosso sacramento que recebeis. Vós
respondeis «Ámen» [«Sim, é verdade!»] àquilo que recebeis e, ao responder, o
subscreveis. Tu ouves esta palavra: «O corpo de Cristo»; e respondes: «Ámen»,
Então, sê um membro de Cristo, para que o teu «Ámen» seja verdadeiro» (326).
1397. A Eucaristia compromete-nos com os pobres: Para receber, na verdade, o
corpo e o sangue de Cristo entregue por nós, temos de reconhecer Cristo nos mais
pobres, seus irmãos (237):
«Saboreaste o sangue do Senhor e não reconheces sequer o teu irmão. Desonras
esta mesa, se não julgas digno de partilhar o teu alimento aquele que foi julgado
digno de tomar parte nesta mesa. Deus libertou-te de todos os teus pecados e
chamou-te para ela; e tu nem então te tornaste mais misericordioso» (238).
1398. A Eucaristia e a unidade dos cristãos. Perante a grandeza deste mistério,
Santo Agostinho exclama: «O sacramentum pietatis! O signum unitatis! O
vinculum caritatis! – Ó sacramento da piedade, ó sinal da unidade, ó vínculo da
caridade!» Quanto mais dolorosas se fazem sentir as divisões da Igreja que
rompem a comum participação na mesa do Senhor, tanto mais prementes são as
orações que fazemos ao Senhor para que voltem os dias da unidade completa de
todos os que crêem n' Ele.
1399. As Igrejas orientais que não estão em comunhão plena com a Igreja Católica
celebram a Eucaristia com um grande amor. «Essas Igrejas, embora separadas,
têm verdadeiros sacramentos; e principalmente, em virtude da sucessão
apostólica, o sacerdócio e a Eucaristia, por meio dos quais continuam unidos a nós
por vínculos estreitíssimos» (240). Portanto, «uma certa comunhão in sacris é não
só possível, mas até aconselhável em circunstâncias oportunas e com aprovação da
autoridade eclesiástica» (241).
1400. As comunidades eclesiais saídas da Reforma, separadas da Igreja Católica,
«não [conservaram] a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico,
sobretudo por causa da falta do sacramento da Ordem» (242). É por esse motivo
que a intercomunhão eucarística com estas comunidades não é possível para a
Igreja Católica. No entanto, estas comunidades eclesiais, «quando na santa ceia
fazem memória da morte e ressurreição do Senhor, professam que a vida é
significada na comunhão com Cristo e esperam a sua vinda gloriosa» (243).
1401. Se urgir uma grave necessidade, segundo o juízo do Ordinário os ministros
católicos podem ministrar os sacramentos (Eucaristia, Penitência, Unção dos
Enfermos) aos outros cristãos que não estão em plena comunhão com a Igreja
Católica, mas que os pedem por sua livre vontade: requer-se, nesse caso, que
manifestem a fé católica em relação a estes sacramentos e que se encontrem nas
devidas disposições (244).
VII. A Eucaristia – «Penhor da futura glória»
1402. Numa antiga oração, a Igreja aclama assim o mistério da Eucaristia: «O
sacrum convivium in quo Christus sumitur: recolitur memoria passionis eius; mens
impletur gratia et futurae gloriae nobis pignus datur – Ó sagrado banquete, em
que se recebe Cristo e se comemora a sua paixão, em que a alma se enche de
graça e nos é dado o penhor da futura glória» (245). Se a Eucaristia é o memorial
da Páscoa da Senhor, se pela nossa comunhão no altar somos cumulados da
«plenitude das bênçãos se graças do céu» (246), a Eucaristia é também a
antecipação da glória celeste.
1403. Na última ceia, o próprio Senhor chamou a atenção dos seus discípulos para
a consumação da Páscoa no Reino de Deus: «Eu vos digo que não voltarei a beber
deste fruto da videira, até o dia em que beberei convosco o vinho novo no Reino
do meu Pai» (Mt 26, 29) (247). Sempre que a Igreja celebra a Eucaristia, lembra-se
desta promessa, e o seu olhar volta-se para «Aquele que vem» (Ap 1, 4). Na sua
oração, ela clama pela sua vinda: «Marana tha» (1Cor 16, 22), «Vem, Senhor
Jesus!» (Ap 22, 20), «que a Tua graça venha e que este mundo passe!» (248).
1404. A Igreja sabe que, desde já, o Senhor vem na sua Eucaristia e que está ali,
no meio de nós. Mas esta presença é velada. E é por isso que nós celebramos a
Eucaristia «expectantes beatam spem et adventum Salvatoris nostri Jesu Christi –
enquanto aguardamos a feliz esperança e a vinda de Jesus Cristo nosso Salvador»
(249), pedindo a graça de ser acolhidos «com bondade no vosso Reino, onde
também nós esperamos ser ser recebidos, para vivermos [...] eternamente na
vossa glória, quando enxugardes todas as lágrimas dos nossos olhos; e, vendo-Vos
tal como sois, Senhor nosso Deus, seremos para sempre semelhantes a Vós e
cantaremos sem fim os vossos louvores, por Jesus Cristo nosso Senhor» (250).
1405. Desta grande esperança – dos novos céus e da nova terra, onde habitará a
justiça (251) –não temos garantia mais segura nem sinal mais manifesto do que a
Eucaristia. Com efeito, cada vez que se celebra este mistério, «realiza-se a obra da
nossa redenção» (252) e nós «partimos o mesmo pão, que é remédio de
imortalidade, antídoto para não morrer, mas viver em Jesus Cristo para sempre»
(253).
Resumindo:
1406. Jesus diz: «Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá
eternamente [...] Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna [...], permanece em Mim, e Eu nele» (Jo 6, 51.54.56).
1407. A Eucaristia é o coração e o cume da vida da Igreja, porque nela Cristo
associa a sua Igreja e todos os seus membros ao seu sacrifício de louvor e de acção
de graças, oferecido ao Pai uma vez por todas na cruz; por este sacrifício, Ele
derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja.
1408. A celebração eucarística inclui sempre: a proclamação da Palavra de Deus, a
acção de graças a Deus Pai por todos os seus benefícios, sobretudo pelo dom do
seu Filho, a consagração do pão e do vinho e a participação no banquete litúrgico
pela recepção do corpo e do sangue do Senhor Estes elementos constituem um só
e mesmo acto de culto.
1409. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, isto é, da obra do salvação
realizada pela vida, morte e ressurreição de Cristo, obra tornada presente pela
acção litúrgica.
1410. É o próprio Cristo, sumo e eterno sacerdote da Nova Aliança, que, agindo
pelo ministério dos sacerdotes, oferece o sacrifício eucarístico. E é ainda o mesmo
Cristo, realmente presente sob as espécies do pão e do vinho, que é a oferenda do
sacrifício eucarístico.
1411. Só os sacerdotes validamente ordenados podem presidir à Eucaristia e
consagrar o pão e o vinho, para que se tornem o corpo e o sangue do Senhor:
1412. Os sinais essenciais do sacramento eucarístico são o pão de trigo e o vinho
da videira, sobre os quais é invocada a bênção do Espírito Santo, e o sacerdote
pronuncia as palavras da consagração ditas por Jesus durante a última ceia: «Isto
é o meu corpo, que será entregue por vós... Este é o cálice do meu sangue...».
1413. Pela consagração, opera-se a transubstanciação do pão e do vinho no corpo
e no sangue de Cristo. Sob as espécies consagradas do pão e do vinho, o próprio
Cristo, vivo e glorioso, está presente de modo verdadeiro, real e substancial, com
o seu corpo e o seu sangue, com a sua alma e a sua divindade (254).
