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A IGREJA É UNA

«O SAGRADO MISTÉRIO DA UNIDADE DA IGREJA» (266)
813. A Igreja é una, graças à sua fonte: «O supremo modelo e princípio deste
mistério é a unidade na Trindade das pessoas, dum só Deus, Pai e Filho no Espírito
Santo» (267). AIgreja é una graças ao seu fundador: «O próprio Filho encarnado
[...] reconciliou todos os homens com Deus pela sua Cruz, restabelecendo a unidade
de todos num só povo e num só Corpo» (268). A Igreja é una graças à sua
«alma»: «O Espírito Santo que habita nos crentes e que enche e rege toda a
Igreja, realiza esta admirável comunhão dos fiéis e une-os todos tão intimamente
em Cristo que é o princípio da unidade da Igreja» (269). Pertence, pois, à própria
essência da Igreja que ela seja una:
«Que admirável mistério! Há um só Pai do universo, um só Logos do universo e
também um só Espírito Santo, idêntico em toda a parte; e há também uma só mãe
Virgem, à qual me apraz chamar Igreja» (270).
814. Desde a origem, no entanto, esta Igreja apresenta-se com uma
grande diversidade, proveniente ao mesmo tempo da variedade dos dons de Deus
e da multiplicidade das pessoas que os recebem. Na unidade do povo de Deus,
juntam-se as diversidades dos povos e das culturas. Entre os membros da Igreja
existe uma diversidade de dons, de cargos, de condições e de modos de vida. «No
seio da comunhão da Igreja existem legitimamente Igrejas particulares, que gozam
das suas tradições próprias» (271). A grande riqueza desta diversidade não se
opõe à unidade da Igreja. No entanto, o pecado e o peso das suas consequências
ameaçam constantemente o dom da unidade. Também o Apóstolo se viu na
necessidade de exortar a que se guardasse «a unidade do Espírito pelo vínculo da
paz» (Ef 4, 3).
815. Quais são os vínculos da unidade? «Acima de tudo, a caridade, que é o vínculo
da perfeição» (Cl 3, 14). Mas a unidade da Igreja peregrina é assegurada também
por laços visíveis de comunhão:
– a profissão duma só fé, recebida dos Apóstolos;
– a celebração comum do culto divino, sobretudo dos sacramentos;
– a sucessão apostólica pelo sacramento da Ordem, que mantém a concórdia
fraterna da família de Deus (272).
816. «A única Igreja de Cristo [...] é aquela que o nosso Salvador, depois da
ressurreição, entregou a Pedro, com o encargo de a apascentar, confiando também
a ele e aos outros apóstolos a sua difusão e governo [...]. Esta Igreja, constituída e
organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste (subsistit in) na Igreja
Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele»
(273).
O decreto do II Concílio do Vaticano sobre o Ecumenismo explicita: «Com efeito, só
pela Igreja Católica de Cristo, que é "meio geral de salvação", é que se pode obter
toda a plenitude dos meios de salvação. Na verdade, foi apenas ao colégio
apostólico, de que Pedro é o chefe, que, segundo a nossa fé, o Senhor confiou todas
as riquezas da nova Aliança, a fim de constituir na terra um só Corpo de Cristo, ao
qual é necessário que sejam plenamente incorporados todos os que, de certo
modo, pertencem já ao povo de Deus» (274).
817. De facto, «nesta Igreja de Deus una e única, já desde os primórdios surgiram
algumas cisões, que o Apóstolo censura asperamente como condenáveis. Nos
séculos posteriores, porém, surgiram dissensões mais amplas. Importantes
comunidades separaram-se da plena comunhão da Igreja Católica, às vezes por
culpa dos homens duma e doutra parte» (275). As rupturas que ferem a unidade do
Corpo de Cristo (a saber: a heresia, a apostasia e o cisma) (276) devem-se aos
pecados dos homens:
«Ubi peccata, ibi est multitudo, ibi schismata, ibi haereses, ibi discussiones. Ubi
autem virtus, ibi singularitas, ibi unio, ex quo omnium credentium erat cor unum
et anima una — Onde há pecados, aí se encontra a multiplicidade, o cisma, a
heresia, o conflito. Mas onde há virtude, aí se encontra a unicidade e aquela união
que faz com que todos os crentes tenham um só coração e uma só alma» (277).
