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A VIDA CONSAGRADA

914. «O estado de vida constituído pela profissão dos conselhos evangélicos,
embora não pertença à estrutura hierárquica da Igreja, está, no entanto,
incontestavelmente ligado à sua vida e santidade» (467).
CONSELHOS EVANGÉLICOS, VIDA CONSAGRADA
915. Os conselhos evangélicos são, na sua multiplicidade, propostos a todos os
discípulos de Cristo. A perfeição da caridade, a que todos os fiéis são chamados,
comporta, para aqueles que livremente assumem o chamamento à vida
consagrada, a obrigação de praticar a castidade no celibato por amor do Reino, a
pobreza e a obediência. É a profissão destes conselhos, num estado de vida estável
reconhecido pela Igreja, que caracteriza a «vida consagrada» a Deus (468).
916. A partir daí, o estado de vida consagrada aparece como uma das maneiras de
viver uma consagração «mais íntima», radicada no Baptismo e totalmente
dedicada a Deus (469). Na vida consagrada, os fiéis propõem-se, sob a moção do
Espírito Santo, seguir Cristo mais de perto, entregar-se a Deus amado acima de
todas as coisas e, procurando a perfeição da caridade ao serviço do Reino, ser na
Igreja sinal e anúncio da glória do mundo que há-de vir (470).
UMA GRANDE ÁRVORE, DE FRONDOSA RAMAGEM
917. «Tal como uma árvore se ramifica maravilhosa e variadamente no campo do
Senhor, a partir de uma semente lançada por Deus, assim surgiram diversas
formas de vida solitária ou comum, e várias famílias religiosas que vêm aumentar
a riqueza espiritual, tanto em proveito dos seus próprios membros como no de
todo o Corpo de Cristo» (471).
918. «Desde as origens da Igreja, houve homens e mulheres que se propuseram,
pela prática dos conselhos evangélicos, seguir mais livremente Cristo e imitá-Lo de
modo mais fiel. Cada qual a seu modo. Levaram uma vida consagrada a Deus.
Muitos de entre eles, sob o impulso do Espírito Santo, viveram na solidão; outros
fundaram famílias religiosas que a Igreja de bom grado acolheu e aprovou com a
sua autoridade» (472).
919. Os bispos devem esforçar-se sempre por discernir os novos dons de vida
consagrada, confiados pelo Espírito Santo à sua Igreja. A aprovação de novas
formas de vida consagrada é reservada à Sé Apostólica (473).
A VIDA EREMÍTICA
920. Os eremitas nem sempre fazem profissão pública dos três conselhos
evangélicos; mas, «por meio de um mais estrito apartamento do mundo, do
silêncio na solidão, da oração assídua e da penitência, consagram a sua vida ao
louvor de Deus e à salvação do mundo» (474).
921. Os eremitas manifestam o aspecto interior do mistério da Igreja que é a
intimidade pessoal com Cristo. Oculta aos olhos dos homens, a vida do eremita é
pregação silenciosa d'Aquele a Quem entregou a sua vida. Cristo é tudo para ele.
É uma vocação especial para encontrar no deserto, no próprio combate espiritual,
a glória do Crucificado.
AS VIRGENS E AS VIÚVAS CONSAGRADAS
922. Já desde os tempos apostólicos, apareceram virgens (475) e viúvas cristãs
(476), chamadas pelo Senhor a unirem-se a Ele sem partilha, numa maior liberdade
de coração, de corpo e de espírito, que tomaram a decisão, aprovada pela Igreja,
de viver, respectivamente, no estado de virgindade ou de castidade perpétua,
«por amor do Reino dos céus» (Mt 19, 12).
923. As virgens, «emitindo o santo propósito de seguir mais de perto a Cristo, são
consagradas a Deus pelo Bispo diocesano segundo o rito litúrgico aprovado,
desposam-se misticamente com Cristo Filho de Deus e dedicam-se ao serviço da
Igreja» (477). Por este ritual solene (consecratio virginum – consagração das
virgens), a «virgem é constituída como pessoa consagrada, sinal transcendente do
amor da Igreja a Cristo, imagem escatológica da Esposa celeste e da vida futura»
(478).
924. «Próxima das outras formas de vida consagrada» (479), a ordem das virgens
estabelece a mulher que vive no mundo (ou a monja) na oração, na penitência, no
serviço dos seus irmãos e no trabalho apostólico, segundo o estado e carismas
respectivos concedidos a cada uma (480). As virgens consagradas podem associarse
para observarem mais fielmente os seus propósitos (481).