1414. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é oferecida também em reparação dos
pecados dos vivos e dos defuntos e para obter de Deus benefícios espirituais ou
temporais.
1415. Aquele que quiser receber Cristo na Comunhão eucarística deve encontrarse
em estado de graça. Se alguém tiver consciência de ter pecado mortalmente,
não deve aproximar-se da Eucaristia sem primeiro ter recebido a absolvição no
sacramento da Penitência.
1416. A sagrada Comunhão do corpo e sangue de Cristo aumenta a união do
comungante com o Senhor perdoa-lhe os pecados veniais e preserva-o dos pecados
graves. E uma vez que os laços da caridade entre o comungante e Cristo são
reforçados, a recepção deste sacramento reforça a unidade da Igreja, corpo
Místico de Cristo.
1417. A Igreja recomenda vivamente aos fiéis que recebam a sagrada Comunhão
quando participam na celebração da Eucaristia; e impõe-lhes a obrigação de o
fazerem ao menos uma vez por ano.
1418. Uma vez que Cristo em pessoa está presente no Sacramento do Altar;
devemos honrá-Lo com culto de adoração. «A visita ao Santíssimo Sacramento é
uma prova de gratidão, um sinal de amor e um dever de adoração para com Cristo
nosso Senhor» (255).
1419. Tendo passado deste mundo para o Pai, Cristo deixou-nos na Eucaristia o
penhor da glória junto d'Ele: a participação no santo sacrifício identifica-nos com o
seu coração, sustenta as nossas forças ao longo da peregrinação desta vida, faz-nos
desejar a vida eterna e desde já nos une à Igreja do céu, à Santíssima Virgem e a
todos os santos.
elevados à dignidade do sacerdócio real pelo Baptismo e configurados mais
profundamente com Cristo pela Confirmação, esses, por meio da Eucaristia,
participam, com toda a comunidade, no próprio sacrifício do Senhor.
1323. «O nosso Salvador instituiu na última ceia, na noite em que foi entregue, o
sacrifício eucarístico do seu corpo e sangue, para perpetuar pelo decorrer dos
séculos, até voltar, o sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o
memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade,
vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de
graça e nos é dado o penhor da glória futura» (145).
I. A Eucaristia – fonte e cume da vida eclesial
1324. A Eucaristia é «fonte e cume de toda a vida cristã» (146). «Os restantes
sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado,
estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na
santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o
próprio Cristo, nossa Páscoa» (147).
1325. «A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a
Igreja é o que é, são significados e realizados pela Eucaristia. Nela se encontra o
cume, ao mesmo tempo, da acção pela qual Deus, em Cristo, santifica o mundo, e
do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por Ele, ao Pai»
(148).
1326. Enfim, pela celebração eucarística, unimo-nos desde já à Liturgia do céu e
antecipamos a vida eterna, quando «Deus for tudo em todos» (1 Cor 15, 18 ).
1327. Em síntese, a Eucaristia é o resumo e a súmula da nossa fé: «A nossa
maneira de pensar está de acordo com a Eucaristia: e, por sua vez, a Eucaristia
confirma a nossa maneira de pensar» (149).
II. Como se chama este sacramento?
1328. A riqueza inesgotável deste sacramento exprime-se nos diferentes nomes
que lhe são dados. Cada um destes nomes evoca alguns dos seus aspectos. Chamase:
Eucaristia, porque é acção de graças a Deus. As palavras« eucharistein» (Lc 22,
19; 1 Cor 11, 24) e «eulogein» (Mt 26, 26; Mc 14, 22) lembram as bênçãos judaicas
que proclamam – sobretudo durante a refeição – as obras de Deus: a criação, a
redenção e a santificação.
1329. Ceia do Senhor (150), porque se trata da ceia que o Senhor comeu com os
discípulos na véspera da sua paixão e da antecipação do banquete nupcial do
Cordeiro (151) na Jerusalém celeste.
Fracção do Pão, porque este rito, próprio da refeição dos judeus, foi utilizado por
Jesus quando abençoava e distribuía o pão como chefe de família (152), sobretudo
aquando da última ceia (153) . É por este gesto que os discípulos O reconhecerão
depois da sua ressurreição (154) e é com esta expressão que os primeiros cristãos
designarão as suas assembleias eucarísticas (155). Querem com isso significar que
todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em comunhão com Ele e
formam um só corpo n'Ele (156).
Assembleia eucarística («sýnaxis»), porque a Eucaristia é celebrada em assembleia
de fiéis, expressão visível da Igreja (157).
1330. Memorial da paixão e ressurreição do Senhor.
Santo Sacrifício, porque actualiza o único sacrifício de Cristo Salvador e inclui a
oferenda da Igreja; ou ainda santo Sacrifício da Missa, «Sacrifício de louvor»
(Heb 13, 15) (158),Sacrifício espiritual (159) Sacrifício puro (160) e santo, pois
completa e ultrapassa todos os sacrifícios da Antiga Aliança.
Santa e divina Liturgia, porque toda a liturgia da Igreja encontra o seu centro e a
sua expressão mais densa na celebração deste sacramento; no mesmo sentido se
lhe chama também celebração dos Santos Mistérios. Fala-se igualmente
do Santíssimo Sacramento, porque é o sacramento dos sacramentos. E, com este
nome, se designam as espécies eucarísticas guardadas no sacrário.
1331. Comunhão, pois é por este sacramento que nos unimos a Cristo, o qual nos
torna participantes do seu corpo e do seu sangue, para formarmos um só corpo
(161); chama-se aindaas coisas santas («tà hágia»; «sancta») (162) – é o sentido
primário da «comunhão dos santos» de que fala o Símbolo dos Apóstolos – , pão
dos anjos, pão do céu, remédio da imortalidade(163), viático...
1332. Santa Missa, porque a liturgia em que se realiza o mistério da salvação
termina com o envio dos fiéis («missio»), para que vão cumprir a vontade de Deus
na sua vida quotidiana.
III. A Eucaristia na economia da salvação
OS SINAIS DO PÃO E DO VINHO
1333. No centro da celebração da Eucaristia temos o pão e o vinho que, pelas
palavras de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o corpo e o
sangue do mesmo Cristo. Fiel à ordem do Senhor, a Igreja continua a fazer, em
memória d'Ele e até à sua vinda gloriosa, o que Ele fez na véspera da sua paixão:
«Tomou o pão...», «Tomou o cálice com vinho...». Tornando-se misteriosamente o
corpo e o sangue de Cristo, os sinais do pão e do vinho continuam a significar
também a bondade da criação. Por isso, no ofertório [apresentação das oferendas],
nós damos graças ao Criador pelo pão e pelo vinho (164), fruto «do trabalho do
homem», mas primeiramente «fruto da terra» e «da videira», dons do Criador. A
Igreja vê no gesto de Melquisedec, rei e sacerdote, que «ofereceu pão e
vinho» (Gn 14, 18), uma prefiguração da sua própria oferenda (165).
1334. Na Antiga Aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as
primícias da terra, em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas também recebem
uma nova significação no contexto do Êxodo: os pães ázimos que Israel come todos
os anos na Páscoa, comemoram a pressa da partida libertadora do Egipto; a
lembrança do maná do deserto recordará sempre a Israel que é do pão da Palavra
de Deus que ele vive (166). Finalmente, o pão de cada dia é o fruto da terra
prometida, penhor da fidelidade de Deus às suas promessas. O «cálice de
bênção» (1 Cor 10, 16), no fim da ceia pascal dos judeus, acrescenta à alegria
festiva do vinho uma dimensão escatológica – a da expectativa messiânica do
restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu a sua Eucaristia dando um sentido
novo e definitivo à bênção do pão e do cálice.
