A FÉ É UMA GRAÇA
153. Quando Pedro confessa que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus
declara-lhe que esta revelação não lhe veio «da carne nem do sangue, mas do seu
Pai que está nos Céus»(Mt 16, 17) (16). A fé é um dom de Deus, uma virtude
sobrenatural infundida por Ele. «Para prestar esta adesão da fé, são necessários a
prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito
Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do
entendimento, e dá "a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade"» (17).
A FÉ É UM ACTO HUMANO
154. O acto de fé só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito
Santo. Mas não é menos verdade que crer é um acto autenticamente humano.
Não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem confiar em Deus e
aderir às verdades por Ele reveladas. Mesmo nas relações humanas, não é
contrário à nossa própria dignidade acreditar no que outras pessoas nos dizem
acerca de si próprias e das suas intenções, e confiar nas suas promessas (como, por
exemplo, quando um homem e uma mulher se casam), para assim entrarem em
mútua comunhão. Por isso, é ainda menos contrário à nossa dignidade «prestar,
pela fé, submissão plena da nossa inteligência e da nossa vontade a Deus
revelador» (18) e entrar assim em comunhão intima com Ele.
155. Na fé, a inteligência e a vontade humanas cooperam com a graça
divina: «Credere est actas intellectus assentientis veritati divinae ex imperio
voluntatis, a Deo motae per gratiam» — «Crer é o acto da inteligência que presta
o seu assentimento à verdade divina, por determinação da vontade, movida pela
graça de Deus» (19).
A FÉ E A INTELIGÊNCIA
156. O motivo de crer não é o facto de as verdades reveladas aparecerem como
verdadeiras e inteligíveis à luz da nossa razão natural. Nós cremos «por causa da
autoridade do próprio Deus revelador, que não pode enganar-se nem enganarnos
» (20). «Contudo, para que a homenagem da nossa fé fosse conforme à razão,
Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados de
provas exteriores da sua Revelação» (21). Assim, os milagres de Cristo e dos santos
(22), as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, a sua fecundidade e
estabilidade «são sinais certos da Revelação, adaptados à inteligência de todos»
(23), «motivos de credibilidade», mostrando que o assentimento da fé não é, «de
modo algum, um movimento cego do espírito» (24).
157. A fé é certa, mais certa que qualquer conhecimento humano, porque se funda
na própria Palavra de Deus, que não pode mentir. Sem dúvida, as verdades
reveladas podem parecer obscuras à razão e à experiência humanas; mas «a
certeza dada pela luz divina é maior do que a dada pela luz da razão natural» (25).
«Dez mil dificuldades não fazem uma só dúvida» (26).
158. «A fé procura compreender» (27): é inerente à fé o desejo do crente de
conhecer melhor Aquele em quem acreditou, e de compreender melhor o que Ele
revelou; um conhecimento mais profundo exigirá, por sua vez, uma fé maior e cada
vez mais abrasada em amor. A graça da fé abre «os olhos do coração» (Ef 1, 18)
para uma inteligência viva dos conteúdos da Revelação, isto é, do conjunto do
desígnio de Deus e dos mistérios da fé, da íntima conexão que os Liga entre si e
com Cristo, centro do mistério revelado. Ora, para «que a compreensão da
Revelação seja cada vez mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem
cessar a fé, mediante os seus dons» (28). Assim, conforme o dito de Santo
Agostinho, «eu creio para compreender e compreendo para crer melhor» (29).
159. Fé e ciência. «Muito embora a fé esteja acima da razão, nunca pode haver
verdadeiro desacordo entre ambas: o mesmo Deus, que revela os mistérios e
comunica a fé, também acendeu no espírito humano a luz da razão. E Deus não
pode negar-Se a Si próprio, nem a verdade pode jamais contradizer a verdade»
(30). «É por isso que a busca metódica, em todos os domínios do saber, se for
conduzida de modo verdadeiramente científico e segundo as normas da moral,
jamais estará em oposição à fé: as realidades profanas e as da fé encontram a sua
origem num só e mesmo Deus. Mais ainda: aquele que se esforça, com
perseverança e humildade, por penetrar no segredo das coisas, é como que
conduzido pela mão de Deus, que sustenta todos os seres e faz que eles sejam o
que são, mesmo que não tenha consciência disso» (31).