A VIDA RELIGIOSA
925. Nascida no Oriente, nos primeiros séculos do cristianismo (482), e vivida em
institutos canonicamente erectos pela Igreja (483), a vida religiosa distingue-se
das outras formas de vida consagrada pelo aspecto cultual, pela profissão pública
dos conselhos evangélicos, pela vida fraterna em comum e pelo testemunho dado
a respeito da união de Cristo e da Igreja (484).
926. A vida religiosa faz parte do mistério da Igreja. É um dom que a Igreja recebe
do seu Senhor, e que oferece, como um estado de vida estável, ao fiel chamado
por Deus à profissão dos conselhos. Assim, a Igreja pode, ao mesmo tempo,
manifestar Cristo e reconhecer-se como Esposa do Salvador. A vida religiosa é
convidada a significar, nas suas variadas formas, a própria caridade de Deus, em
linguagem do nosso tempo.
927. Todos os religiosos, isentos ou não (485), têm o seu lugar entre os
cooperadores do bispo diocesano na sua função pastoral (486). A implantação e a
expansão missionária da Igreja requerem a presença da vida religiosa em todas as
suas formas, desde os começos da evangelização (487). «A história confirma os
grandes méritos das famílias religiosas na propagação da fé e na formação de
novas Igrejas, desde as antigas instituições monásticas e as Ordens medievais, até
às congregações modernas» (488).
OS INSTITUTOS SECULARES
928. «Instituto secular é o instituto de vida consagrada, em que os fiéis, vivendo
no século, se esforçam por atingir a perfeição da caridade e por contribuir,
sobretudo a partir de dentro, para a santificação do mundo» (489).
929. Os membros destes institutos, mediante uma «vida perfeita e inteiramente
consagrada [a esta] santificação» (490), tomam parte na tarefa de evangelização
da Igreja, «no mundo e a partir do mundo» (491), onde a sua presença actua «à
maneira de fermento» (492). O seu testemunho de vida cristã visa ordenar
segundo Deus as realidades temporais e impregnar o mundo com a força do
Evangelho. Assumem, por vínculos sagrados, os conselhos evangélicos e mantêm
entre si a comunhão e fraternidade próprias do seu teor de vida secular (493).
AS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA
930. Aproximam-se das diversas formas de vida consagrada, «as sociedades de
vida apostólica, cujos membros, sem votos religiosos, prosseguem o fim apostólico
próprio da sociedade e, vivendo em comum a vida fraterna, de acordo com a
própria forma de vida, tendem, pela observância das constituições, à perfeição da
caridade. Entre elas há sociedades, cujos membros [...] assumem os conselhos
evangélicos» segundo as suas constituições» (494).
CONSAGRAÇÃO E MISSÃO: ANUNCIAR O REI QUE VEM
931. Entregando-se a Deus amado sobre todas as coisas, aquele que pelo Baptismo
já Lhe estava devotado, encontra-se, assim, mais intimamente consagrado ao
serviço divino e dedicado ao bem da Igreja. Pelo estado de consagração a Deus, a
Igreja manifesta Cristo e mostra como o Espírito Santo nela actua de modo
admirável. Aqueles que professam os conselhos evangélicos têm, pois, por missão,
antes de mais, viver a sua consagração. «Visto estarem dedicados, em virtude da
sua consagração, ao serviço da Igreja, têm obrigação de trabalhar, de modo
especial, segundo a índole própria do instituto, na acção missionária» (495).
932. Na Igreja, que é como o sacramento, isto é, o sinal e o instrumento da vida de
Deus, a vida consagrada surge como um sinal particular do mistério da Redenção.
Seguir e imitar Cristo «mais de perto», manifestar «mais claramente» o seu
aniquilamento, é entrar «mais profundamente» presente, no coração de Cristo,
aos seus contemporâneos. Quem segue este caminho «mais estreito» estimula os
seus irmãos pelo seu exemplo e «dá este esplêndido e sublime testemunho: o
mundo não pode ser transfigurado e oferecido a Deus sem o espírito das bemaventuranças
» (496).
933. Quer este testemunho seja público, como no estado religioso, quer seja mais
discreto ou mesmo secreto, a vinda de Cristo é, para todos os consagrados, a
origem e a meta das suas vidas:
«Como o povo de Deus não tem na terra cidade permanente [...], o estado
religioso [...] manifesta a todos os crentes a presença, já neste mundo, dos bens
celestes; dá testemunho da vida nova e eterna adquirida pela redenção de Cristo
e anuncia a ressurreição futura e a glória celeste» (497).

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