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O PROCESSO DE JESUS

DIVISÕES ENTRE AS AUTORIDADES JUDAICAS A RESPEITO DE JESUS
595. Entre as autoridades religiosas de Jerusalém, não somente se encontravam o
fariseu Nicodemos (421) e o notável José de Arimateia, discípulos ocultos de Jesus
(422), mas também, durante muito tempo, houve dissensões a respeito d'Ele (423)
ao ponto de, na própria véspera da paixão. João poder dizer deles que «um bom
número acreditou n' Ele», embora de modo assaz imperfeito (Jo 12, 42); o que não
é nada de admirar, tendo-se presente que, no dia seguinte ao de Pentecostes, «um
grande número de sacerdotes se submetia à fé»(Act 6, 7) e «alguns homens do
partido dos fariseus tinham abraçado a fé» (Act 15, 5), de tal modo que São Tiago
podia dizer a São Paulo que «muitos milhares entre os judeus abraçaram a fé e
todos têm zelo pela Lei» (Act 21, 20).
596. As autoridades religiosas de Jerusalém não foram unânimes na atitude a
adoptar a respeito de Jesus (424). Os fariseus ameaçaram de excomunhão aqueles
que O seguissem (425). Aos que temiam que «todos acreditassem n'Ele e os
romanos viessem destruir o templo e a nação» (Jo 11, 48), o sumo sacerdote Caifás
propôs, profetizando: «E do vosso interesse que morra um só homem pelo povo e
não pereça a nação inteira» (Jo 11, 50). O Sinédrio, tendo declarado Jesus «réu de
morte» (426) como blasfemo, mas tendo perdido o direito de condenar à morte
fosse quem fosse (427), entregou Jesus aos romanos, acusando-O de revolta
política (428) — o que O colocava em pé de igualdade com que Barrabás, acusado
de «sedição» (Lc 23, 19). São também de carácter político as ameaças que os
sumos-sacerdotes fazem a Pilatos, pressionando-o a condenar Jesus à morte (429).
OS JUDEUS NÃO SÃO COLECTIVAMENTE RESPONSÁVEIS PELA MORTE DE JESUS
597. Tendo em conta a complexidade histórica do processo de Jesus, manifestada
nas narrativas evangélicas, e qualquer que tenha sido o pecado pessoal dos
intervenientes no processo (Judas, o Sinédrio, Pilatos), que só Deus conhece, não
se pode atribuir a responsabilidade do mesmo ao conjunto dos judeus de
Jerusalém, apesar da gritaria duma multidão manipulada (430) e das censuras
globais contidas nos apelos à conversão, depois do Pentecostes (431). O próprio
Jesus, perdoando na cruz (432) e Pedro a seu exemplo, apelaram para «a
ignorância» (433) dos judeus de Jerusalém e mesmo dos seus chefes. Menos ainda
é possível estender a responsabilidade ao conjunto dos judeus no espaço e no
tempo, a partir do grito do povo: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os
nossos filhos»(Mt 27, 25), que é uma fórmula de ratificação (434):
Por isso, a Igreja declarou no II Concílio do Vaticano: «Não se pode, todavia,
imputar indistintamente a todos os judeus que então viviam, nem aos judeus do
nosso tempo, o que na sua paixão se perpetrou. [...] Nem por isso os judeus devem
ser apresentados como reprovados por Deus e malditos, como se tal coisa se
concluísse da Sagrada Escritura» (435).
TODOS OS PECADORES FORAM AUTORES DA PAIXÃO DE CRISTO
598. A Igreja, no magistério da sua fé e no testemunho dos seus santos, nunca
esqueceu que «os pecadores é que foram os autores, e como que os instrumentos,
de todos os sofrimentos que o divino Redentor suportou» (436). Partindo do
princípio de que os nossos pecados atingem Cristo em pessoa (437), a Igreja não
hesita em imputar aos cristãos a mais grave responsabilidade no suplício de Jesus,
responsabilidade que eles muitas vezes imputaram unicamente aos judeus:
«Devemos ter como culpados deste horrível crime os que continuam a recair nos
seus pecados. Porque foram os nossos crimes que fizeram nosso Senhor Jesus Cristo
suportar o suplício da cruz, é evidente que aqueles que mergulham na desordem e
no mal crucificam de novo em seu coração, tanto quanto deles depende, o Filho de
Deus, pelos seus pecados, expondo-O à ignomínia. E temos de reconhecer: o nosso
crime, neste caso, é maior que o dos judeus. Porque eles, como afirma o
Apóstolo, «se tivessem conhecido a Sabedoria de Deus, não leriam crucificado o
Senhor da glória» (1 Cor 2, 8); ao passo que nós, pelo contrário, fazemos profissão
de O conhecer: e, quando O renegamos pelos nossos actos, de certo modo
levantamos contra Ele as nossas mãos assassinas» (438).
«Não foram os demónios que O pregaram na cruz, mas tu com eles O crucificaste, e
ainda agora O crucificas quando te deleitas nos vícios e pecados» (439).

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