1335. Os milagres da multiplicação dos pães, quando o Senhor disse a bênção,
partiu e distribuiu os pães pelos seus discípulos para alimentar a multidão,
prefiguram a superabundância deste pão único da sua Eucaristia (167). O sinal da
água transformada em vinho em Caná (168) já anuncia a «Hora» da glorificação de
Jesus. E manifesta o cumprimento do banquete das núpcias no Reino do Pai, onde
os fiéis beberão do vinho novo (169) tornado sangue de Cristo.
1336. O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, tal como o anúncio da
paixão os escandalizou: «Estas palavras são insuportáveis! Quem as pode
escutar?» (Jo 6, 60). A Eucaristia e a cruz são pedras de tropeço. É o mesmo
mistério e não cessa de ser ocasião de divisão. «Também vos quereis ir
embora?» (Jo 6, 67): esta pergunta do Senhor ecoa através dos tempos, como
convite do seu amor a descobrir que só Ele tem «palavras de vida eterna» (Jo 6,
68) e que acolher na fé o dom da sua Eucaristia é acolhê-1'O a Ele próprio.
A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA
1337. Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até ao fim. Sabendo que era
chegada a hora de partir deste mundo para regressar ao Pai, no decorrer duma
refeição, lavou-lhes os pés e deu-lhes o mandamento do amor (170). Para lhes
deixar uma garantia deste amor, para jamais se afastar dos seus e para os tornar
participantes da sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memorial da sua morte e
da sua ressurreição, e ordenou aos seus Apóstolos que a celebrassem até ao seu
regresso, «constituindo-os, então, sacerdotes do Novo Testamento» (171).
1338. Os três evangelhos sinópticos e São Paulo transmitiram-nos a narração da
instituição da Eucaristia. Por seu lado, São João refere as palavras de Jesus na
sinagoga de Cafarnaum, palavras que preparam a instituição da Eucaristia: Cristo
designa-se a si próprio como o pão da vida, descido do céu (172).
1339. Jesus escolheu a altura da Páscoa para cumprir o que tinha anunciado em
Cafarnaum: dar aos seus discípulos o seu corpo e o seu sangue:
«Veio o dia dos Ázimos, em que devia imolar-se a Páscoa. [Jesus] enviou então a
Pedro e a João, dizendo: "Ide preparar-nos a Páscoa, para que a possamos comer"
[...]. Partiram pois, [...] e prepararam a Páscoa. Ao chegar a hora, Jesus tomou
lugar à mesa, e os Apóstolos com Ele. Disse-lhes então: "Tenho desejado
ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de padecer. Pois vos digo que
não voltarei a comê-la, até que ela se realize plenamente no Reino de Deus". [...]
Depois, tomou o pão e, dando graças, partiu-o, deu-lho e disse-lhes: "Isto é o Meu
corpo, que vai ser entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim". No fim da
ceia, fez o mesmo com o cálice e disse: "Este cálice é a Nova Aliança no meu
sangue, que vai ser derramado por vós"» (Lc 22, 7-20) (173).
1340. Celebrando a última ceia com os seus Apóstolos, no decorrer do banquete
pascal, Jesus deu o seu sentido definitivo à Páscoa judaica. Com efeito, a passagem
de Jesus para o seu Pai, pela sua morte e ressurreição – a Páscoa nova – é
antecipada na ceia e celebrada na Eucaristia, que dá cumprimento a Páscoa
judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja na glória do Reino.
«FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM»
1341. Ao ordenar que repetissem os seus gestos e palavras, «até que Ele venha»
(1 Cor 11, 26), Jesus não pede somente que se lembrem d'Ele e do que Ele fez. Tem
em vista a celebração litúrgica, pelos apóstolos e seus sucessores, do memorial de
Cristo, da sua vida, morte, ressurreição e da sua intercessão junto do Pai.
1342. Desde o princípio, a Igreja foi fiel à ordem do Senhor. Da Igreja de Jerusalém
está escrito:
«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às
orações. [...] Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma,
e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de
coração» (Act 2, 42.46).
1343. Era sobretudo «no primeiro dia da semana», isto é, no dia de domingo, dia
da ressurreição de Jesus, que os cristãos se reuniam «para partir o pão» (Act 20,
7). Desde esses tempos até aos nossos dias, a celebração da Eucaristia perpetuouse,
de maneira que hoje a encontramos em toda a parte na Igreja com a mesma
estrutura fundamental. Ela continua a ser o centro da vida da Igreja.
1344. Assim, de celebração em celebração, anunciando o mistério pascal de Jesus
«até que Ele venha» (1Cor 11, 26), o Povo de Deus em peregrinação «avança pela
porta estreita da cruz» (174) para o banquete celeste, em que todos os eleitos se
sentarão à mesa do Reino.
IV. A celebração litúrgica da Eucaristia
A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS
1345. Desde o século II, temos o testemunho de São Justino, mártir, sobre as
grandes linhas do desenrolar da celebração eucarística. Permaneceram as mesmas
até aos nossos dias, em todas as grandes famílias litúrgicas. Eis o que ele escreve,
cerca do ano 155, para explicar ao imperador pagão Antonino Pio (138-161) o que
fazem os cristãos:
«No dia que chamam Dia do Sol, realiza-se a reunião num mesmo lugar de todos os
que habitam a cidade ou o campo.
Lêem-se as memórias dos Apóstolos e os escritos dos Profetas, tanto quanto o
tempo o permite.
Quando o leitor acabou, aquele que preside toma a palavra para incitar e exortar
à imitação dessas belas coisas.
Em seguida, levantamo-nos todos juntamente e fazemos orações» (175) «por nós
mesmos [...] e por todos os outros, [...] onde quer que estejam, para que sejamos
encontrados justos por nossa vida e acções, e fiéis aos mandamentos, e assim
obtenhamos a salvação eterna.
Terminadas as orações, damo-nos um ósculo uns aos outros.
Depois, apresenta-se àquele que preside aos irmãos pão e uma taça de água e
vinho misturados.
Ele toma-os e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, pelo nome do Filho e do
Espírito Santo, e dá graças (em grego: eucharistian) longamente, por termos sido
julgados dignos destes dons.
Quando ele termina as orações e acções de graças, todo o povo presente aclama:
Ámen.
[...] Depois de aquele que preside ter feito a acção de graças e de o povo ter
respondido, aqueles a que entre nós chamamos diáconos distribuem a todos os que
estão presentes pão, vinho e água "eucaristizados" e também os levam aos
ausentes» (176).
1346. A liturgia eucarística processa-se em conformidade com uma estrutura
fundamental, que se tem conservado através dos séculos até aos nossos dias.
Desdobra-se em dois grandes momentos, que formam basicamente uma unidade:
– a reunião, a liturgia da Palavra, com as leituras, a homilia e a oração universal;
– a liturgia eucarística, com a apresentação do pão e do vinho, a acção de graças
consecratória e a comunhão.
Liturgia da Palavra e liturgia eucarística constituem juntas "um só e mesmo acto
de culto" (177). Com efeito, a mesa posta para nós na Eucaristia é, ao mesmo
tempo, a da Palavra de Deus e a do corpo do Senhor (178).
1347. Não é esse também o dinamismo da refeição pascal de Jesus Ressuscitado
com os seus discípulos? Enquanto caminhavam, Ele explicava-lhes as Escrituras;
depois, pondo-Se à mesa com eles, «tomou o pão, proferiu a bênção, partiu-o e
deu-lho» (179).
