1285. Com o Baptismo e a Eucaristia, o sacramento da Confirmação constitui o
conjunto dos «sacramentos da iniciação cristã», cuja unidade deve ser
salvaguardada. Por isso, é preciso explicar aos fiéis que a recepção deste
sacramento é necessária para a plenitude da graça baptismal (90). Com efeito, os
baptizados «pelo sacramento da Confirmação, são mais perfeitamente vinculados à
Igreja, enriquecidos com uma força especial do Espírito Santo e deste modo ficam
mais estritamente obrigados a difundir e a defender a fé por palavras e obras,
como verdadeiras testemunhas de Cristo» (91).
I. A Confirmação na economia da salvação
1286. No Antigo Testamento, os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor
repousaria sobre o Messias esperado (92), em vista da sua missão salvífica (93). A
descida do Espírito Santo sobre Jesus, aquando do seu baptismo por João, foi o
sinal de que era Ele o que havia de vir, de que era o Messias, o Filho de Deus (94).
Concebido pelo poder do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se
realizam numa comunhão total com o mesmo Espírito Santo, que o Pai Lhe dá
«sem medida» (Jo 3, 34).
1287. Ora, esta plenitude do Espírito não devia permanecer unicamente no
Messias: devia ser comunicada a todo o povo messiânico (95). Repetidas vezes,
Cristo prometeu esta efusão do Espírito promessa que cumpriu, primeiro no dia de
Páscoa (97) e depois, de modo mais esplêndido, no dia de Pentecostes (98). Cheios
do Espírito Santo, os Apóstolos começaram a proclamar «as maravilhas de
Deus» (Act 2, 11) e Pedro declarou que esta efusão do Espírito era o sinal dos
tempos messiânicos (99). Aqueles que então acreditaram na pregação apostólica, e
se fizeram baptizar, receberam, por seu turno, o dom do Espírito Santo (100).
1288. «A partir de então, os Apóstolos, para cumprirem a vontade de Cristo,
comunicaram aos neófitos, pela imposição das mãos, o dom do Espírito para
completar a graça do Baptismo (101). É por isso que, na Epístola aos Hebreus, se
menciona, entre os elementos da primeira instrução cristã, a doutrina sobre os
Baptismos e também sobre a imposição das mãos (102). A imposição das mãos é
justificadamente reconhecida, pela Tradição católica, como a origem do
sacramento da Confirmação que, de certo modo, perpetua na Igreja a graça do
Pentecostes» (103).
1289. Bem cedo, para melhor significar o dom do Espírito Santo, se acrescentou à
imposição das mãos uma unção com óleo perfumado (crisma). Esta unção ilustra o
nome de «cristão», que significa «ungido»,e que vai buscar a sua origem ao
próprio nome de Cristo, aquele que «Deus ungiu com o Espírito Santo» (Act 10,
38). E este rito da unção mantém-se até aos nossos dias, tanto no Oriente como no
Ocidente. É por isso que, no Oriente, este sacramento se chamacrismação (= unção
do crisma), ou myron, que significa «crisma». No Ocidente, o nome
deConfirmação sugere que este sacramento confirma o Baptismo e, ao mesmo
tempo, consolida a graça baptismal.
DUAS TRADIÇÕES: O ORIENTE E O OCIDENTE
1290. Nos primeiros séculos, a Confirmação constitui geralmente uma única
celebração com o Baptismo, formando com ele, segundo a expressão de São
Cipriano, um «sacramento duplo» (104). Entre outras razões, a multiplicação dos
baptismos de crianças, e isto em qualquer tempo do ano, e a multiplicação das
paróquias (rurais), ampliando as dioceses, deixaram de permitir a presença do
bispo em todas as celebrações baptismais. No Ocidente, porque se desejava
reservar ao bispo o completar do Baptismo, instaurou-se a separação, no tempo,
dos dois sacramentos. O Oriente conservou unidos os dois sacramentos, de tal
modo que a Confirmação é dada pelo sacerdote que baptiza. Este, no entanto, só o
pode fazer com o «myron» consagrado por um bispo (105).
1291. Um costume da Igreja de Roma facilitou a expansão da prática ocidental,
graças a uma dupla unção com o santo crisma, depois do baptismo: a unção já feita
pelo sacerdote ao neófito ao sair do banho baptismal é completada por uma
segunda unção, feita pelo bispo na fronte de cada um dos novos baptizados (106).
A primeira unção com o santo crisma, feita pelo sacerdote, ficou ligada ao rito
baptismal e significa a participação do baptizado nas funções profética, sacerdotal
e real de Cristo. Se o Baptismo é conferido a um adulto, há apenas uma unção pósbaptismal:
a da Confirmação.
