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TODA A VIDA DE CRISTO É MISTÉRIO

512. Relativamente à vida de Cristo, o Símbolo da Fé apenas fala dos mistérios da
Encarnação (conceição e nascimento) e da Páscoa (paixão, crucifixão, morte,
sepultura, descida à mansão dos mortos, ressurreição, ascensão). Nada diz
explicitamente dos mistérios da vida oculta e pública de Jesus. Mas os artigos que
dizem respeito à Encarnação e à Páscoa de Jesus esclarecem toda a vida terrena
de Cristo. «Tudo o que Jesus fez e ensinou desde o princípio até ao dia em que foi
elevado ao céu» (Act 1, 1-2) deve ser visto á luz dos mistérios do Natal e da
Páscoa.
513. A catequese, segundo as circunstâncias, explanará toda a riqueza dos
mistérios de Jesus. Aqui, basta indicar alguns elementos comuns a todos os
mistérios da vida de Cristo (I), para depois esboçar os principais mistérios da vida
oculta (II) e pública (III) de Jesus.
514. Muitas coisas que interessam à curiosidade humana, a respeito de Jesus, não
figuram nos evangelhos. Quase nada se diz da sua vida em Nazaré e mesmo
grande parte da sua vida pública não é relatada (186). O que foi escrito nos
evangelhos, foi-o «para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e
para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome» (Jo20, 31).
515. Os evangelhos foram escritos por homens que foram dos primeiros a receber
a fé (187) e que quiseram partilhá-la com outros. Tendo conhecido, pela fé, quem é
Jesus, puderam ver e fazer ver os traços do seu mistério em toda a sua vida
terrena. Desde os panos do nascimento (188) até ao vinagre da paixão (189) e ao
sudário da ressurreição (190), tudo, na vida de Jesus, é sinal do seu mistério.
Através dos seus gestos, milagres e palavras, foi revelado que «n'Ele habita
corporalmente toda a plenitude da Divindade» (Cl 2, 9). A sua humanidade
aparece, assim, como «sacramento», isto é, sinal e instrumento da sua divindade e
da salvação que Ele veio trazer. O que havia de visível na sua vida terrena conduz
ao mistério invisível da sua filiação divina e da sua missão redentora.
OS TRAÇOS COMUNS DOS MISTÉRIOS DE JESUS
516. Toda a vida de Cristo é revelação do Pai: as suas palavras e actos, os seus
silêncios e sofrimentos, a maneira de ser e de falar. Jesus pode dizer: «Quem Me
vê, vê o Pai» (Jo 14, 9); e o Pai: «Este é o meu Filho predilecto: escutai-O» (Lc 9,
35). Tendo-Se nosso Senhor feito homem para cumprir a vontade do Pai (191), os
mais pequenos pormenores dos seus mistérios manifestam «o amor de Deus para
connosco» (192).
517. Toda a vida de Cristo é mistério de redenção. A redenção vem-nos, antes de
mais, pelo sangue da cruz (193). Mas este mistério está actuante em toda a vida
de Cristo: já na sua Encarnação, pela qual, fazendo-Se pobre, nos enriquece com a
sua pobreza (194); na vida oculta que, pela sua obediência (195), repara a nossa
insubmissão; na palavra que purifica os seus ouvintes (196): nas curas e expulsões
dos demónios, pelas quais «toma sobre Si as nossas enfermidades e carrega com as
nossas doenças» (Mt 8, 17)(197); na ressurreição, pela qual nos justifica (198).
518. Toda a vida de Cristo é mistério de recapitulação. Tudo o que Jesus fez, disse
e sofreu tinha por fim restabelecer o homem decaído na sua vocação originária:
«Quando Ele encarnou e Se fez homem, recapitulou em Si a longa história dos
homens e proporcionou-nos, em síntese, a salvação, de tal forma que aquilo que
havíamos perdido em Adão – isto é, sermos imagem e semelhança de Deus – o
recuperássemos em Cristo Jesus» (199). «Aliás, foi por isso que Cristo passou por
todas as idades da vida, restituindo assim a todos os homens a comunhão com
Deus» (200).
A NOSSA COMUNHÃO NOS MISTÉRIOS DE JESUS
519. Toda a riqueza de Cristo «se destina a todos os homens e constitui o bem de
cada um» (201). Cristo não viveu para Si mesmo, mas para nós, desde a
Encarnação «por nós homens e para nossa salvação» (202) até á sua morte «por
causa dos nossos pecados» (1 Cor 15, 3) e à sua ressurreição «para nossa
justificação» (Rm 4, 25). Ainda agora, Ele é «o nosso advogado junto do Pai» (1
Jo 2, 1), «sempre vivo para interceder por nós» (Heb 7, 25). Com tudo o que viveu
e sofreu por nós, uma vez por todas, Ele está para sempre presente «em nosso
favor, na presença de Deus» (Heb 9, 24).
520. Em toda a sua vida, Jesus mostra-Se como nosso modelo (203): é «o homem
perfeito» (204), que nos convida a tornarmo-nos seus discípulos e a segui-Lo; com a
sua humilhação, deu-nos um exemplo a imitar (205); com a sua oração, convida-nos
à oração (206); com a sua pobreza, incita--nos a aceitar livremente o despojamento
e as perseguições (207).
521. Tudo o que Cristo viveu, Ele próprio faz com que o possamos viver n'Ele e
Ele vivê-lo em nós. «Pela sua Encarnação, o Filho de Deus uniu-Se, de certo modo,
a cada homem» (208). Nós somos chamados a ser um só com Ele; Ele faz-nos
comungar, enquanto membros do seu corpo, em tudo o que Ele próprio viveu na
sua carne por nós, e como nosso modelo:
«Devemos continuar a completar em nós os estados e mistérios da vida de Jesus e
pedir-Lhe continuamente que Se digne consumá-los perfeitamente em nós e em
toda a sua Igreja [...]. Na verdade, o Filho de Deus deseja comunicar e prolongar,
de certo modo, os seus mistérios em nós e em toda a sua Igreja, [...] quer pelas
graças que decidiu conceder-nos, quer pelos efeitos que deseja produzir em nós,
por meio destes mistérios. É neste sentido que Ele quer completá-los em nós»
(209).

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