O DESENROLAR DA CELEBRAÇÃO
1348. Todos se reúnem. Os cristãos acorrem a um mesmo lugar para a assembleia
eucarística. A sua cabeça está o próprio Cristo, que é o actor principal da
Eucaristia. Ele é o Sumo-Sacerdote da Nova Aliança. É Ele próprio que preside
invisivelmente a toda a celebração eucarística. E é em representação d'Ele (agindo
«in persona Christi capitis – na pessoa de Cristo-Cabeça»), que o bispo ou o
presbítero preside à assembleia, toma a palavra depois das leituras, recebe as
oferendas e diz a oração eucarística. Todos têm a sua parte activa na celebração,
cada qual a seu modo: os leitores, os que trazem as oferendas, os que distribuem a
comunhão e todo o povo cujo Ámenmanifesta a participação.
1349. A liturgia da Palavra comporta «os escritos dos Profetas», quer dizer, o
Antigo Testamento, e «as Memórias dos Apóstolos» ou seja, as suas epístolas e os
evangelhos. Depois da homilia, que é uma exortação a acolher esta Palavra como
o que ela é na realidade, Palavra de Deus(180), e a pô-la em prática, vêm as
intercessões por todos os homens, segundo a palavra do Apóstolo: «Recomendo,
antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças, por todos
os homens, pelos reis e por todos os que exercem autoridade» (1 Tm 2, 1-2).
1350. A apresentação das oferendas (ofertório): traz-se então para o altar, por
vezes processionalmente, o pão e o vinho que vão ser oferecidos pelo sacerdote
em nome de Cristo no sacrifício eucarístico, no qual se tornarão o seu corpo e o seu
sangue. É precisamente o mesmo gesto que Cristo fez na última ceia, «tomando o
pão e o cálice». «Só a Igreja oferece esta oblação pura ao Criador, oferecendo-Lhe
em acção de graças o que provém da sua criação» (181). A apresentação das
oferendas no altar assume o gesto de Melquisedec e põe os dons do Criador nas
mãos de Cristo. É Ele que, no seu sacrifício, leva à perfeição todas as tentativas
humanas de oferecer sacrifícios.
1351. Desde o princípio, com o pão e o vinho para a Eucaristia, os cristãos trazem
as suas ofertas para a partilha com os necessitados. Este costume, sempre actual,
da colecta (182) inspira-se no exemplo de Cristo, que Se fez pobre para nos
enriquecer (183):
«Os que são ricos e querem, dão, cada um conforme o que a si mesmo se impôs; o
que se recolhe é entregue àquele que preside e ele, por seu turno, presta
assistência aos órfãos, às viúvas, àqueles que a doença ou qualquer outra causa
priva de recursos, aos prisioneiros, aos imigrantes, numa palavra, a todos os que
sofrem necessidade» (184).
1352. A anáfora: Com a oração eucarística, oração de acção de graças e de
consagração, chegamos ao coração e cume da celebração:
no prefácio, a Igreja dá graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas as
suas obras: pela criação, redenção e santificação. Toda a comunidade une, então,
as suas vozes àquele louvor incessante que a Igreja celeste – os anjos e todos os
santos – cantam ao Deus três vezes Santo:
1353. na epiclese, pede ao Pai que envie o seu Espírito Santo (ou o poder da sua
bênção)(185)sobre o pão e o vinho, para que se tornem, pelo seu poder, o corpo e
o sangue de Jesus Cristo, e para que os que participam na Eucaristia sejam um só
corpo e um só espírito. (Algumas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da
anamnese);
na narração da instituição, a força das palavras e da acção de Cristo e o poder do
Espírito Santo tomam sacramentalmente presentes, sob as espécies do pão e do
vinho, o corpo e o sangue do mesmo Cristo, o seu sacrifício oferecido na cruz de
uma vez por todas;
1354. na anamnese que se segue, a Igreja faz memória da paixão, ressurreição e
regresso glorioso de Cristo Jesus: e apresenta ao Pai a oferenda do seu Filho, que
nos reconcilia com Ele:
nas intercessões, a Igreja manifesta que a Eucaristia é celebrada em comunhão
com toda a Igreja do céu e da terra, dos vivos e dos defuntos, e na comunhão com
os pastores da Igreja: o Papa, o bispo da diocese, o seu presbitério e os seus
diáconos, e todos os bispos do mundo inteiro com as suas Igrejas.
1355. Na comunhão, precedida da Oração do Senhor e da fracção do pão, os fiéis
recebem «o pão do céu» e «o cálice da salvação», o corpo e o sangue de Cristo,
que Se entregou «para a vida do mundo» (Jo 6, 51):
Porque este pão e este vinho foram, segundo a expressão antiga, «eucaristizados»
(186), «chamamos a este alimento Eucaristia; e ninguém pode tomar parte nela se
não acreditar na verdade do que entre nós se ensina, se não recebeu o banho para
a remissão dos pecados e o novo nascimento e se não viver segundo os preceitos
de Cristo» (187).
V. O sacrifício sacramental: acção de graças, memorial, presença
1356. Se os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens e sob uma forma que,
na sua substância não mudou através da grande diversidade dos tempos e das
liturgias, é porque sabem que estão ligados pela ordem do Senhor, dada na
véspera da sua paixão: «Fazei isto em memória de Mim» (1 Cor 11, 24-25).
1357. Esta ordem do Senhor, cumprimo-la celebrando o memorial do seu
sacrifício. E fazendo-o, oferecemos ao Pai o que Ele próprio nos deu: os dons da sua
criação, o pão e o vinho, transformados, pelo poder do Espírito Santo e pelas
palavras de Cristo, no corpo e no sangue do mesmo Cristo: assim Cristo torna-se
real e misteriosamente presente.
1358. Temos, pois, de considerar a Eucaristia
– como acção de graças e louvor ao Pai,
– como memorial sacrificial de Cristo e do Seu corpo,
– como presença de Cristo pelo poder da sua Palavra e do seu Espírito.
A ACÇÃO DE GRAÇAS E O LOUVOR AO PAI
1359. A Eucaristia, sacramento da nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é
também um sacrifício de louvor em acção de graças pela obra da criação. No
sacrifício eucarístico, toda a criação, amada por Deus, é apresentada ao Pai,
através da morte e ressurreição de Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o
sacrifício de louvor em acção de graças por tudo o que Deus fez de bom, belo e
justo, na criação e na humanidade.
1360. A Eucaristia é um sacrifício de acção de graças ao Pai, uma bênção pela qual
a Igreja exprime o seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por
tudo o que Ele fez mediante a criação, a redenção e a santificação. Eucaristia
significa, antes de mais, «acção de graças».
1361. A Eucaristia é também o sacrifício de louvor, pelo qual a Igreja canta a
glória de Deus em nome de toda a criação. Este sacrifício de louvor só é possível
através de Cristo: Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão,
de maneira que o sacrifício de louvor ao Pai ë oferecido por Cristo e com Cristo,
para ser aceite em Cristo.
O MEMORIAL SACRIFICIAL DE CRISTO E DO SEU CORPO, A IGREJA
1362. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a actualização e a oferenda
sacramental do seu único sacrifício, na liturgia da Igreja que é o seu corpo. Em
todas as orações eucarísticas encontramos, depois das palavras da instituição, uma
oração chamada anamnese ou memorial.