1292. A prática das Igrejas do Oriente sublinha mais a unidade da iniciação cristã.
A da Igreja latina exprime, com maior nitidez, a comunhão do novo cristão com o
seu bispo, garante e servidor da unidade da sua Igreja, da sua catolicidade e da
sua apostolicidade; e assim, a ligação com as origens apostólicas da Igreja de
Cristo.
II. Os sinais e o rito da Confirmação
1293. No rito deste sacramento, convém considerar o sinal da unção e o que essa
unção designa e imprime: o selo espiritual.
A unção, na simbologia bíblica e antiga, é rica de numerosas significações: o óleo é
sinal de abundância (107) e de alegria (108), purifica (unção antes e depois do
banho) e torna ágil (unção dos atletas e lutadores): é sinal de cura, pois suaviza as
contusões e as feridas (109) e torna radiante de beleza, saúde e força.
1294. Todos estes significados da unção com óleo se reencontram na vida
sacramental. A unção antes do Baptismo, com o óleo dos catecúmenos, significa
purificação e fortalecimento; a unção dos enfermos exprime cura e conforto. A
unção com o santo crisma depois do Baptismo, na Confirmação e na Ordenação, é
sinal duma consagração. Pela Confirmação, os cristãos, quer dizer, os que são
ungidos, participam mais na missão de Jesus Cristo e na plenitude do Espírito
Santo de que Ele está repleto, a fim de que toda a sua vida espalhe «o bom odor
de Cristo» (110)
1295. Por esta unção, o confirmando recebe «a marca», o selo do Espírito Santo. O
selo é o símbolo da pessoa (111), sinal da sua autoridade (112), da sua propriedade
sobre um objecto (113). Era assim que se marcavam os soldados com o selo do seu
chefe e também os escravos com o do seu dono. O selo autentica um acto jurídico
(114) ou um documento (115) e, eventualmente, torna-o secreto (116).
1296. O próprio Cristo se declara marcado com o selo do Pai (117). O cristão
também está marcado com um selo: «Foi Deus que nos concedeu a unção, nos
marcou também com o seu selo e depôs as arras do Espírito em nossos corações»
(2 Cor 1, 21-22) (118). Este selo do Espírito Santo marca a pertença total a Cristo, a
entrega para sempre ao seu serviço, mas também a promessa da protecção divina
na grande prova escatológica (119).
A CELEBRAÇÃO DA CONFIRMAÇÃO
1297. Um momento importante que precede a celebração da Confirmação, mas
que, de certo modo, faz parte dela, é a consagração do santo crisma. É o bispo que,
em Quinta-Feira Santa, no decorrer da missa crismal, consagra o santo crisma para
toda a sua diocese. Nas Igrejas do Oriente, esta consagração é mesmo reservada
ao Patriarca:
A liturgia de Antioquia exprime assim a epiclese da consagração do santo crisma
(myron, em grego): «[Pai (...), envia o Teu Espírito Santo] sobre nós e sobre este
óleo que está diante de nós e consagra-o, para que seja para todos os que com ele
forem ungidos e marcados, myron santo, myron sacerdotal, myron real, unção de
alegria, a veste da luz, o manto da salvação, o dom espiritual, a santificação das
almas e dos corpos, a felicidade imperecível, o selo indelével, o escudo da fé, o
capacete invencível contra todas as obras do Adversário» (120).
1298. Quando a Confirmação é celebrada separadamente do Baptismo, como
acontece no rito romano, a Liturgia do sacramento começa pela renovação das
promessas do Baptismo e pela profissão de fé dos confirmandos. Assim se evidencia
claramente que a Confirmação se situa na continuação do Baptismo (121). No caso
do Baptismo dum adulto, este recebe imediatamente a Confirmação e participa na
Eucaristia (122).
1299. No rito romano, o bispo estende as mãos sobre o grupo dos confirmandos,
gesto que, desde o tempo dos Apóstolos, é sinal do dom do Espírito. E o bispo
invoca assim a efusão do Espírito:
«Deus todo-poderoso, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, pela água e pelo
Espírito Santo, destes uma vida nova a estes vossos servos e os libertastes do
pecado, enviai sobre eles o Espírito Santo Paráclito; dai-lhes, Senhor, o espírito de
sabedoria e de inteligência, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de
ciência e de piedade, e enchei-os do espírito do vosso temor. Por nosso Senhor
Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo» (123).
