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A MORALIDADE DAS PAIXÕES



1762. A pessoa humana ordena-se à bem-aventurança através dos seus actos
deliberados: as paixões ou sentimentos que experimenta podem dispô-la nesse
sentido e contribuir para isso.

I. As paixões

1763. O termo «paixões» pertence ao património cristão. Os sentimentos ou
paixões são as emoções ou movimentos da sensibilidade. que inclinam a agir, ou a
não agir, em vista do que se sentiu ou imaginou como bom ou como mau.
1764. As paixões são componentes naturais do psiquismo humano, constituem o
lugar de passagem e garantem a ligação entre a vida sensível e a vida do espírito.
Nosso Senhor designa o coração do homem como fonte de onde brota o
movimento das paixões (43).
1765. São numerosas as paixões. A mais fundamental é o amor, provocado pela
atracção do bem. O amor causa o desejo do bem ausente e a esperança de o
alcançar. Este movimento tem o seu termo no prazer e na alegria do bem
possuído. A apreensão pelo mal causa o ódio, a aversão e o receio do mal futuro;
este movimento termina na tristeza pelo mal presente ou na cólera que a ele se
opõe.
1766. «Amar é querer bem a alguém» (44). Todos os outros afectos nascem neste
movimento original do coração do homem para o bem. Só o bem é amado (45). «As
paixões são más se o amor for mau, e boas se ele for bom» (46).

II. Paixões e vida moral

1767. Em si mesmas, as paixões não são nem boas nem más. Só recebem
qualificação moral na medida em que dependem efectivamente da razão e da
vontade. As paixões dizem-se voluntárias, «ou porque são comandadas pela
vontade, ou porque a vontade não Lhes opõe obstáculos» (47). Pertence à
perfeição do bem moral ou humano que as paixões sejam reguladas pela razão
(48).
1768. Os grandes sentimentos não determinam nem a moralidade nem a
santidade das pessoas; são o reservatório inesgotável das imagens e afectos com
que se exprime a vida moral. As paixões são moralmente boas quando contribuem
para uma acção boa, e más, no caso contrário. A vontade recta ordena para o bem
e para a bem-aventurança os movimentos sensíveis que assume; a vontade má
sucumbe às paixões desordenadas e exacerba-as. As emoções e os sentimentos
podem ser assumidos pelas virtudes, ou pervertidos pelos vícios.
1769. Na vida cristã, o próprio Espírito Santo realiza a sua obra mobilizando todo
o ser, mesmo as dores, temores e tristezas, como se vê claramente na agonia e
paixão do Senhor. Em Cristo, os sentimentos humanos podem alcançar a sua
consumação na caridade e na bem-aventurança divina.
1770. A perfeição moral consiste em que o homem não seja movido para o bem só
pela vontade, mas também pelo apetite sensível, segundo esta palavra do Salmo:
«O meu coração e a minha carne exultam no Deus vivo» (Sl 84, 3).

Resumindo:
1771. O termo «paixões» designa afectos ou sentimentos. Através das suas
emoções, o homem pressente o bem e suspeita do mal.
1772. As principais paixões são o amor e o ódio, o desejo e o temor; a alegria, a
tristeza e a cólera.
1773. Nas paixões, enquanto movimentos da sensibilidade, não há bem, nem mal
moral. Mas, na medida em que dependem ou não da razão e da vontade, há nelas
bem ou mal moral.
1774. As emoções e os sentimentos podem ser assumidos pelas virtudes, ou
pervertidos pelos vícios.
1775. A perfeição do bem moral consiste em que o homem não seja movido para o
bem só pela vontade, mas também pelo seu «coração».

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