1363. No sentido que lhe dá a Sagrada Escritura, o memorial não é somente a
lembrança dos acontecimentos do passado, mas a proclamação das maravilhas que
Deus fez pelos homens (188). Na celebração litúrgica destes acontecimentos, eles
tomam-se de certo modo presentes e actuais. É assim que Israel entende a sua
libertação do Egipto: sempre que se celebrar a Páscoa, os acontecimentos do
Êxodo tornam-se presentes à memória dos crentes, para que conformem com eles
a sua vida.
1364. O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja
celebra a Eucaristia, faz memória da Páscoa de Cristo, e esta torna-se presente: o
sacrifício que Cristo ofereceu na cruz uma vez por todas, continua sempre actual
(189): «Todas as vezes que no altar se celebra o sacrifício da cruz, no qual "Cristo,
nossa Páscoa, foi imolado", realiza-se a obra da nossa redenção» (190).
1365. Porque é o memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um
sacrifício. O carácter sacrificial da Eucaristia manifesta-se nas próprias palavras da
instituição: «Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós» e «este cálice é a
Nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós» (Lc 22, 19-20). Na
Eucaristia, Cristo dá aquele mesmo corpo que entregou por nós na cruz, aquele
mesmo sangue que «derramou por muitos em remissão dos pecados» (Mt26, 28).
1366. A Eucaristia é, pois, um sacrifício, porque representa (torna presente) o
sacrifício da cruz, porque é dele o memorial e porque aplica o seu fruto:
Cristo «nosso Deus e Senhor [...], ofereceu-Se a Si mesmo a Deus Pai uma vez por
todas, morrendo como intercessor sobre o altar da cruz, para realizar em favor
deles [homens] uma redenção eterna. No entanto, porque após a sua morte não se
devia extinguir o seu sacerdócio (Heb 7, 24-27), na última ceia, "na noite em que
foi entregue" (1 Cor 11, 13). [...] Ele [quis deixar] à Igreja, sua esposa bem-amada,
um sacrifício visível (como o exige a natureza humana), em que fosse representado
o sacrifício cruento que ia realizar uma vez por todas na cruz, perpetuando a sua
memória até ao fim dos séculos e aplicando a sua eficácia salvífica à remissão dos
pecados que nós cometemos cada dia» (191).
1367. O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: «É
uma só e mesma vítima e Aquele que agora Se oferece pelo ministério dos
sacerdotes é o mesmo que outrora Se ofereceu a Si mesmo na cruz; só a maneira
de oferecer é que é diferente» (192). E porque «neste divino sacrifício, que se
realiza na missa, aquele mesmo Cristo, que a Si mesmo Se ofereceu outrora de
modo cruento sobre o altar da cruz, agora está contido e é imolado de modo
incruento [...], este sacrifício é verdadeiramente propiciatório» (193).
1368. A Eucaristia é igualmente o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de
Cristo, participa na oblação da sua Cabeça. Com Ele, ela própria é oferecida
integralmente. Ela une-se à sua intercessão junto do Pai em favor de todos os
homens. Na Eucaristia, o sacrifício de Cristo torna-se também o sacrifício dos
membros do seu corpo. A vida dos fiéis, o seu louvor, o seu sofrimento, a sua
oração, o seu trabalho unem-se aos de Cristo e à sua oblação total, adquirindo
assim um novo valor. O sacrifício de Cristo presente sobre o altar proporciona a
todas as gerações de cristãos a possibilidade de se unirem à sua oblação.
Nas catacumbas, a Igreja é frequentemente representada como uma mulher em
oração, de braços estendidos em atitude orante. Como Cristo, que estendeu os
braços na cruz, assim, por Ele, com Ele e n'Ele, a Igreja oferece-se e intercede por
todos os homens.
1369. Toda a Igreja está unida à oblação e intercessão de Cristo. Encarregado do
ministério de Pedro na Igreja, o Papa está associado a toda e qualquer celebração
da Eucaristia, na qual é nomeado como sinal e servidor da unidade da Igreja
universal. O bispo do lugar é sempre responsável pela Eucaristia, mesmo quando
presidida por um presbítero; o seu nome é citado nela para significar a sua
presidência da Igreja particular, no meio do presbitério e com a assistência
dosdiáconos. A comunidade intercede também por todos os ministros que, por ela
e com ela, oferecem o sacrifício eucarístico:
«Seja tida como legítima somente aquela Eucaristia que é presidida pelo bispo ou
por quem ele encarregou» (194).
«É pelo ministério dos presbíteros que o sacrifício espiritual dos fiéis se consuma
em união com o sacrifício de Cristo. Mediador único, que é oferecido na Eucaristia
de modo incruento e sacramental, pelas mãos deles, em nome de toda a Igreja,
até quando o mesmo Senhor voltar» (195).
1370. À oblação de Cristo unem-se não só os membros que estão ainda neste
mundo, mas também os que já estão na glória do céu: é em comunhão com a
santíssima Virgem Maria e fazendo memória d'Ela, assim como de todos os santos
e de todas as santas, que a Igreja oferece o sacrifício eucarístico. Na Eucaristia, a
Igreja, com Maria, está como que ao pé da cruz, unida à oblação e à intercessão de
Cristo.
1371. O sacrifício eucarístico é também oferecido pelos fiéis defuntos, «que
morreram em Cristo e não estão ainda de todo purificados» (196), para que
possam entrar na luz e na paz de Cristo:
«Enterrai este corpo não importa onde! Não vos dê isso qualquer cuidado! Tudo o
que vos peço é que vos lembreis de mim diante do altar do Senhor, onde quer que
estejais» (197).
«Depois [na anáfora], nós rezamos pelos santos padres e bispos falecidos, e em
geral por todos aqueles que morreram antes de nós, certos de que isso será de
grande proveito para as almas em favor das quais tal súplica se faz, enquanto está
presente a vítima santa e temível [...]. Apresentando a Deus as nossas súplicas
pelos que morreram, tenham embora sido pecadores, nós [...] apresentamos Cristo
imolado pelos nossos pecados, tornando assim propício, para eles e para nós, o
Deus que é amigo dos homens» (198).
1372. Santo Agostinho resumiu admiravelmente esta doutrina que nos incita a
uma participação cada vez mais perfeita no sacrifício do nosso Redentor que
celebramos na Eucaristia:
«Toda esta cidade resgatada, ou seja, a assembleia e sociedade dos santos, é
oferecida a Deus como um sacrifício universal pelo Sumo-Sacerdote que, sob a
forma de servo, foi ao ponto de Se oferecer por nós na sua paixão, para fazer de
nós corpo duma tal Cabeça [...] Tal é o sacrifício dos cristãos: "Nós que somos
muitos, formamos em Cristo um só corpo" (Rm 12, 5). E este sacrifício, a Igreja não
cessa de o renovar no sacramento do altar bem conhecido dos fiéis, em que lhe é
mostrado que ela própria é oferecida naquilo que oferece» (199).
A PRESENÇA DE CRISTO PELO PODER DA SUA PALAVRA E DO ESPÍRITO SANTO
1373. «Jesus Cristo, que morreu, que ressuscitou, que está à direita de Deus, que
intercede por nós» (Rm 8, 34), está presente na sua Igreja de múltiplos modos
(200): na sua Palavra, na oração da sua Igreja, «onde dois ou três estão reunidos
em Meu nome» (Mt 18, 20), nos pobres, nos doentes, nos prisioneiros (201), nos
seus sacramentos, dos quais é o autor, no sacrifício da missa e na pessoa do
ministro. Mas está presente «sobretudo sob as espécies eucarísticas» (202).