1300. Segue-se o rito essencial do sacramento. No rito latino, «o sacramento da
Confirmação é conferido pela unção do santo crisma sobre a fronte, feita com a
imposição da mão, e por estas palavras: «Accipe signaculum doni Spiritus Sancti –
Recebe por este sinal o Espírito Santo, o Dom de Deus» (124). Nas Igrejas
orientais de rito bizantino, a unção do myron faz-se depois duma oração de
epiclese, sobre as partes mais significativas do corpo: a fronte, os olhos, o nariz, os
ouvidos, os lábios, o peito, as costas, as mãos e os pés, sendo cada unção
acompanhada da fórmula: «Σφραγίζ δωραζ Πυεύματζ Άγίoυ» («Signaculum doni
Spiritus Sancti – Selo do dom que é o Espírito Santo» ) (125).
1301. O ósculo da paz, com que termina o rito do sacramento, significa e manifesta
a comunhão eclesial com o bispo e com todos os fiéis (126).
III. Os efeitos da Confirmação
1302. Ressalta desta celebração que o efeito do sacramento da Confirmação é uma
efusão especial do Espírito Santo, tal como outrora foi concedida aos Apóstolos, no
dia de Pentecostes.
1303. Por esse facto, a Confirmação proporciona crescimento e aprofundamento da
graça baptismal:
– enraíza-nos mais profundamente na filiação divina, que nos leva a dizer « Abba!
Pai!» (Rm 8, 15);
– une-nos mais firmemente a Cristo;
– aumenta em nós os dons do Espírito Santo;
– torna mais perfeito o laço que nos une à Igreja (127);
– dá-nos uma força especial do Espírito Santo para propagarmos e defendermos a
fé, pela palavra e pela acção, como verdadeiras testemunhas de Cristo, para
confessarmos com valentia o nome de Cristo, e para nunca nos envergonharmos da
cruz (128):
«Lembra-te, pois, de que recebeste o sinal espiritual, o espírito de sabedoria e de
entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de ciência e de
piedade, o espírito do santo temor, e guarda o que recebeste. Deus Pai marcou-te
com o seu sinal, o Senhor Jesus Cristo confirmou-te e pôs no teu coração o penhor
do Espírito» (129).
1304. Tal como o Baptismo, de que é a consumação, a Confirmação é dada uma só
vez. Com efeito, a Confirmação imprime na alma uma marca espiritual indelével,
o «carácter» (130), que é sinal de que Jesus Cristo marcou um cristão com o selo do
seu Espírito, revestindo-o da fortaleza do Alto, para que seja sua testemunha
(131).
1305. O «carácter» aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis, recebido no Baptismo,
e «o confirmado recebe a força de confessar a fé de Cristo publicamente e como em
virtude dum encargo oficial (quasi ex officio)» (132).
IV. Quem pode receber este sacramento?
1306. Todo o baptizado ainda não confirmado pode e deve receber o sacramento
da Confirmação (133). Uma vez que Baptismo, Confirmação e Eucaristia formam
uma unidade, segue-se que «os fiéis têm obrigação de receber este sacramento no
tempo devido» (134), porque, sem a Confirmação e a Eucaristia, o sacramento do
Baptismo é, sem dúvida, válido e eficaz, mas a iniciação cristã fica incompleta.
1307. O costume latino, desde há séculos, aponta «a idade da discrição» como
ponta de referência para se receber a Confirmação. Em perigo de morte, porém,
devem confirmar-se as crianças, mesmo que ainda não tenham atingido a idade da
discrição (135).
1308. Se por vezes se fala da Confirmação como «sacramento da maturidade
cristã», não deve, no entanto, confundir-se a idade adulta da fé com a idade adulta
do crescimento natural, nem esquecer-se que a graça baptismal é uma graça de
eleição gratuita e imerecida, que não precisa duma «ratificação» para se tornar
efectiva. São Tomás recorda isso mesmo:
«A idade do corpo não constitui um prejuízo para a alma. Por isso, mesmo na
infância, o homem pode receber a perfeição da idade espiritual de que fala a
Sabedoria (4, 8): «A velhice honrada não é a que dão os longos dias, nem se avalia
pelo número dos anos». E foi assim que muitas crianças, graças à fortaleza do
Espírito Santo que tinham recebido, lutaram corajosamente e até ao sangue por
Cristo» (136).
1309. A preparação para a Confirmação deve ter por fim conduzir o cristão a uma
união mais íntima com Cristo e a uma familiaridade mais viva com o Espírito
Santo, com a sua acção, os seus dons e os seus apelos, para melhor assumir as
responsabilidades apostólicas da vida cristã. Desse modo, a catequese da
Confirmação deve esforçar-se por despertar o sentido de pertença à Igreja de
Jesus Cristo, tanto à Igreja universal como à comunidade paroquial. Esta última
tem uma responsabilidade particular na preparação dos confirmandos (137).