A LIBERDADE DA FÉ
160. Para ser humana, «a resposta da fé, dada pelo homem a Deus, deve ser
voluntária. Por conseguinte, ninguém deve ser constrangido a abraçara fé contra
vontade. Efectivamente, o acto de fé é voluntário por sua própria natureza» (32).
«E certo que Deus chama o homem a servi-Lo em espírito e verdade; mas, se é
verdade que este apelo obriga o homem em consciência, isso não quer dizer que o
constranja [...]. Isto foi evidente, no mais alto grau, em Jesus Cristo» (33). De facto,
Cristo convidou à fé e à conversão, mas de modo nenhum constrangeu alguém.
«Deu testemunho da verdade, mas não a impôs pela força aos seus contraditores.
O seu Reino [...] dilata-se graças ao amor, pelo qual, levantado na cruz, Cristo atrai
a Si todos os homens (34)».
A NECESSIDADE DA FÉ
161. Para obter a salvação é necessário acreditar em Jesus Cristo e n'Aquele que
O enviou para nos salvar (35). «Porque "sem a fé não é possível agradar a
Deus" (Heb 11, 6) e chegar a partilhar a condição de filhos seus; ninguém jamais
pode justificar-se sem ela e ninguém que não "persevere nela até ao fim" (Mt 10,
22; 24, 13) poderá alcançar a vida eterna» (36).
A PERSEVERANÇA NA FÉ
162. A fé á um dom gratuito de Deus ao homem. Mas nós podemos perder este
dom inestimável. Paulo adverte Timóteo a respeito dessa possibilidade: «Combate
o bom combate, guardando a fé e a boa consciência; por se afastarem desse
princípio é que muitos naufragaram na fé» (1 Tm 1, 18-19). Para viver, crescer e
perseverar até ao fim na fé, temos de a alimentar com a Palavra de Deus; temos
de pedir ao Senhor que no-la aumente (37); ela deve «agir pela caridade» (Gl 5, 6)
(38), ser sustentada pela esperança (39) e permanecer enraizada na fé da Igreja.
A FÉ – VIDA ETERNA INICIADA
163. A fé faz que saboreemos, como que de antemão, a alegria e a luz da visão
beatifica, termo da nossa caminhada nesta Terra. Então veremos Deus «face a
face» (1 Cor 13, 12), «tal como Ele é» (1 Jo 3, 2). A fé, portanto, é já o princípio da
vida eterna:
«Enquanto, desde já, contemplamos os benefícios da fé, como reflexo num espelho,
é como se possuíssemos já as maravilhas que a nossa fé nos garante havermos de
gozar um dia» (40).
164. Por enquanto porém, «caminhamos pela fé e não vemos claramente» (2 Cor 5,
7), e conhecemos Deus «como num espelho, de maneira confusa, [...] imperfeita»
(1 Cor, 13, 12). Luminosa por parte d'Aquele em quem ela crê, a fé é muitas vezes
vivida na obscuridade, e pode ser posta à prova. O mundo em que vivemos parece
muitas vezes bem afastado daquilo que a ,fé nos diz: as experiências do mal e do
sofrimento, das injustiças e da morte parecem contradizer a Boa-Nova, podem
abalar a fé e tornarem-se, em relação a ela, uma tentação.
165. É então que nos devemos voltar para as testemunhas da fé: Abraão, que
acreditou, «esperando contra toda a esperança» (Rm 4, 18); a Virgem Maria que,
na «peregrinação da fé» (41), foi até à «noite da fé» (42), comungando no
sofrimento do seu Filho e na noite do seu sepulcro (43); e tantas outras
testemunhas da fé: «envoltos em tamanha nuvem de testemunhas, devemos
desembaraçar-nos de todo o fardo e do pecado que nos cerca, e correr com
constância o risco que nos é proposto, fixando os olhos no guia da nossa fé, o qual a
leva à perfeição» (Heb 12, 1-2).