1374. O modo da presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva
a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz dela «como que a perfeição da
vida espiritual e o fim para que tendem todos os sacramentos» (203). No
santíssimo sacramento da Eucaristia estão «contidos,verdadeira, real e
substancialmente, o corpo e o sangue, conjuntamente com a alma e a divindade de
nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, Cristo completo» (204). «Esta
presença chama-se "real", não a título exclusivo como se as outras presenças não
fossem "reais", mas por excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna
presente Cristo completo, Deus e homem» (205).
1375. É pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo que Ele
Se torna presente neste sacramento. Os Padres da Igreja proclamaram com
firmeza a fé da mesma Igreja na eficácia da Palavra de Cristo e da acção do
Espírito Santo, para operar esta conversão. Assim, São João Crisóstomo declara:
«Não é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tomem corpo e sangue de
Cristo, mas o próprio Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura de
Cristo, pronuncia estas palavras, mas a sua eficácia e a graça são de Deus. Isto é o
Meu corpo, diz ele. Esta palavra transforma as coisas oferecidas» (206).
E Santo Ambrósio diz a respeito da mesma conversão:
Estejamos bem convencidos de que «isto não é o que a natureza formou, ruas o
que a bênção consagrou, e de que a força da bênção ultrapassa a da natureza,
porque pela bênção a própria natureza é mudada» (207). «A Palavra de Cristo, que
pôde fazer do nada o que não existia, não havia de poder mudar coisas existentes
no que elas ainda não eram? Porque não é menos dar às coisas a sua natureza
original do que mudá-la» (208).
1376. O Concílio de Trento resume a fé católica declarando: «Porque Cristo, nosso
Redentor, disse que o que Ele oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente
o seu corpo, sempre na Igreja se teve esta convicção que o sagrado Concílio de
novo declara: pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a
substância do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a
substância do vinho na substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica
chama, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação» (209).
1377. A presença eucarística de Cristo começa no momento da consagração e dura
enquanto as espécies eucarísticas subsistirem. Cristo está presente todo em cada
uma das espécies e todo em cada uma das suas partes, de maneira que a fracção
do pão não divide Cristo (210).
1378. O culto da Eucaristia. Na liturgia da Missa, nós exprimimos a nossa fé na
presença real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, entre outras maneiras,
ajoelhando ou inclinando-nos profundamente em sinal de adoração do Senhor. «A
Igreja Católica sempre prestou e continua a prestar este culto de adoração que é
devido ao sacramento da Eucaristia, não só durante a missa, mas também fora da
sua celebração: conservando com o maior cuidado as hóstias consagradas,
apresentando-as aos fiéis para que solenemente as venerem, e levando-as em
procissão» (211).
1379. A sagrada Reserva (sacrário) era, ao princípio, destinada a guardar, de
maneira digna, a Eucaristia, para poder ser levada aos doentes e ausentes, fora da
missa. Pelo aprofundamento da fé na presença real de Cristo na sua Eucaristia, a
Igreja tomou consciência do sentido da adoração silenciosa do Senhor, presente
sob as espécies eucarísticas, por isso que o sacrário deve ser colocado num lugar
particularmente digno da igreja; deve ser construído de tal modo que sublinhe e
manifeste a verdade da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento.
1380. É de suma conveniência que Cristo tenha querido ficar presente à sua Igreja
deste modo único. Uma vez que estava para deixar os seus sob forma visível,
Cristo quis dar-nos a sua presença sacramental; e visto que ia sofrer na cruz para
nos salvar, quis que tivéssemos o memorial do amor com que nos amou «até ao
fim» (Jo 13, 1), até ao dom da própria vida. Com efeito, na sua presença
eucarística, Ele fica misteriosamente no meio de nós, como Aquele que nos amou e
Se entregou por nós (212), e permanece sob os sinais que exprimem e comunicam
este amor:
«A Igreja e o mundo têm grande necessidade do culto eucarístico. Jesus espera-nos
neste sacramento do amor. Não regateemos o tempo para estar com Ele na
adoração, na contemplação cheia de fé e disposta a reparar as faltas graves e os
pecados do mundo. Que a nossa adoração não cesse jamais» (213).
1381. «A presença do verdadeiro corpo e do verdadeiro sangue de Cristo neste
sacramento, "não a apreendemos pelos sentidos, diz São Tomás, mas só pela
fé, que se apoia na autoridade de Deus". É por isso que, comentando o texto de
São Lucas 22, 19 "Isto é o Meu corpo que será entregue por vós", São Cirilo de
Alexandria declara: "Não vás agora perguntar-te se isso é verdade; mas acolhe
com fé as palavras do Senhor, porque Ele, que é a verdade, não mente"» (214):
«Adoro te devote,
latens Deitas,
Quae sub his figuris
Adoro-te com escondes,
Que sob estas
vere latitas:
Tibi se cor meum totem
subjicit,
Quica, Te contemplans,
totem deficit.
A ti meu coração Porque, ao contemplar-completo.
Visus, tactus, gustus in
Te fallitur
Sed auditu solo tutu
creditur:
Credo quidquid dixit Dei
Filius:
Nil hoc Veritatis verbo
verius»(215).
Visão, tacto Apenas ouvindo Creio em tudo Nada mais verdadeiro Verdade.
VI. O banquete pascal
1382. A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrificial em
que se perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do corpo e
sangue do Senhor. Mas a celebração do sacrifício eucarístico está toda orientada
para a união íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o
próprio Cristo, que Se ofereceu por nós.
1383. O altar, à volta do qual a Igreja se reúne na celebração da Eucaristia,
representa os dois aspectos dum mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa do
Senhor, e isto tanto mais que o altar cristão é o símbolo do próprio Cristo,
presente no meio da assembleia dos seus fiéis, ao mesmo tempo como vítima
oferecida para a nossa reconciliação e como alimento celeste que se nos dá. «Com
efeito, o que é o altar de Cristo senão a imagem do corpo de Cristo?» – pergunta
Santo Ambrósio (216); e noutro passo: «O altar representa o corpo [de Cristo], e o
corpo de Cristo está sobre o altar» (217). A liturgia exprime esta unidade do
sacrifício e da comunhão em numerosas orações. Assim, a Igreja de Roma reza na
sua anáfora:
«Humildemente Vos suplicamos, Deus todo-poderoso, que esta nossa oferenda seja
apresentada pelo vosso santo Anjo no altar celeste, diante da vossa divina
majestade, para que todos nós, participando deste altar pela comunhão do
santíssimo corpo e sangue do vosso Filho, alcancemos a plenitude das bênçãos e
graças do céu»» (218)
«TOMAI TODOS E COMEI»: A COMUNHÃO
1384. O Senhor dirige-nos um convite insistente a que O recebamos no sacramento
da Eucaristia: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do
Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós» (Jo 6, 53).
1385. Para responder a este convite, devemos preparar-nos para este momento
tão grande e santo. São Paulo exorta a um exame de consciência: «Quem comer o
pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do
Senhor. Examine-se, pois, cada qual a si mesmo e então coma desse pão e beba
deste cálice; pois quem come e bebe, sem discernir o corpo do Senhor, come e
bebe a própria condenação» (1Cor 11, 27-29). Aquele que tiver consciência dum
pecado grave deve receber o sacramento da Reconciliação antes de se aproximar
da Comunhão.
1386. Perante a grandeza deste sacramento, o fiel só pode retomar humildemente
e com ardente fé a palavra do centurião (219) : «Domine, non sum dignus, ut intres
sub tectum meum, sed tantum dic verbum, et sanabitur anima mea – Senhor, eu
não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma [só] palavra e serei
salvo» (220). E na divina liturgia de São João Crisóstomo, os fiéis oram no mesmo
Espírito:
«Faz-me comungar hoje, ó Filho de Deus, na tua ceia mística. Porque eu não
revelarei o segredo aos teus inimigos, nem te darei o beijo de Judas. Mas, como o
ladrão, eu te suplico: Lembra-Te de mim, Senhor, no teu Reino» (221).