1310. Para receber a Confirmação é preciso estar em estado de graça. Convém
recorrer ao sacramento da Penitência para ser purificado, em vista do dom do
Espírito Santo. E uma oração mais intensa deve preparar para receber com
docilidade e disponibilidade a força e as graças do Espírito Santo (138).
1311. Tanto para a Confirmação, como para o Baptismo, convém que os candidatos
procurem a ajuda espiritual dum padrinho ou de uma madrinha. É conveniente que
seja o mesmo do Baptismo, para marcar bem a unidade dos dois sacramentos
(139).
V. O ministro da Confirmação
1312. O ministro originário da Confirmação é o bispo (140).
No Oriente, é ordinariamente o sacerdote que baptiza quem imediatamente
confere a Confirmação, numa só e mesma celebração. Fá-lo, no entanto, com o
santo crisma consagrado pelo patriarca ou pelo bispo, o que exprime a unidade
apostólica da Igreja, cujos laços são reforçados pelo sacramento da Confirmação.
Na Igreja latina aplica-se a mesma disciplina nos baptismos de adultos ou quando é
admitido à plena comunhão com a Igreja um baptizado de outra comunidade
cristã, que não tenha recebido validamente o sacramento da Confirmação (141).
1313. No rito latino, o ministro ordinário da Confirmação é o bispo (142). Mesmo
que o bispo possa, em caso de necessidade, conceder a presbíteros a faculdade de
administrar a Confirmação (143), é conveniente que seja ele mesmo a conferi-la,
não se esquecendo de que foi por esse motivo que a celebração da Confirmação foi
separada, no tempo, da do Baptismo. Os bispos são os sucessores dos Apóstolos e
receberam a plenitude do sacramento da Ordem. A administração deste
sacramento feita por eles, realça que ele tem como efeito unir mais estreitamente
aqueles que o recebem à Igreja, às suas origens apostólicas e à sua missão de dar
testemunho de Cristo.
1314. Se um cristão estiver em perigo de morte, qualquer sacerdote pode conferirlhe
a Confirmação (144). De facto, é vontade da Igreja que nenhum dos seus filhos,
mesmo pequenino, parta deste mundo sem ter sido levado à perfeição pelo
Espírito Santo com o dom da plenitude de Cristo.
Resumindo:
1315. «Quando os Apóstolos que estavam em Jerusalém ouviram dizer que a
Samaria recebera a Palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Quando
chegaram lá, rezaram pelos samaritanos para que recebessem o Espírito Santo,
que ainda não tinha descido sobre eles. Apenas tinham sido baptizados em nome
do Senhor Jesus. Então impunham-lhes as mãos e eles recebiam o Espírito Santo»
(Act 8, 14-17).
1316. A Confirmação completa a graça baptismal; ela é o sacramento que dá o
Espírito Santo, para nos enraizar mais profundamente na filiação divina,
incorporar-nos mais solidamente em Cristo, tornar mais firme o laço que nos
prende à Igreja, associar-nos mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemunho da
fé cristã pela palavra, acompanhada de obras.
1317. A Confirmação, tal como o Baptismo, imprime na alma do cristão um sinal
espiritual ou carácter indelével; é por isso que só se pode receber este sacramento
uma vez na vida.
1318. No Oriente, este sacramento é administrado imediatamente a seguir ao
Baptismo e é seguido da participação na Eucaristia; esta tradição põe em relevo a
unidade dos três sacramentos da iniciação cristã. Na Igreja latina, este sacramento
é administrado quando se atinge a idade da razão e ordinariamente a sua
celebração é reservada ao bispo, significando assim que este sacramento vem
robustecer o vínculo eclesial.
1319. O candidato à Confirmação, que atingiu a idade da razão, deve professar a
fé, estar em estado de graça, ter a intenção de receber o sacramento e estar
preparado para assumir o seu papel de discípulo e testemunha de Cristo, na
comunidade eclesial e nos assuntos temporais.
1320. O rito essencial da Confirmação é a unção com o santo crisma na fronte do
baptizado (no Oriente também em outros órgãos dos sentidos), com a imposição da
mão do ministro e as palavras: «Accipe signaculum doni Spiritus Sancti – Recebe
por este sinal o Espírito Santo, o Dom de Deus» (no rito Romano) ou: «Signaculum
doni Spiritus Sancti – Selo do dom que é o Espírito Santo» (no rito Bizantino).
