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O TERCEIRO MANDAMENTO


«Lembra-te do dia do sábado para o santificares. Durante seis dias trabalharás e
farás todos os teus trabalhos. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus.
Não farás nele nenhum trabalho» (Ex 20, 8-10) (82).
«O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado: o Filho
doHomem até do sábado é Senhor» (Mc 2, 27-28).

I. O dia do sábado

2168. O terceiro mandamento do Decálogo refere-se à santificação do sábado: «O
sétimo dia é um sábado: um descanso completo consagrado ao Senhor» (Ex 31, 15).
2169. A Escritura faz, a este propósito, memória da criação: «Porque em seis dias o
Senhor fez o céu e a terra, o mar e tudo o que nele se encontra, mas ao sétimo dia
descansou. Eis porque o Senhor abençoou o dia do sábado e o santificou» (Ex 20,
11).
2170. A Escritura vê também, no dia do Senhor, o memorial da libertação de
Israel da escravidão do Egipto: «Recorda-te de que foste escravo no país do Egipto,
de onde o Senhor, teu Deus, te fez sair com mão forte e braço poderoso. É por isso
que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado» (Dt 5, 15).
2171. Deus confiou a Israel o sábado, para ele o guardar em sinal da
Aliança inviolável (83). O sábado é para o Senhor, santamente reservado ao
louvor de Deus, da sua obra criadora e das suas acções salvíficas a favor de Israel.
2172. O agir de Deus é o modelo do agir humano. Se Deus «descansou» no sétimo
dia (Ex 31, 17), o homem deve também «descansar» e deixai que os outros,
sobretudo os pobres, «tomem fôlego» (84). O sábado faz cessar os trabalhos
quotidianos e concede uma folga. É um dia de protesto contra as servidões do
trabalho e o culto do dinheiro
2173. O Evangelho relata numerosos incidentes em que Jesus é acusado de violar
a lei do sábado. Mas Jesus nunca viola a santidade deste dia (86). É com
autoridade que Ele dá a sua interpretação autêntica desta lei: «O sábado foi feito
para o homem e não o homem para o sábado» (Mc 2, 27). Cheio de compaixão,
Cristo autoriza-Se, em dia de sábado, a fazer o bem em vez do mal, a salvar uma
vida antes que perdê-la (87). O sábado é o dia do Senhor das misericórdias e da
honra de Deus (88). «O Filho do Homem é Senhor do próprio sábado» (Mc 2, 28).