1387. Para se prepararem convenientemente para receber este sacramento, os
fiéis devem observar o jejum prescrito na sua Igreja (222). A atitude corporal
(gestos, traje) deve traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em
que Cristo Se torna nosso hóspede.
1388. É conforme ao próprio sentido da Eucaristia que os fiéis, se tiverem as
disposições requeridas (223), recebam a Comunhão quando participam na missa
(224): «Recomenda-se vivamente aquela mais perfeita participação na missa em
que os fiéis, depois da comunhão do sacerdote, recebem, do mesmo sacrifício, o
corpo do Senhor» (225).
1389. A Igreja impõe aos fiéis a obrigação de «participar na divina liturgia nos
domingos e dias de festa» (226) e de receber a Eucaristia ao menos uma vez em
cada ano, se possível no tempo pascal (227) preparados pelo sacramento da
Reconciliação. Mas recomenda-lhes vivamente que recebam a santa Eucaristia aos
domingos e dias de festa, ou ainda mais vezes, mesmo todos os dias.
1390. Graças à presença sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a
comunhão apenas sob a espécie de pão permite receber todo o fruto de graça da
Eucaristia. Por razões pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se
legitimamente como a mais habitual no rito latino. «A sagrada Comunhão tem
uma forma mais plena, enquanto sinal, quando é feita sob as duas espécies. Com
efeito, nesta forma manifesta-se mais perfeitamente o sinal do banquete
eucarístico» (228). É a forma habitual de comungar, nos ritos orientais.
OS FRUTOS DA COMUNHÃO
1391. A Comunhão aumenta a nossa união com Cristo. Receber a Eucaristia na
comunhão traz consigo, como fruto principal, a união íntima com Cristo Jesus. De
facto, o Senhor diz: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece
em Mim e Eu nele» (Jo 6, 56). A vida em Cristo tem o seu fundamento no banquete
eucarístico: «Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também o
que Me come viverá por Mim» (Jo 6, 57):
«Quando, nas festas do Senhor, os fiéis recebem o corpo do Filho, proclamam uns
aos outros a boa-nova de que lhes foram dadas as arras da vida, como quando o
anjo disse a Maria de Magdala: "Cristo ressuscitou!". Eis que também agora a vida
e a ressurreição são conferidas àquele que recebe Cristo» (229).
1392. O que o alimento material produz na nossa vida corporal, realiza-o a
Comunhão, de modo admirável, na nossa vida espiritual. A comunhão da carne de
Cristo Ressuscitado, «vivificada pelo Espírito Santo e vivificante» (230), conserva,
aumenta e renova a vida da graça recebida no Baptismo. Este crescimento da vida
cristã precisa de ser alimentado pela Comunhão eucarística, pão da nossa
peregrinação, até à hora da morte, em que nos será dado como viático.
1393. A Comunhão afasta-nos do pecado. O corpo de Cristo que recebemos na
Comunhão é «entregue por nós» e o sangue que nós bebemos é «derramado pela
multidão, para remissão dos pecados». É por isso que a Eucaristia não pode unirnos
a Cristo sem nos purificar, ao mesmo tempo, dos pecados cometidos, e nos
preservar dos pecados futuros:
«Sempre que O recebemos, anunciamos a morte do Senhor (231). Se nós
anunciamos a morte do Senhor, anunciamos a remissão dos pecados. Se, de cada
vez que o seu sangue é derramado, é derramado para remissão dos pecados, eu
devo recebê-lo sempre, para que sempre Ele perdoe os meus pecados. Eu que peco
sempre, devo ter sempre um remédio» (232).
1394. Tal como o alimento corporal serve para restaurar as forças perdidas, assim
também a Eucaristia fortifica a caridade que, na vida quotidiana, tende a
enfraquecer-se; e esta caridade vivificada apaga os pecados veniais (233). Dando-
Se a nós, Cristo reaviva o nosso amor e torna-nos capazes de quebrar as ligações
desordenadas às criaturas e de nos radicarmos n'Ele.
«Uma vez que Cristo morreu por nós por amor, quando nós fazemos memória da
sua morte no momento do sacrifício, pedimos que esse amor nos seja dado pela
vinda do Espírito Santo; suplicamos humildemente que, em virtude desse amor
pelo qual Cristo quis morrer por nós, também nós, recebendo a graça do Espírito
Santo, possamos considerar o mundo como crucificado para nós e sermos nós
próprios crucificados para o mundo; [...] tendo recebido o dom do amor, morramos
para o pecado e vivamos para Deus» (234).
1395. Pela mesma caridade que acende em nós, a Eucaristia preserva-nos dos
pecados mortaisfuturos. Quanto mais participarmos na vida de Cristo e
progredirmos na sua amizade, mais difícil nos será romper com Ele pelo pecado
mortal. A Eucaristia não está ordenada ao perdão dos pecados mortais. Isso é
próprio do sacramento da Reconciliação. O que é próprio da Eucaristia é ser o
sacramento daqueles que estão na plena comunhão da Igreja.
1396. A unidade do corpo Místico: a Eucaristia faz a Igreja. Os que recebem a
Eucaristia ficam mais estreitamente unidos a Cristo. Por isso mesmo, Cristo une
todos os fiéis num só corpo: a Igreja. A Comunhão renova, fortalece e aprofunda
esta incorporação na Igreja já realizada pelo Baptismo. No Baptismo fomos
chamados a formar um só corpo (235). A Eucaristia realiza esta vocação: «O cálice
da bênção que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que
partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão,
nós, embora muitos, somos um só corpo, porque participamos desse único pão» (1
Cor 10, 16-17):
«Se sois o corpo de Cristo e seus membros, é o vosso sacramento que está
colocado sobre a mesa do Senhor, é o vosso sacramento que recebeis. Vós
respondeis «Ámen» [«Sim, é verdade!»] àquilo que recebeis e, ao responder, o
subscreveis. Tu ouves esta palavra: «O corpo de Cristo»; e respondes: «Ámen»,
Então, sê um membro de Cristo, para que o teu «Ámen» seja verdadeiro» (326).
1397. A Eucaristia compromete-nos com os pobres: Para receber, na verdade, o
corpo e o sangue de Cristo entregue por nós, temos de reconhecer Cristo nos mais
pobres, seus irmãos (237):
«Saboreaste o sangue do Senhor e não reconheces sequer o teu irmão. Desonras
esta mesa, se não julgas digno de partilhar o teu alimento aquele que foi julgado
digno de tomar parte nesta mesa. Deus libertou-te de todos os teus pecados e
chamou-te para ela; e tu nem então te tornaste mais misericordioso» (238).
1398. A Eucaristia e a unidade dos cristãos. Perante a grandeza deste mistério,
Santo Agostinho exclama: «O sacramentum pietatis! O signum unitatis! O
vinculum caritatis! – Ó sacramento da piedade, ó sinal da unidade, ó vínculo da
caridade!» Quanto mais dolorosas se fazem sentir as divisões da Igreja que
rompem a comum participação na mesa do Senhor, tanto mais prementes são as
orações que fazemos ao Senhor para que voltem os dias da unidade completa de
todos os que crêem n' Ele.