1321. Quando a Confirmação é celebrada separadamente do Baptismo, a sua
ligação com este sacramento é expressa, entre outras coisas, pela renovação dos
compromissos baptismais. A celebração da Confirmação no decorrer da Eucaristia
contribui para sublinhar a unidade dos sacramentos da iniciação cristã.
conjunto dos «sacramentos da iniciação cristã», cuja unidade deve ser
salvaguardada. Por isso, é preciso explicar aos fiéis que a recepção deste
sacramento é necessária para a plenitude da graça baptismal (90). Com efeito, os
baptizados «pelo sacramento da Confirmação, são mais perfeitamente vinculados à
Igreja, enriquecidos com uma força especial do Espírito Santo e deste modo ficam
mais estritamente obrigados a difundir e a defender a fé por palavras e obras,
como verdadeiras testemunhas de Cristo» (91).
I. A Confirmação na economia da salvação
1286. No Antigo Testamento, os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor
repousaria sobre o Messias esperado (92), em vista da sua missão salvífica (93). A
descida do Espírito Santo sobre Jesus, aquando do seu baptismo por João, foi o
sinal de que era Ele o que havia de vir, de que era o Messias, o Filho de Deus (94).
Concebido pelo poder do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se
realizam numa comunhão total com o mesmo Espírito Santo, que o Pai Lhe dá
«sem medida» (Jo 3, 34).
1287. Ora, esta plenitude do Espírito não devia permanecer unicamente no
Messias: devia ser comunicada a todo o povo messiânico (95). Repetidas vezes,
Cristo prometeu esta efusão do Espírito promessa que cumpriu, primeiro no dia de
Páscoa (97) e depois, de modo mais esplêndido, no dia de Pentecostes (98). Cheios
do Espírito Santo, os Apóstolos começaram a proclamar «as maravilhas de
Deus» (Act 2, 11) e Pedro declarou que esta efusão do Espírito era o sinal dos
tempos messiânicos (99). Aqueles que então acreditaram na pregação apostólica, e
se fizeram baptizar, receberam, por seu turno, o dom do Espírito Santo (100).
1288. «A partir de então, os Apóstolos, para cumprirem a vontade de Cristo,
comunicaram aos neófitos, pela imposição das mãos, o dom do Espírito para
completar a graça do Baptismo (101). É por isso que, na Epístola aos Hebreus, se
menciona, entre os elementos da primeira instrução cristã, a doutrina sobre os
Baptismos e também sobre a imposição das mãos (102). A imposição das mãos é
justificadamente reconhecida, pela Tradição católica, como a origem do
sacramento da Confirmação que, de certo modo, perpetua na Igreja a graça do
Pentecostes» (103).
1289. Bem cedo, para melhor significar o dom do Espírito Santo, se acrescentou à
imposição das mãos uma unção com óleo perfumado (crisma). Esta unção ilustra o
nome de «cristão», que significa «ungido»,e que vai buscar a sua origem ao
próprio nome de Cristo, aquele que «Deus ungiu com o Espírito Santo» (Act 10,
38). E este rito da unção mantém-se até aos nossos dias, tanto no Oriente como no
Ocidente. É por isso que, no Oriente, este sacramento se chamacrismação (= unção
do crisma), ou myron, que significa «crisma». No Ocidente, o nome
deConfirmação sugere que este sacramento confirma o Baptismo e, ao mesmo
tempo, consolida a graça baptismal.
DUAS TRADIÇÕES: O ORIENTE E O OCIDENTE
1290. Nos primeiros séculos, a Confirmação constitui geralmente uma única
celebração com o Baptismo, formando com ele, segundo a expressão de São
Cipriano, um «sacramento duplo» (104). Entre outras razões, a multiplicação dos
baptismos de crianças, e isto em qualquer tempo do ano, e a multiplicação das
paróquias (rurais), ampliando as dioceses, deixaram de permitir a presença do
bispo em todas as celebrações baptismais. No Ocidente, porque se desejava
reservar ao bispo o completar do Baptismo, instaurou-se a separação, no tempo,
dos dois sacramentos. O Oriente conservou unidos os dois sacramentos, de tal
modo que a Confirmação é dada pelo sacerdote que baptiza. Este, no entanto, só o
pode fazer com o «myron» consagrado por um bispo (105).
1291. Um costume da Igreja de Roma facilitou a expansão da prática ocidental,
graças a uma dupla unção com o santo crisma, depois do baptismo: a unção já feita
pelo sacerdote ao neófito ao sair do banho baptismal é completada por uma
segunda unção, feita pelo bispo na fronte de cada um dos novos baptizados (106).
A primeira unção com o santo crisma, feita pelo sacerdote, ficou ligada ao rito
baptismal e significa a participação do baptizado nas funções profética, sacerdotal
e real de Cristo. Se o Baptismo é conferido a um adulto, há apenas uma unção pósbaptismal:
a da Confirmação.