II. O dia do Senhor

«Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria» (Sl 118, 24).
O DIA DA RESSURREIÇÃO: A NOVA CRIAÇÃO
2174. Jesus ressuscitou de entre os mortos «no primeiro dia da semana» (Mc 16, 2)
(89). Enquanto «primeiro dia», o dia da ressurreição de Cristo lembra a primeira
criação. Enquanto «oitavo dia», a seguir ao sábado (90), significa a nova criação,
inaugurada com a ressurreição de Cristo. Este dia tornou-se para os cristãos o
primeiro de todos os dias, a primeira de todas as festas, o dia do Senhor (Hê
kuriakê hêméra, dies dominica), o «Domingo»:
«Reunimo-nos todos no dia do Sol, porque foi o primeiro dia [após o Sábado
judaico, mas também o primeiro dia] em que Deus, tirando das trevas a matéria,
criou o mundo, mas também porque Jesus Cristo, nosso Salvador, nesse mesmo dia
ressuscitou dos mortos» (91).
O DOMINGO – REALIZAÇÃO DO SÁBADO
2175. O domingo distingue-se expressamente do sábado, ao qual sucede
cronologicamente, em cada semana, e cuja prescrição ritual substitui, para os
cristãos. O domingo realiza plenamente, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual
do sábado judaico e anuncia o descanso eterno do homem, em Deus. Porque o
culto da Lei preparava para o mistério de Cristo e o que nela se praticava era
figura de algum aspecto relativo a Cristo (92):
«Os que viveram segundo a antiga ordem das coisas alcançaram uma nova
esperança, não guardando já o sábado mas o dia do Senhor, em que a nossa vida
foi abençoada por Ele e pela sua morte» (93).
2176. A celebração do domingo é o cumprimento da prescrição moral,
naturalmente inscrita no coração do homem, de «prestar a Deus um culto exterior,
visível, público e regular, sob o signo da sua bondade universal para com os
homens» (94). O culto dominical cumpre o preceito moral da Antiga Aliança, cujo
ritmo e espírito retoma, ao celebrar em cada semana o Criador e o Redentor do
seu povo.
A EUCARISTIA DOMINICAL
2177. A celebração dominical do Dia e da Eucaristia do Senhor está no coração da
vida da Igreja. «O domingo, em que se celebra o mistério pascal, por tradição
apostólica, deve guardar-se em toda a Igreja como o primordial dia festivo de
preceito» (95).
«Do mesmo modo devem guardar-se os dias do Natal de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Epifania, Ascensão e santíssimo corpo e sangue de Cristo, Santa Maria Mãe
de Deus, sua Imaculada Conceição e Assunção, São José e os Apóstolos São Pedro e
São Paulo, e finalmente o de todos os Santos» (96).
2178. Esta prática da reunião da assembleia cristã data dos princípios da idade
apostólica (97). A Epístola aos Hebreus lembra: «Sem abandonarmos a nossa
assembleia, como é costume de alguns, mas exortando-nos mutuamente» (Heb 10,
25).
A Tradição guarda a lembrança duma exortação sempre actual: «Vir cedo à igreja.
aproximar-se do Senhor e confessar os próprios pecados, arrepender-se deles na
oração [...], assistir à santa e divina liturgia, acabar a sua oração e não sair antes
da despedida [...]. Muitas vezes o temos dito: este dia é-vos dado para a oração e
o descanso. É o dia que o Senhor fez: nele exultemos e cantemos de alegria» (98).
2179. «A paróquia é uma certa comunidade de fiéis, constituída estavelmente na
Igreja particular, cuja cura pastoral, sob a autoridade do bispo diocesano, está
confiada ao pároco, como a seu pastor próprio»(99). É o lugar onde todos os fiéis
podem reunir-se para a celebração dominical da Eucaristia. A paróquia inicia o
povo cristão na expressão ordinária da vida litúrgica e reúne-o nesta celebração;
ensina a doutrina salvífica de Cristo; e pratica a caridade do Senhor em obras boas
e fraternas (100):
«Podes também rezar em tua casa; mas não podes rezar aí como na igreja, onde
muitos se reúnem, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. [...] Há lá
qualquer coisa mais: a união dos espíritos, a harmonia das almas, o laço da
caridade, as orações dos sacerdotes» (101).
A OBRIGAÇÃO DO DOMINGO
2180. O mandamento da Igreja determina e precisa a lei do Senhor: «No domingo
e nos outros dias festivos de preceito, os fiéis têm obrigação de participar na
missa» (102). «Cumpre o preceito de participar na missa quem a ela assiste onde
quer que se celebre em rito católico, quer no próprio dia festivo quer na tarde do
antecedente» (103).
2181. A Eucaristia dominical fundamenta e sanciona toda a prática cristã. É por
isso que os fiéis têm obrigação de participar na Eucaristia nos dias de preceito, a
menos que estejam justificados, por motivo sério (por exemplo, doença, obrigação
de cuidar de crianças de peito) ou dispensados pelo seu pastor (104). Os que
deliberadamente faltam a esta obrigação cometem um pecado grave.
2182. A participação na celebração comum da Eucaristia dominical é um
testemunho de pertença e fidelidade a Cristo e à sua Igreja. Os fiéis atestam desse
modo a sua comunhão na fé e na caridade. Juntos, dão testemunho da santidade
de Deus e da sua esperança na salvação. E reconfortam-se mutuamente, sob a
acção do Espírito Santo.
2183. «Se for impossível a participação na celebração eucarística por falta de
ministro sagrado ou por outra causa grave, recomenda-se muito que os fiéis
tomem parte na liturgia da Palavra, se a houver na igreja paroquial ou noutro
lugar sagrado, celebrada segundo as prescrições do bispo diocesano, ou consagrem
um tempo conveniente à oração pessoal ou em família ou em grupos de famílias,
conforme a oportunidade» (105).
DIA DE GRAÇA E DE CESSAÇÃO DO TRABALHO
2184. Tal como Deus «repousou no sétimo dia, depois de todo o trabalho que
realizara» (Gn 2, 2), assim a vida humana é ritmada pelo trabalho e pelo repouso.
A instituição do Dia do Senhor contribui para que todos gozem do tempo de
descanso e lazer suficiente, que lhes permita cultivar a vida familiar, cultural,
social e religiosa (106).
2185. Aos domingos e outros dias festivos de preceito, os fiéis abstenham-se de
trabalhos e negócios que impeçam o culto devido a Deus, a alegria própria do Dia
do Senhor, a prática das obras de misericórdia ou o devido repouso do espírito e
do corpo (107). As necessidades familiares ou uma grande utilidade social
constituem justificações legítimas em relação ao preceito do descanso dominical.
Mas os fiéis estarão atentos a que legítimas desculpas não introduzam hábitos
prejudiciais à religião, à vida de família e à saúde.
«O amor da verdade procura o ócio santo: a necessidade do amor aceita o negócio
justo» (108).
2186. Os cristãos que dispõem de tempos livres lembrem-se dos seus irmãos que
têm as mesmas necessidades e os mesmos direitos, e não podem descansar por
motivos de pobreza e de miséria. O domingo é tradicionalmente consagrado, pela
piedade cristã, às boas obras e aos serviços humildes dos doentes, enfermos e
pessoas de idade. Os cristãos também santificarão o domingo prestando à sua
família e vizinhos tempo e cuidados difíceis de prestar nos outros dias da semana.
O domingo é um tempo de reflexão, de silêncio, de cultura e de meditação, que
favorecem o crescimento da vida interior e cristã.
2187. Santificar os domingos e festas de guarda exige um esforço comum. Todo o
cristão deve evitar impor a outrem, sem necessidade, o que possa impedi-lo de
guardar o Dia do Senhor. Quando os costumes (desporto, restaurantes, etc.) e as
obrigações sociais (serviços públicos, etc.) reclamam de alguns um trabalho
dominical, cada um fica com a responsabilidade de um tempo suficiente de
descanso. Os fiéis estarão atentos, com moderação e caridade, para evitar os
excessos e violências originados às vezes nas diversões de massa. Não obstante as
pressões de ordem económica, os poderes públicos preocupar-se-ão em assegurar
aos cidadãos um tempo destinado ao repouso e ao culto divino. Os patrões têm
obrigação análoga para com os seus empregados.
2188. No respeito pela liberdade religiosa e pelo bem comum de todos, os cristãos
devem esforçar-se pelo reconhecimento dos domingos e dias santos da Igreja como
dias feriados legais. Devem dar a todos o exemplo público de oração, respeito e
alegria, e defender as suas tradições como uma contribuição preciosa para a vida
espiritual da sociedade humana. Se a legislação do país ou outras razões
obrigarem a trabalhar ao domingo, que este dia seja vivido, no entanto, como
sendo o dia da nossa libertação, que nos faz participantes da «reunião festiva», da
«assembleia de primogénitos inscritos nos céus» (Heb 12, 22-23).