1399. As Igrejas orientais que não estão em comunhão plena com a Igreja Católica
celebram a Eucaristia com um grande amor. «Essas Igrejas, embora separadas,
têm verdadeiros sacramentos; e principalmente, em virtude da sucessão
apostólica, o sacerdócio e a Eucaristia, por meio dos quais continuam unidos a nós
por vínculos estreitíssimos» (240). Portanto, «uma certa comunhão in sacris é não
só possível, mas até aconselhável em circunstâncias oportunas e com aprovação da
autoridade eclesiástica» (241).
1400. As comunidades eclesiais saídas da Reforma, separadas da Igreja Católica,
«não [conservaram] a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico,
sobretudo por causa da falta do sacramento da Ordem» (242). É por esse motivo
que a intercomunhão eucarística com estas comunidades não é possível para a
Igreja Católica. No entanto, estas comunidades eclesiais, «quando na santa ceia
fazem memória da morte e ressurreição do Senhor, professam que a vida é
significada na comunhão com Cristo e esperam a sua vinda gloriosa» (243).
1401. Se urgir uma grave necessidade, segundo o juízo do Ordinário os ministros
católicos podem ministrar os sacramentos (Eucaristia, Penitência, Unção dos
Enfermos) aos outros cristãos que não estão em plena comunhão com a Igreja
Católica, mas que os pedem por sua livre vontade: requer-se, nesse caso, que
manifestem a fé católica em relação a estes sacramentos e que se encontrem nas
devidas disposições (244).
VII. A Eucaristia – «Penhor da futura glória»
1402. Numa antiga oração, a Igreja aclama assim o mistério da Eucaristia: «O
sacrum convivium in quo Christus sumitur: recolitur memoria passionis eius; mens
impletur gratia et futurae gloriae nobis pignus datur – Ó sagrado banquete, em
que se recebe Cristo e se comemora a sua paixão, em que a alma se enche de
graça e nos é dado o penhor da futura glória» (245). Se a Eucaristia é o memorial
da Páscoa da Senhor, se pela nossa comunhão no altar somos cumulados da
«plenitude das bênçãos se graças do céu» (246), a Eucaristia é também a
antecipação da glória celeste.
1403. Na última ceia, o próprio Senhor chamou a atenção dos seus discípulos para
a consumação da Páscoa no Reino de Deus: «Eu vos digo que não voltarei a beber
deste fruto da videira, até o dia em que beberei convosco o vinho novo no Reino
do meu Pai» (Mt 26, 29) (247). Sempre que a Igreja celebra a Eucaristia, lembra-se
desta promessa, e o seu olhar volta-se para «Aquele que vem» (Ap 1, 4). Na sua
oração, ela clama pela sua vinda: «Marana tha» (1Cor 16, 22), «Vem, Senhor
Jesus!» (Ap 22, 20), «que a Tua graça venha e que este mundo passe!» (248).
1404. A Igreja sabe que, desde já, o Senhor vem na sua Eucaristia e que está ali,
no meio de nós. Mas esta presença é velada. E é por isso que nós celebramos a
Eucaristia «expectantes beatam spem et adventum Salvatoris nostri Jesu Christi –
enquanto aguardamos a feliz esperança e a vinda de Jesus Cristo nosso Salvador»
(249), pedindo a graça de ser acolhidos «com bondade no vosso Reino, onde
também nós esperamos ser ser recebidos, para vivermos [...] eternamente na
vossa glória, quando enxugardes todas as lágrimas dos nossos olhos; e, vendo-Vos
tal como sois, Senhor nosso Deus, seremos para sempre semelhantes a Vós e
cantaremos sem fim os vossos louvores, por Jesus Cristo nosso Senhor» (250).
1405. Desta grande esperança – dos novos céus e da nova terra, onde habitará a
justiça (251) –não temos garantia mais segura nem sinal mais manifesto do que a
Eucaristia. Com efeito, cada vez que se celebra este mistério, «realiza-se a obra da
nossa redenção» (252) e nós «partimos o mesmo pão, que é remédio de
imortalidade, antídoto para não morrer, mas viver em Jesus Cristo para sempre»
(253).
Resumindo:
1406. Jesus diz: «Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá
eternamente [...] Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna [...], permanece em Mim, e Eu nele» (Jo 6, 51.54.56).
1407. A Eucaristia é o coração e o cume da vida da Igreja, porque nela Cristo
associa a sua Igreja e todos os seus membros ao seu sacrifício de louvor e de acção
de graças, oferecido ao Pai uma vez por todas na cruz; por este sacrifício, Ele
derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja.
1408. A celebração eucarística inclui sempre: a proclamação da Palavra de Deus, a
acção de graças a Deus Pai por todos os seus benefícios, sobretudo pelo dom do
seu Filho, a consagração do pão e do vinho e a participação no banquete litúrgico
pela recepção do corpo e do sangue do Senhor Estes elementos constituem um só
e mesmo acto de culto.
1409. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, isto é, da obra do salvação
realizada pela vida, morte e ressurreição de Cristo, obra tornada presente pela
acção litúrgica.
1410. É o próprio Cristo, sumo e eterno sacerdote da Nova Aliança, que, agindo
pelo ministério dos sacerdotes, oferece o sacrifício eucarístico. E é ainda o mesmo
Cristo, realmente presente sob as espécies do pão e do vinho, que é a oferenda do
sacrifício eucarístico.
1411. Só os sacerdotes validamente ordenados podem presidir à Eucaristia e
consagrar o pão e o vinho, para que se tornem o corpo e o sangue do Senhor:
1412. Os sinais essenciais do sacramento eucarístico são o pão de trigo e o vinho
da videira, sobre os quais é invocada a bênção do Espírito Santo, e o sacerdote
pronuncia as palavras da consagração ditas por Jesus durante a última ceia: «Isto
é o meu corpo, que será entregue por vós... Este é o cálice do meu sangue...».
1413. Pela consagração, opera-se a transubstanciação do pão e do vinho no corpo
e no sangue de Cristo. Sob as espécies consagradas do pão e do vinho, o próprio
Cristo, vivo e glorioso, está presente de modo verdadeiro, real e substancial, com
o seu corpo e o seu sangue, com a sua alma e a sua divindade (254).
1414. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é oferecida também em reparação dos
pecados dos vivos e dos defuntos e para obter de Deus benefícios espirituais ou
temporais.
1415. Aquele que quiser receber Cristo na Comunhão eucarística deve encontrarse
em estado de graça. Se alguém tiver consciência de ter pecado mortalmente,
não deve aproximar-se da Eucaristia sem primeiro ter recebido a absolvição no
sacramento da Penitência.
1416. A sagrada Comunhão do corpo e sangue de Cristo aumenta a união do
comungante com o Senhor perdoa-lhe os pecados veniais e preserva-o dos pecados
graves. E uma vez que os laços da caridade entre o comungante e Cristo são
reforçados, a recepção deste sacramento reforça a unidade da Igreja, corpo
Místico de Cristo.
1417. A Igreja recomenda vivamente aos fiéis que recebam a sagrada Comunhão
quando participam na celebração da Eucaristia; e impõe-lhes a obrigação de o
fazerem ao menos uma vez por ano.
1418. Uma vez que Cristo em pessoa está presente no Sacramento do Altar;
devemos honrá-Lo com culto de adoração. «A visita ao Santíssimo Sacramento é
uma prova de gratidão, um sinal de amor e um dever de adoração para com Cristo
nosso Senhor» (255).
1419. Tendo passado deste mundo para o Pai, Cristo deixou-nos na Eucaristia o
penhor da glória junto d'Ele: a participação no santo sacrifício identifica-nos com o
seu coração, sustenta as nossas forças ao longo da peregrinação desta vida, faz-nos
desejar a vida eterna e desde já nos une à Igreja do céu, à Santíssima Virgem e a
todos os santos.
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