1292. A prática das Igrejas do Oriente sublinha mais a unidade da iniciação cristã.
A da Igreja latina exprime, com maior nitidez, a comunhão do novo cristão com o
seu bispo, garante e servidor da unidade da sua Igreja, da sua catolicidade e da
sua apostolicidade; e assim, a ligação com as origens apostólicas da Igreja de
Cristo.
II. Os sinais e o rito da Confirmação
1293. No rito deste sacramento, convém considerar o sinal da unção e o que essa
unção designa e imprime: o selo espiritual.
A unção, na simbologia bíblica e antiga, é rica de numerosas significações: o óleo é
sinal de abundância (107) e de alegria (108), purifica (unção antes e depois do
banho) e torna ágil (unção dos atletas e lutadores): é sinal de cura, pois suaviza as
contusões e as feridas (109) e torna radiante de beleza, saúde e força.
1294. Todos estes significados da unção com óleo se reencontram na vida
sacramental. A unção antes do Baptismo, com o óleo dos catecúmenos, significa
purificação e fortalecimento; a unção dos enfermos exprime cura e conforto. A
unção com o santo crisma depois do Baptismo, na Confirmação e na Ordenação, é
sinal duma consagração. Pela Confirmação, os cristãos, quer dizer, os que são
ungidos, participam mais na missão de Jesus Cristo e na plenitude do Espírito
Santo de que Ele está repleto, a fim de que toda a sua vida espalhe «o bom odor
de Cristo» (110)
1295. Por esta unção, o confirmando recebe «a marca», o selo do Espírito Santo. O
selo é o símbolo da pessoa (111), sinal da sua autoridade (112), da sua propriedade
sobre um objecto (113). Era assim que se marcavam os soldados com o selo do seu
chefe e também os escravos com o do seu dono. O selo autentica um acto jurídico
(114) ou um documento (115) e, eventualmente, torna-o secreto (116).
1296. O próprio Cristo se declara marcado com o selo do Pai (117). O cristão
também está marcado com um selo: «Foi Deus que nos concedeu a unção, nos
marcou também com o seu selo e depôs as arras do Espírito em nossos corações»
(2 Cor 1, 21-22) (118). Este selo do Espírito Santo marca a pertença total a Cristo, a
entrega para sempre ao seu serviço, mas também a promessa da protecção divina
na grande prova escatológica (119).
A CELEBRAÇÃO DA CONFIRMAÇÃO
1297. Um momento importante que precede a celebração da Confirmação, mas
que, de certo modo, faz parte dela, é a consagração do santo crisma. É o bispo que,
em Quinta-Feira Santa, no decorrer da missa crismal, consagra o santo crisma para
toda a sua diocese. Nas Igrejas do Oriente, esta consagração é mesmo reservada
ao Patriarca:
A liturgia de Antioquia exprime assim a epiclese da consagração do santo crisma
(myron, em grego): «[Pai (...), envia o Teu Espírito Santo] sobre nós e sobre este
óleo que está diante de nós e consagra-o, para que seja para todos os que com ele
forem ungidos e marcados, myron santo, myron sacerdotal, myron real, unção de
alegria, a veste da luz, o manto da salvação, o dom espiritual, a santificação das
almas e dos corpos, a felicidade imperecível, o selo indelével, o escudo da fé, o
capacete invencível contra todas as obras do Adversário» (120).
1298. Quando a Confirmação é celebrada separadamente do Baptismo, como
acontece no rito romano, a Liturgia do sacramento começa pela renovação das
promessas do Baptismo e pela profissão de fé dos confirmandos. Assim se evidencia
claramente que a Confirmação se situa na continuação do Baptismo (121). No caso
do Baptismo dum adulto, este recebe imediatamente a Confirmação e participa na
Eucaristia (122).
1299. No rito romano, o bispo estende as mãos sobre o grupo dos confirmandos,
gesto que, desde o tempo dos Apóstolos, é sinal do dom do Espírito. E o bispo
invoca assim a efusão do Espírito:
«Deus todo-poderoso, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, pela água e pelo
Espírito Santo, destes uma vida nova a estes vossos servos e os libertastes do
pecado, enviai sobre eles o Espírito Santo Paráclito; dai-lhes, Senhor, o espírito de
sabedoria e de inteligência, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de
ciência e de piedade, e enchei-os do espírito do vosso temor. Por nosso Senhor
Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo» (123).