153. Quando Pedro confessa que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus
declara-lhe que esta revelação não lhe veio «da carne nem do sangue, mas do seu
Pai que está nos Céus»(Mt 16, 17) (16). A fé é um dom de Deus, uma virtude
sobrenatural infundida por Ele. «Para prestar esta adesão da fé, são necessários a
prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito
Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do
entendimento, e dá "a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade"» (17).
A FÉ É UM ACTO HUMANO
154. O acto de fé só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito
Santo. Mas não é menos verdade que crer é um acto autenticamente humano.
Não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem confiar em Deus e
aderir às verdades por Ele reveladas. Mesmo nas relações humanas, não é
contrário à nossa própria dignidade acreditar no que outras pessoas nos dizem
acerca de si próprias e das suas intenções, e confiar nas suas promessas (como, por
exemplo, quando um homem e uma mulher se casam), para assim entrarem em
mútua comunhão. Por isso, é ainda menos contrário à nossa dignidade «prestar,
pela fé, submissão plena da nossa inteligência e da nossa vontade a Deus
revelador» (18) e entrar assim em comunhão intima com Ele.
155. Na fé, a inteligência e a vontade humanas cooperam com a graça
divina: «Credere est actas intellectus assentientis veritati divinae ex imperio
voluntatis, a Deo motae per gratiam» — «Crer é o acto da inteligência que presta
o seu assentimento à verdade divina, por determinação da vontade, movida pela
graça de Deus» (19).
A FÉ E A INTELIGÊNCIA
156. O motivo de crer não é o facto de as verdades reveladas aparecerem como
verdadeiras e inteligíveis à luz da nossa razão natural. Nós cremos «por causa da
autoridade do próprio Deus revelador, que não pode enganar-se nem enganarnos
» (20). «Contudo, para que a homenagem da nossa fé fosse conforme à razão,
Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados de
provas exteriores da sua Revelação» (21). Assim, os milagres de Cristo e dos santos
(22), as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, a sua fecundidade e
estabilidade «são sinais certos da Revelação, adaptados à inteligência de todos»
(23), «motivos de credibilidade», mostrando que o assentimento da fé não é, «de
modo algum, um movimento cego do espírito» (24).
157. A fé é certa, mais certa que qualquer conhecimento humano, porque se funda
na própria Palavra de Deus, que não pode mentir. Sem dúvida, as verdades
reveladas podem parecer obscuras à razão e à experiência humanas; mas «a
certeza dada pela luz divina é maior do que a dada pela luz da razão natural» (25).
«Dez mil dificuldades não fazem uma só dúvida» (26).
158. «A fé procura compreender» (27): é inerente à fé o desejo do crente de
conhecer melhor Aquele em quem acreditou, e de compreender melhor o que Ele
revelou; um conhecimento mais profundo exigirá, por sua vez, uma fé maior e cada
vez mais abrasada em amor. A graça da fé abre «os olhos do coração» (Ef 1, 18)
para uma inteligência viva dos conteúdos da Revelação, isto é, do conjunto do
desígnio de Deus e dos mistérios da fé, da íntima conexão que os Liga entre si e
com Cristo, centro do mistério revelado. Ora, para «que a compreensão da
Revelação seja cada vez mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem
cessar a fé, mediante os seus dons» (28). Assim, conforme o dito de Santo
Agostinho, «eu creio para compreender e compreendo para crer melhor» (29).
159. Fé e ciência. «Muito embora a fé esteja acima da razão, nunca pode haver
verdadeiro desacordo entre ambas: o mesmo Deus, que revela os mistérios e
comunica a fé, também acendeu no espírito humano a luz da razão. E Deus não
pode negar-Se a Si próprio, nem a verdade pode jamais contradizer a verdade»
(30). «É por isso que a busca metódica, em todos os domínios do saber, se for
conduzida de modo verdadeiramente científico e segundo as normas da moral,
jamais estará em oposição à fé: as realidades profanas e as da fé encontram a sua
origem num só e mesmo Deus. Mais ainda: aquele que se esforça, com
perseverança e humildade, por penetrar no segredo das coisas, é como que
conduzido pela mão de Deus, que sustenta todos os seres e faz que eles sejam o
que são, mesmo que não tenha consciência disso» (31).