818. Os que hoje nascem em comunidades provenientes de tais rupturas, «e que
vivem a fé de Cristo, não podem ser acusados do pecado da divisão. A Igreja
Católica abraça-os com respeito e caridade fraterna [...]. Justificados pela fé
recebida no Baptismo, incorporados em Cristo, é a justo título que se honram com
o nome de cristãos e os filhos da Igreja Católica reconhecem-nos legitimamente
como irmãos no Senhor» (278).
819. Além disso, existem fora das fronteiras visíveis da Igreja Católica, «muitos
elementos de santificação e de verdade» (279): «a Palavra de Deus escrita, a vida
da graça, a fé, a esperança e a caridade, outros dons interiores do Espírito Santo e
outros elementos visíveis» (280). O Espírito de Cristo serve-Se destas Igrejas e
comunidades eclesiais como meios de salvação, cuja força vem da plenitude da
graça e da verdade que Cristo confiou à Igreja Católica. Todos estes bens provêm
de Cristo e a Ele conduzem (281) e por si mesmos reclamam «a unidade católica»
(282).
A CAMINHO DA UNIDADE
820. A unidade, «Cristo a concedeu à sua Igreja desde o princípio. Nós cremos que
ela subsiste, sem possibilidade de ser perdida, na Igreja Católica, e esperamos que
cresça de dia para dia até à consumação dos séculos» (283). Cristo dá sempre à sua
Igreja o dom da unidade. Mas a Igreja deve orar e trabalhar constantemente para
manter, reforçar e aperfeiçoar a unidade que Cristo quer para ela. Foi por esta
intenção que Jesus orou na hora da sua paixão e não cessa de orar ao Pai pela
unidade dos seus discípulos: «...Que todos sejam um. Como Tu, ó Pai, és um em
Mim e Eu em Ti, assim também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia
que Tu Me enviaste» (Jo 17, 21). O desejo de recuperar a unidade de todos os
cristãos é um dom de Cristo e um apelo do Espírito Santo (284).
821. Para lhe corresponder de modo adequado, exige-se:
– uma renovação permanente da Igreja, numa maior fidelidade à sua vocação.
Essa renovação é a força do movimento a favor da unidade (285);
– a conversão do coração, «com o fim levar uma vida mais pura segundo o
Evangelho» (286), pois o que causa as divisões é a infidelidade dos membros ao
dom de Cristo;
– a oração em comum, porque «a conversão do coração e a santidade de vida.
unidas às orações, públicas e privadas, pela unidade dos cristãos, devem ser tidas
como a alma de todo o movimento ecuménico, e com razão podem chamar-se
ecumenismo espiritual» (287);
– o mútuo conhecimento fraterno (288);
– a formação ecuménica dos fiéis, e especialmente dos sacerdotes (289);
– o diálogo entre os teólogos, e os encontros entre os cristãos das diferentes
Igrejas e comunidades (290);
– a colaboração entre cristãos nos diversos domínios do serviço dos homens »(291).
822. A preocupação com realizar a união «diz respeito a toda a Igreja, fiéis e
pastores» (292). Mas também se deve «ter consciência de que este projecto
sagrado da reconciliação de todos os cristãos na unidade duma só e única Igreja de
Cristo, ultrapassa as forças e capacidades humanas». Por isso, pomos toda a nossa
esperança «na oração de Cristo pela Igreja, no amor do Pai para connosco e no
poder do Espírito Santo» (293).

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