1300. Segue-se o rito essencial do sacramento. No rito latino, «o sacramento da
Confirmação é conferido pela unção do santo crisma sobre a fronte, feita com a
imposição da mão, e por estas palavras: «Accipe signaculum doni Spiritus Sancti –
Recebe por este sinal o Espírito Santo, o Dom de Deus» (124). Nas Igrejas
orientais de rito bizantino, a unção do myron faz-se depois duma oração de
epiclese, sobre as partes mais significativas do corpo: a fronte, os olhos, o nariz, os
ouvidos, os lábios, o peito, as costas, as mãos e os pés, sendo cada unção
acompanhada da fórmula: «Σφραγίζ δωραζ Πυεύματζ Άγίoυ» («Signaculum doni
Spiritus Sancti – Selo do dom que é o Espírito Santo» ) (125).
1301. O ósculo da paz, com que termina o rito do sacramento, significa e manifesta
a comunhão eclesial com o bispo e com todos os fiéis (126).
III. Os efeitos da Confirmação
1302. Ressalta desta celebração que o efeito do sacramento da Confirmação é uma
efusão especial do Espírito Santo, tal como outrora foi concedida aos Apóstolos, no
dia de Pentecostes.
1303. Por esse facto, a Confirmação proporciona crescimento e aprofundamento da
graça baptismal:
– enraíza-nos mais profundamente na filiação divina, que nos leva a dizer « Abba!
Pai!» (Rm 8, 15);
– une-nos mais firmemente a Cristo;
– aumenta em nós os dons do Espírito Santo;
– torna mais perfeito o laço que nos une à Igreja (127);
– dá-nos uma força especial do Espírito Santo para propagarmos e defendermos a
fé, pela palavra e pela acção, como verdadeiras testemunhas de Cristo, para
confessarmos com valentia o nome de Cristo, e para nunca nos envergonharmos da
cruz (128):
«Lembra-te, pois, de que recebeste o sinal espiritual, o espírito de sabedoria e de
entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de ciência e de
piedade, o espírito do santo temor, e guarda o que recebeste. Deus Pai marcou-te
com o seu sinal, o Senhor Jesus Cristo confirmou-te e pôs no teu coração o penhor
do Espírito» (129).
1304. Tal como o Baptismo, de que é a consumação, a Confirmação é dada uma só
vez. Com efeito, a Confirmação imprime na alma uma marca espiritual indelével,
o «carácter» (130), que é sinal de que Jesus Cristo marcou um cristão com o selo do
seu Espírito, revestindo-o da fortaleza do Alto, para que seja sua testemunha
(131).
1305. O «carácter» aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis, recebido no Baptismo,
e «o confirmado recebe a força de confessar a fé de Cristo publicamente e como em
virtude dum encargo oficial (quasi ex officio)» (132).
IV. Quem pode receber este sacramento?
1306. Todo o baptizado ainda não confirmado pode e deve receber o sacramento
da Confirmação (133). Uma vez que Baptismo, Confirmação e Eucaristia formam
uma unidade, segue-se que «os fiéis têm obrigação de receber este sacramento no
tempo devido» (134), porque, sem a Confirmação e a Eucaristia, o sacramento do
Baptismo é, sem dúvida, válido e eficaz, mas a iniciação cristã fica incompleta.
1307. O costume latino, desde há séculos, aponta «a idade da discrição» como
ponta de referência para se receber a Confirmação. Em perigo de morte, porém,
devem confirmar-se as crianças, mesmo que ainda não tenham atingido a idade da
discrição (135).
1308. Se por vezes se fala da Confirmação como «sacramento da maturidade
cristã», não deve, no entanto, confundir-se a idade adulta da fé com a idade adulta
do crescimento natural, nem esquecer-se que a graça baptismal é uma graça de
eleição gratuita e imerecida, que não precisa duma «ratificação» para se tornar
efectiva. São Tomás recorda isso mesmo:
«A idade do corpo não constitui um prejuízo para a alma. Por isso, mesmo na
infância, o homem pode receber a perfeição da idade espiritual de que fala a
Sabedoria (4, 8): «A velhice honrada não é a que dão os longos dias, nem se avalia
pelo número dos anos». E foi assim que muitas crianças, graças à fortaleza do
Espírito Santo que tinham recebido, lutaram corajosamente e até ao sangue por
Cristo» (136).
1309. A preparação para a Confirmação deve ter por fim conduzir o cristão a uma
união mais íntima com Cristo e a uma familiaridade mais viva com o Espírito
Santo, com a sua acção, os seus dons e os seus apelos, para melhor assumir as
responsabilidades apostólicas da vida cristã. Desse modo, a catequese da
Confirmação deve esforçar-se por despertar o sentido de pertença à Igreja de
Jesus Cristo, tanto à Igreja universal como à comunidade paroquial. Esta última
tem uma responsabilidade particular na preparação dos confirmandos (137).