A LIBERDADE DA FÉ
160. Para ser humana, «a resposta da fé, dada pelo homem a Deus, deve ser
voluntária. Por conseguinte, ninguém deve ser constrangido a abraçara fé contra
vontade. Efectivamente, o acto de fé é voluntário por sua própria natureza» (32).
«E certo que Deus chama o homem a servi-Lo em espírito e verdade; mas, se é
verdade que este apelo obriga o homem em consciência, isso não quer dizer que o
constranja [...]. Isto foi evidente, no mais alto grau, em Jesus Cristo» (33). De facto,
Cristo convidou à fé e à conversão, mas de modo nenhum constrangeu alguém.
«Deu testemunho da verdade, mas não a impôs pela força aos seus contraditores.
O seu Reino [...] dilata-se graças ao amor, pelo qual, levantado na cruz, Cristo atrai
a Si todos os homens (34)».
A NECESSIDADE DA FÉ
161. Para obter a salvação é necessário acreditar em Jesus Cristo e n'Aquele que
O enviou para nos salvar (35). «Porque "sem a fé não é possível agradar a
Deus" (Heb 11, 6) e chegar a partilhar a condição de filhos seus; ninguém jamais
pode justificar-se sem ela e ninguém que não "persevere nela até ao fim" (Mt 10,
22; 24, 13) poderá alcançar a vida eterna» (36).
A PERSEVERANÇA NA FÉ
162. A fé á um dom gratuito de Deus ao homem. Mas nós podemos perder este
dom inestimável. Paulo adverte Timóteo a respeito dessa possibilidade: «Combate
o bom combate, guardando a fé e a boa consciência; por se afastarem desse
princípio é que muitos naufragaram na fé» (1 Tm 1, 18-19). Para viver, crescer e
perseverar até ao fim na fé, temos de a alimentar com a Palavra de Deus; temos
de pedir ao Senhor que no-la aumente (37); ela deve «agir pela caridade» (Gl 5, 6)
(38), ser sustentada pela esperança (39) e permanecer enraizada na fé da Igreja.
A FÉ – VIDA ETERNA INICIADA
163. A fé faz que saboreemos, como que de antemão, a alegria e a luz da visão
beatifica, termo da nossa caminhada nesta Terra. Então veremos Deus «face a
face» (1 Cor 13, 12), «tal como Ele é» (1 Jo 3, 2). A fé, portanto, é já o princípio da
vida eterna:
«Enquanto, desde já, contemplamos os benefícios da fé, como reflexo num espelho,
é como se possuíssemos já as maravilhas que a nossa fé nos garante havermos de
gozar um dia» (40).
164. Por enquanto porém, «caminhamos pela fé e não vemos claramente» (2 Cor 5,
7), e conhecemos Deus «como num espelho, de maneira confusa, [...] imperfeita»
(1 Cor, 13, 12). Luminosa por parte d'Aquele em quem ela crê, a fé é muitas vezes
vivida na obscuridade, e pode ser posta à prova. O mundo em que vivemos parece
muitas vezes bem afastado daquilo que a ,fé nos diz: as experiências do mal e do
sofrimento, das injustiças e da morte parecem contradizer a Boa-Nova, podem
abalar a fé e tornarem-se, em relação a ela, uma tentação.
165. É então que nos devemos voltar para as testemunhas da fé: Abraão, que
acreditou, «esperando contra toda a esperança» (Rm 4, 18); a Virgem Maria que,
na «peregrinação da fé» (41), foi até à «noite da fé» (42), comungando no
sofrimento do seu Filho e na noite do seu sepulcro (43); e tantas outras
testemunhas da fé: «envoltos em tamanha nuvem de testemunhas, devemos
desembaraçar-nos de todo o fardo e do pecado que nos cerca, e correr com
constância o risco que nos é proposto, fixando os olhos no guia da nossa fé, o qual a
leva à perfeição» (Heb 12, 1-2).
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