Resumindo:
2189. «Guarda o dia do sábado para o santificar» (Dt 5, 12). «O sétimo dia será um
dia de repouso completo, consagrado ao Senhor» (Ex 31, 15).
2190. O sábado, que representava o acabamento da primeira criação, é
substituído pelo domingo, que lembra a criação nova, inaugurada na ressurreição
de Cristo.
2191. A Igreja celebra o dia da ressurreição de Cristo no oitavo dia que, com
razão, se chama dia do Senhor ou domingo (109).
2192. «O domingo [...] deve guardar-se em toda a Igreja como o primordial dia
festivo de preceito» (110). «No domingo e outros dias santos de preceito, os fiéis
têm obrigação de participar na Missa» (111).
2193. «No domingo e nos outros dias festivos de preceito, os fiéis [...] abstenhamse
daqueles trabalhos e negócios que impeçam o culto a prestar a Deus, a alegria
própria do dia do Senhor ou o devido descanso do espírito e do corpo» (112).
2194. A instituição do domingo contribui para que «todos gozem do tempo
suficiente de repouso e lazer, que lhes permita atender vida familiar, cultural,
social e religiosa» (113).
2195. Todo o cristão deve evitar impor a outrem, sem necessidade, o que o impeça
de guardar o Dia do Senhor.

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