1310. Para receber a Confirmação é preciso estar em estado de graça. Convém
recorrer ao sacramento da Penitência para ser purificado, em vista do dom do
Espírito Santo. E uma oração mais intensa deve preparar para receber com
docilidade e disponibilidade a força e as graças do Espírito Santo (138).
1311. Tanto para a Confirmação, como para o Baptismo, convém que os candidatos
procurem a ajuda espiritual dum padrinho ou de uma madrinha. É conveniente que
seja o mesmo do Baptismo, para marcar bem a unidade dos dois sacramentos
(139).
V. O ministro da Confirmação
1312. O ministro originário da Confirmação é o bispo (140).
No Oriente, é ordinariamente o sacerdote que baptiza quem imediatamente
confere a Confirmação, numa só e mesma celebração. Fá-lo, no entanto, com o
santo crisma consagrado pelo patriarca ou pelo bispo, o que exprime a unidade
apostólica da Igreja, cujos laços são reforçados pelo sacramento da Confirmação.
Na Igreja latina aplica-se a mesma disciplina nos baptismos de adultos ou quando é
admitido à plena comunhão com a Igreja um baptizado de outra comunidade
cristã, que não tenha recebido validamente o sacramento da Confirmação (141).
1313. No rito latino, o ministro ordinário da Confirmação é o bispo (142). Mesmo
que o bispo possa, em caso de necessidade, conceder a presbíteros a faculdade de
administrar a Confirmação (143), é conveniente que seja ele mesmo a conferi-la,
não se esquecendo de que foi por esse motivo que a celebração da Confirmação foi
separada, no tempo, da do Baptismo. Os bispos são os sucessores dos Apóstolos e
receberam a plenitude do sacramento da Ordem. A administração deste
sacramento feita por eles, realça que ele tem como efeito unir mais estreitamente
aqueles que o recebem à Igreja, às suas origens apostólicas e à sua missão de dar
testemunho de Cristo.
1314. Se um cristão estiver em perigo de morte, qualquer sacerdote pode conferirlhe
a Confirmação (144). De facto, é vontade da Igreja que nenhum dos seus filhos,
mesmo pequenino, parta deste mundo sem ter sido levado à perfeição pelo
Espírito Santo com o dom da plenitude de Cristo.
Resumindo:
1315. «Quando os Apóstolos que estavam em Jerusalém ouviram dizer que a
Samaria recebera a Palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Quando
chegaram lá, rezaram pelos samaritanos para que recebessem o Espírito Santo,
que ainda não tinha descido sobre eles. Apenas tinham sido baptizados em nome
do Senhor Jesus. Então impunham-lhes as mãos e eles recebiam o Espírito Santo»
(Act 8, 14-17).
1316. A Confirmação completa a graça baptismal; ela é o sacramento que dá o
Espírito Santo, para nos enraizar mais profundamente na filiação divina,
incorporar-nos mais solidamente em Cristo, tornar mais firme o laço que nos
prende à Igreja, associar-nos mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemunho da
fé cristã pela palavra, acompanhada de obras.
1317. A Confirmação, tal como o Baptismo, imprime na alma do cristão um sinal
espiritual ou carácter indelével; é por isso que só se pode receber este sacramento
uma vez na vida.
1318. No Oriente, este sacramento é administrado imediatamente a seguir ao
Baptismo e é seguido da participação na Eucaristia; esta tradição põe em relevo a
unidade dos três sacramentos da iniciação cristã. Na Igreja latina, este sacramento
é administrado quando se atinge a idade da razão e ordinariamente a sua
celebração é reservada ao bispo, significando assim que este sacramento vem
robustecer o vínculo eclesial.
1319. O candidato à Confirmação, que atingiu a idade da razão, deve professar a
fé, estar em estado de graça, ter a intenção de receber o sacramento e estar
preparado para assumir o seu papel de discípulo e testemunha de Cristo, na
comunidade eclesial e nos assuntos temporais.
1320. O rito essencial da Confirmação é a unção com o santo crisma na fronte do
baptizado (no Oriente também em outros órgãos dos sentidos), com a imposição da
mão do ministro e as palavras: «Accipe signaculum doni Spiritus Sancti – Recebe
por este sinal o Espírito Santo, o Dom de Deus» (no rito Romano) ou: «Signaculum
doni Spiritus Sancti – Selo do dom que é o Espírito Santo» (no rito Bizantino).
1321. Quando a Confirmação é celebrada separadamente do Baptismo, a sua
ligação com este sacramento é expressa, entre outras coisas, pela renovação dos
compromissos baptismais. A celebração da Confirmação no decorrer da Eucaristia
contribui para sublinhar a unidade dos sacramentos da iniciação cristã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário